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Fórum Social Mundial - Especial

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original:


Via Campesina luta pela soberania alimentar


Para representante da organização, a agricultura e a alimentação devem ficar fora dos tratados comerciais

Mauricio Franco


Paul Nicholson, representante basco da Via Campesina, movimento internacional que coordena organizações camponesas de cerca de 87 países, declarou em conferência sobre Comércio Mundial, dentro do Eixo I - A Produção de Riquezas e a Reprodução Social, que a soberania alimentar é um direito universal da humanidade, e que a agricultura e a alimentação não podem ser tratadas como assunto da OMC.

Nicholson vai mais longe. Para ele, a crise da agricultura familiar é universal, uma vez que os preços dos produtos estão abaixo do custo de produção. Segundo o ativista, é necessário que as pessoas tenham autonomia para escolher o que comer, sabendo se um alimento é transgênico ou se uma carne apresenta algum hormônio. "O fenômeno da vaca louca não é inglês, é neoliberal", assinala Nicholson.

Outro ponto de discussão foi a obrigatoriedade que os países têm de importar 5% de produtos alimentícios, "o modelo neoliberal diminuiu a área de produção excluindo os pequenos produtores. É um modelo tóxico, transgênico produzindo merda" ataca Nicholson . Uma proteção e uma priorização do próprio mercado agrário é necessária, pois somente dessa forma pode-se desenvolver uma soberania alimentar.


Da Ciranda da Informação Independente


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Por uma outra Comunicação


A Comunicação e o papel da mídia entraram na agenda do Fórum Social Mundial 2002 com um peso maior do que na primeira edição do evento. Há várias oficinas e seminários organizados por ONGs e movimentos que trabalham com mídia e se preocupam com o papel estratégico dos meios de comunicação na construção de um mundo mais justo e equânime.


Estivemos no Seminário organizado pela ALAI, APC e APRESS na tarde do dia 1, realizado no Clube do Comércio - um dos muitos pontos da capital gaúcha que sediam atividades do Fórum.


O principal ponto destacado pelos palestrantes - Karen Higgs (APC), Sally Burch (ALAI), Sean O Siochrú (Campanha CRIS) e Valerie Peugeot (APRESS) - foi a evidente contradição entre os interesses da sociedade civil e os interesses comerciais dos grandes conglomerados de mídia, além do papel estratégico que a comunicação desempenha nas relações políticas e sociais em todo o mundo. Sally Burch lembrou que o controle sobre os meios de comunicação é fato antigo, mas a mudança que deve ser foco de nossa atenção é  a transformação dos serviços de comunicação e da mídia em um setor da economia, dominado por poucas -e grandes - empresas.


Sean O Siochrú falou sobre a Campanha CRIS - Direito à Comunicação na Sociedade da Informação - e chamou a atenção para o fato de que é necessário que se redefina o que é Sociedade da Informação, para que se possa voltar este conceito para o lado dos Direitos Humanos. O pesquisador afirmou que nas últimas três décadas, o transporte e a mediação do conhecimento e da informação tornou-se um caminho poderoso para controlar a sociedade. Para ele, é hora de afirmarmos o conhecimento como uma herança comum da humanidade. Sean criticou as terminologias utilizadas pelas empresas de informação - especialmente na Internet - que colocam o cidadão na posição de consumidor, ou de usuário passivo, e não um agente transformador em qualquer processo de comunicação.


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Economia Solidária


A Conferência sobre Economia Solidária, realizada na manhã do dia 1º, foi marcada por críticas ao capitalismo e por esclarecimentos sobre o tema da economia de solidariedade.


Os palestrantes afirmaram que as mazelas produzidas pelo sistema de trocas devem chegar a um fim rapidamente. O professor argentino Jose Luiz Coraggio enfatizou a incapacidade dos grandes organismos de financiamento para resolverem os problemas do mundo. "A nota para o atual regime não pode ser outra senão zero", afirmou.


De acordo com o francês Jean Louis Laville, a idéia de economia solidária é antiga. Sociedades de operários da Europa do começo do século 20 já procuravam se socorrer e autogerir. Apesar de reprimidas, essas práticas deixaram marcas na construção do Estado de Direito. Um exemplo é o crescimento da política de bem-estar social. "Hoje o neoliberalismo procura utilizar algumas dessas idéias para combater a pobreza, sem atingir suas causas", alerta.


A economia solidária se baseia na cooperação entre todos os agentes sociais – de trabalhadores a consumidores. A diversidade dessas relações deve ser preservada e estimulada em todos os lugares, segundo os conferencistas. No entanto, ressaltaram a idéia de que os serviços de proximidade – como são chamadas algumas práticas européias – não devem ocupar nichos ou tornarem-se complementares à economia atual. "A economia solidária não é uma terceira via, um terceiro setor. Na verdade, queremos construir juntos a micro e a macroeconomia mundial", afirmou a também argentina Carola Rodrigues.


Para levar essa idéia adiante, são necessárias muita paciência e rediscussão dos papéis, principalmente das mulheres, como ressaltou a peruana Rosa Guillén, pois elas seriam ainda mais prejudicadas com as práticas sociais atuais. Ainda assim, já mostraram em diversas oportunidades a viabilidade da economia solidária – que, como afirmou Carola, é uma marcha silenciosa "que faz o caminho de outro mundo que é mais que possível".


Graciela Selaimen e Marcelo Medeiros

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