Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça: foi no melhor estilo Cinema Novo que se baseou o projeto Se Ame em Close, realizado durante cerca de um ano pela organização Imagem Comunitária, organização mineira que desenvolve diversos projetos em comunicação e mídia. A iniciativa contou ainda com a participação dos parceiros Ciame (Centro Integrado de Atendimento ao Menor) Flamengo, Grupo de Pais dos Educandos do Ciame Flamengo, Associação Imagem Comunitária e Instituto Félix Guattari. A idéia do Se Ame em Close era capacitar jovens de nove a quatorze anos, moradores da comunidade de Alto Vera Cruz, (região carente de Belo Horizonte) para a realização de vídeos. Assim, eles poderiam utilizar os conhecimentos adquiridos para retratar o ambiente em que vivem e, além disso, ocupariam seu tempo e mentes com uma atividade artística e produtiva, diminuindo as chances de partirem para a criminalidade. O objetivo foi alcançado: o trabalho resultou no vídeo “Ande sempre gravando e olhando pra frente porque uma parada pode ser fatal”, produzido pelos participantes do projeto e lançado em dezembro último.
As crianças e adolescentes que estiveram no projeto são normalmente atendidas pelo Ciame Flamengo e participaram, durante 7 a 8 meses, de uma oficina de vídeo e de atividades vivenciais com analistas do Instituto Félix Guattari. As aulas – que aconteciam duas vezes por semana - enfocavam enquadramento, manejo de câmeras, edição e outras noções básicas da linguagem audiovisual. “Depois deste período das oficinas, os alunos saíram às ruas para registrar em vídeo o seu próprio dia-a-dia, captando o que mais chamava a atenção deles ou o que eles consideravam merecedor de destaque na comunidade”, conta Valéria de Paula, jornalista integrante da Imagem Comunitária.
Os diferenciais desse projeto são dois: o primeiro reside no fato de os próprios jovens terem o poder de decisão sobre o que deveria ou não ser filmado e a edição do que iria figurar no vídeo. “Não havia nenhum pré-conceito de certo ou errado. Nós apenas ensinamos a eles a parte técnica e o que poderia ser feito com os recursos que eles tinham. Não havia certo ou errado, eles eram livres para fazer o que quisessem com a câmera”, ressalta Valéria. O segundo é justamente o fato de o material produzido retratar a ótica dos jovens moradores do Alto de Vera Cruz, que registraram o seu dia-a-dia. Assim, o vídeo é ao mesmo tempo uma obra artística e um documento de cidadania, em que crianças e adolescentes pobres puderam mostrar através das lentes sua visão sobre o que é mais significativo naquela comunidade e, de certo modo, manifestar suas críticas, desejos e pontos de vista.
Os grupos culturais e pessoas entrevistados pelas crianças e adolescentes para o vídeo incluem o Meninas de Sinhá, grupo de mulheres que preserva a tradição das cantigas de roda; Netinhas de Sinhá, Capoeira Angola Meninos de Palmares - que funciona dentro do Ciame há 20 anos; Negros da Unidade Consciente - N.U.C, Maculelê (dança que teve origem em uma briga entre negros e índios), Capoeirarte Brasil; além dos monitores, alunos e ex-alunos do Ciame,
O Se Ame em Close é mais uma das realizações da Imagem Comunitária, que se define como organização atuante nas áreas de comunicação comunitária e educação midiática, desenvolvendo oficinas e pesquisas, produzindo programas de rádio e vídeo/televisão, prestando consultorias e assessorias. O início de seu trabalho foi com o projeto TV Sala de Espera, uma TV comunitária realizada de 1993 a 1997, na região nordeste de Belo Horizonte. Desde então, o grupo não parou mais. Sediada em Belo Horizonte, a instituição conta com cerca de 20 profissionais - entre jornalistas, uma psicóloga, radialistas e outros profissionais de comunicação. Todos os seus projetos pretendem levar aos mais diversos segmentos sociais o uso das comunicações, criando novas experiências em mídias de acesso público, promovendo cidadania através destes processos.
A instituição tem no currículo diversos programas para TVs comunitárias - em favelas, escolas públicas e comunidades pobres -, programas para o Canal Saúde (mantido pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz); além de cursos e oficinas na área. Além disso, a Imagem Comunitária desenvolve projetos de fomento a rádios e TVs comunitárias – como o realizado no Se Ame em Close – já tendo realizado iniciativas junto aos usuários de serviços de saúde mental de BH, moradores de rua, jovens do interior de Minas, entre outros.
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre as atividades da organização pode visitar www.aic.org.br. Além disso, os interessados em assistir ao vídeo “Ande sempre gravando e olhando pra frente porque uma parada pode ser fatal”, podem solicitar uma cópia à Imagem Comunitária, através do email aic@aic.org.br ou pelo telefone (31) 3222-2575.
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