Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
O desemprego é um problema que parece eterno no Brasil. Estudiosos aparecem com soluções mirabolantes que poucas vezes dão certo e iniciativas simples, muitas vezes, são ignoradas – apesar de sua eficiência. O trabalho cooperativo é uma delas. O número de cooperativas no Brasil vem crescendo nos últimos anos e muitas têm apresentado novas formas de trabalho e renda para pessoas desempregadas. Para estimular e fazer crescer esse tipo de organização foi inaugurada recentemente a Rede de Centrais de Serviços (RCS).
O Centro de Assessoria ao Movimento Popular (Campo) dá apoio a 13 centros de formação profissionalizante no estado do Rio de Janeiro, todos eles geridos pelas comunidades onde estão localizados. Entretanto ambas as partes sentiam falta de iniciativas de fomento ao trabalho e à geração de renda para as pessoas oriundas dos cursos. Durante 2001, conversas entre líderes comunitários e o Campo resultaram na criação de quatro núcleos de cooperativas. As comunidades de Jardim Primavera, em Duque de Caxias; Conjunto da Marinha, em São Gonçalo; Penha e Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, foram beneficiadas. Surgiu, então, a idéia de criar uma rede formal de cooperativas – uma “cooperativa intercomunitária”.
Foram seis meses de reuniões semanais entre líderes locais e assessores do Campo, com assessoria da empresa júnior de administração da PUC-RJ, para elaborar um plano de negócios. Os líderes, então, voltavam para suas comunidades e aprovavam lá as decisões. Na semana seguinte, traziam respostas e sugestões. Ficou decidido que a RCS funcionaria com assembléias bimestrais em que os participantes se reuniriam para trocarem experiências e prestarem contas. Todo mês, cada centro se reuniria para fazer o mesmo localmente.
A RCS conseguiu um espaço, cedido pelo Sindicato dos Ferroviários do Rio de Janeiro, para instalar sua sede e iniciar os trabalhos. Ela foi fundada oficialmente em 25 de janeiro, mas já engatinhava antes disso. Pessoas jurídicas e físicas podem contratar serviços das cooperativas por intermédio da Rede de Centrais de Serviços, que já enviou sua primeira mala direta para 400 cadastrados. Outra medida tomada é a elaboração de orçamentos para clientes em potencial.
Os trabalhos serão divididos segundo a proximidade da cooperativa com o cliente – quando o orçamento não for alto. Em caso de demandas maiores, será feito um rodízio entre as comunidades. No final do ano, havendo lucro, ele será repartido de acordo com o desempenho de cada cooperado ao longo do período. Para proteger os trabalhadores da freqüente precarização do trabalho em muitas cooperativas, todos os contratos prevêem benefícios como férias remuneradas e décimo-terceiro pro labore.
Mas também há dificuldades. “Muitas cooperativas surgem de cima para baixo, como forma de liberar os patrões de pagar direitos aos trabalhadores, por isso é preciso estar muito envolvido com esse projeto, que nasceu das comunidades”, diz Dayse Valença, assessora do Núcleo de Trabalho e Renda do Campo. “Temos um desafio de mobilizar as pessoas e fazê-las acreditar na cooperativa. Elas geralmente estão acostumadas à submissão e não ao empreendedorismo. Por isso precisamos tirar os óculos de empregado e colocar os de empreendedores”, complementa.
Neste ano, pelo menos mais quatro núcleos de cooperativas de comunidades de baixa renda assessorados pelo Campo devem entrar na Rede Centrais de Serviços. Entre as idéias dos organizadores da RCS está a realização de trabalhos comunitários e a promoção de eventos de discussão nas comunidades para estimular os cooperados e trazer benefícios para a região.
As cooperativas não trazem apenas vantagens econômicas e sociais. Há um aprimoramento pessoal também. “As pessoas começam a interagir com setores com os quais nem pensavam em se aproximar. Dessa forma, se tornam mais criativas e felizes na execução do trabalho”, fala Valença. Além disso, há lições de democracia, pois todas as decisões são tomadas assim, por votação em assembléias. E tudo coopera para a construção da cidadania dos moradores de comunidades de baixa renda.
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