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Um 'pot-pourri' de ações

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Saúde, gênero, comunicação, agricultura, responsabilidade social. É difícil definir qual é a natureza das ações da Minga Peru, uma organização peruana que se declara atuante na luta por justiça social e dignidade humana. Na prática, o trabalho se baseia na comunicação e na educação para melhorar a qualidade e acessibilidade à informação sobre saúde pública para a população indígena pobre de regiões isoladas do Peru, promovendo, assim, a justiça e dignidade pretendidas. Para isso, a estratégia é criar condições de maior igualdade e liderança na região da Amazônia peruana, executando projetos integrais de comunicação e capacitação que se complementam com programas de manejos de recursos naturais e geração de receita.


Seus projetos e ações envolvem todos os temas já citados e um pouco mais, tomando as mais variadas formas. Uma das principais atividades é a produção de material didático e a realização de oficinas no Centro de Capacitação e Liderança Tambo Minga, no rio Marañón. Os temas das oficinas vão desde direitos humanos, geração de receita, auto-estima, violência familiar, saúde preventiva, saúde reprodutiva e medicina tradicional. Através das oficinas, são formadas promotoras comunitárias, voluntárias que estimulam a participação do povo na tomada de decisões sobre a sua própria saúde, fertilidade e bem-estar social. As promotoras replicam, depois, as noções aprendidas, o que acaba rendendo às promotoras um papel de liderança nas suas comunidades. O maior desafio para a Minga Peru é produzir material didático sobre questões de saúde em uma linguagem adequada e palatável para os habitantes da região, usando termos simples, mas efetivos.


Esse – a realização de oficinas – não é o único meio de formação de promotoras. Outro canal utilizado divide com as oficinas o posto de prata da casa: o programa de rádio “Bienvenida Salud”, que trata de temas ligados à saúde da mulher. O programa, educativo, chega a 800 mil ouvintes na região da Amazônia peruana. Já foram ao ar mais de 520 edições, conquistando um público cativo que envia centenas de cartas para a produção do programa. “A participação de homens e mulheres através destas correspondências, entrevistas, visitas espontâneas ao escritório do programa e constantes viagens ao campo fazem com que eles compartilhem suas experiências e expectativas sobre os temas abordados”, destacam os organizadores da Minga Peru, que conta com uma equipe fixa de 12 pessoas e com uma equipe assistente com sete membros.


Os outros temas abordados nas capacitações e nos projetos da Minga Peru dizem respeito a agricultura, piscicultura, projetos agroflorestais, costura, criação de aves e demais formas de subsistência, cuja intenção direta é fortalecer as formas de trabalho e empoderamento da comunidade. O projeto de “Agroflorestamento”, por exemplo, defende a aplicação de um sistema agroflorestal que responde às expectativas econômicas e capacidades dos agricultores para o trabalho baseado nos recursos que estão ao seu alcance. O sistema é implantado por homens e mulheres e tem sua origem na tecnologia tradicional. “O modelo é potencialmente comercial, tanto na agricultura migratória como na recuperação de terras degradadas”, explica Eliana Elias, diretora-executiva da entidade.


Já o programa de “Aquacultura Amazônica” tem como principal mérito a construção de viveiros de peixes com base em tecnologia apropriada, que respeita o meio ambiente e é uma alternativa para a segurança alimentar. Esta técnica, que vem sendo implementada por mulheres e famílias, possibilita ainda a possibilidade de comercializar peixes nos mercados locais, gerando, assim, receita para essas pessoas.


A responsabilidade social é outra linha de trabalho que tem recebido atenção da organização, mesmo que ainda embrionariamente. O trabalho está relacionado com a falta de investimento social orientado para a formação de liderança com igualdade de gênero na região amazônica peruana. O trabalho está sendo feito através da descentralização da informação, propiciando o encontro e impulsionando uma cultura da responsabilidade social. A intenção é conseguir uma maior eficiência no emprego dos recursos sociais, econômicos e humanos, além de contribuir para a realização de redes fortalecedoras do tecido social. “Conseqüentemente, atingimos uma democracia deliberativa e solidária”, adiciona Eliana.


A Minga Peru tem ainda, entre suas atividades, a realização da pesquisa “Percepción de los servicios de salud reproductiva en las comunidades del río Marañón: una mirada desde las mujeres”, feita em 2000. O trabalho foi um insumo importante para a reflexão sobre as particularidades culturais dos temas de trabalho e o modo de intervenção. Com a pesquisa, a organização conseguiu informações direto da fonte “as quais estamos dispostos a compartilhar com os setores de saúde e educação”, afirma Eliana.


Todo esse trabalho é apoiado, desde a criação da Minga Peru, há quatro anos, pela Ford Foundation, AVINA, Amazonian People Resources Initiatives, American Jewish World Service, Fundação Ashoka, Funding Exchange e Mama Cash.


Maria Eduarda Mattar

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