Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Se os projetos Sementinha, Ser Criança, Bornal de Jogos e Bornal de Jogos da Paz respondem às necessidades educativas identificadas pelo CPCD, utilizando a cultura própria dos educandos, os projetos Fabriquetas e Cooperativa Dedo de Gente respondem às necessidades de trabalho e geração de renda, entendendo a cultura também enquanto matéria-prima de desenvolvimento. A primeira das fabriquetas (ou núcleos de produção de tecnologias populares) foi para manufatura de sabão, fazendo nascer junto a Pedagogia do Sabão. Aos poucos foi iniciada a produção de diversos outros produtos de fácil aprendizado e confecção, criando oportunidades de trabalho a partir "dos saberes, fazeres, soluções e alternativas comunitárias" e gerando rendas para jovens e, principalmente, mulheres. Hoje em dia, com a fabricação de: doces cristalizados, geléias, compostas, licores, emabalagens, bornas, brinquedos, adornos de ferro e maderia, cestas e cerâmica. De acordo com o relatório de atividades do projeto, realizado no meio de 2001, participavam das fabriquetas naquela época um total de 21 pessoas divididas em 6 unidades de produção.
Dentro do projeto já foram criadas 1.700 tecnologias populares de produção, todas com a utilização de elementos típicos da regão do vale do Jequitinhonha, onde funcionam as fabriquetas. Por exemplo: frutas nativas do cerrado ( pequi, araticum, jenipapo, cagaita, umbu etc) dão origem a compotas, licores e geléias. Casca de pinus e aparas de madeira rendem cestas e os mais diversos objetos artesanais. Restos de rodas de trator ganham formas de castiçais e fruteiras. Terra de formigueiro é a base da tinta que pinta muitas das embalagens. E por aí vai. Mas, como comercializar ordenadamente os produtos das fabriquetas? A cooperativa Dedo de Gente nasceu justamente para responder a essa pergunta. Sediada no número 65 da Praça do Santuário, em Curvelo e dirigida por jovens, a Dedo de Gente reúne e vende a produção das fabriquetas.
A mobilização comunitária também é objeto de mais três projetos do CPCD: Agentes Comunitários de Educação (ACE), Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Polícia Solidária. O primeiro é quase uma reciclagem de pessoas, na medida em que encontra nova função social para recrutas dos Tiros de Guerra. Estes são unidades do Exército, existentes somente nas cidades com mais de cem mil habitantes onde não existem quartéis militares. Os recrutas normalmente passam cerca de dez meses nesta unidades, segundo Tião, "aprendendo um monte de besteiras, como atirar, se embrenhar na selva etc". O coordenador do CPCD viu que o tempo livre dos rapazes poderia ser aproveitado, capacitando os voluntários para atuarem protagonicamente na comunidade. A proposta foi feita à direção do Tiro de Guerra de Curvelo e lá nasceu a primeira unidade dos Agentes Comunitários de Saúde. Gradativamente, novas unidades estão aderindo e o projeto já está presente também em Divino, Governador Valadares, Jequitinhonha, Varginha e Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais; e Codó, no Maranhão. A meta é, em dez anos, atingir os 235 Tiros de Guerra do país, envolvendo um potencial de mais de 27 mil jovens.
"Os jovens que se tornam agentes comunitários de educação acabam ganhando uma importância maior dentro da comunidade e isso faz bem a eles, pois se vêem úteis e agentes de multiplicaçao de conceitos de ética e cidadania", comenta Tião. As turmas de agentes já criaram coisas novas, como o Dia da Solidariedade, envolvendo toda a comunidade e o Banco do Livro, que funciona como um banco normal, em que as pessoas depositam e retiram livros.
Projeto semelhante, porém com outro foco, é o Agentes Comunitários de Saúde, realizado em parceria com o Governo do estado do Maranhão. A intenção é capacitar os agentes regulares da Secretaria Estadual para atuarem como educadores sociais de crianças, adolescentes e adultos e como agentes de desenvolvimento comunitário de saúde. O Estado estava passando por uma experiênca em que o número de agentes aumentava, porém os resultados não cresciam na mesma proporção. Os 8 mil agentes envolvidos no projeto passam por uma revisão de conceitos e são treinados para ver seu trabalho não sob a ótica da doença e, sim, pela ótica do educador em saúde. "Normlamente, os agentes faziam as visitas para passar receitas e não para aprender e instruir as mães a cuidarem da saúde de suas famílias", indigna-se Tião. Segundo ele, esse projeto foi implementado também no sul da Bahia, com o cunho um pouco mudado, mais voltado para a inclusão social.
Finalmente, o projeto Polícia Solidária é mais uma forma de criar interação entre um determinado grupo e a comunidade. Desenvolvido em Belo Horizonte, tem como parceiros a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, a Polícia Militar e o Bombeiro Militar de Minas Gerais. Os cadetes - alunos da Academia da Polícia Militar e do Bombeiro Militar - são treinados a se relacionar com a comunidade com olhar de educador, além do de policial. "Posteriormente, a idéia é envolver nessas oficinas - de duração total de 40 horas - os praças (policiais que atuam diretamente na rua) e com os próprios oficiais professores da Academia", falou Tião Rocha, já se preparando para recepcionar a diretora da Área Social do BNDES, Beatriz Azevedo, que visitou esta semana o escritório curvelano do CPCD. Além de iniciativas bem encaminhas e métodos originais, a representante vai encontrar por lá pessoas que enxergam um copo meio cheio e não se cansam de fazer perguntas.
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