Você está aqui

Os jovens e o consumo sustentável - construindo o próprio futuro?

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original:

Esta pesquisa foi realizada no Brasil, em novembro do ano passado, pelo Instituto Akatu e pela Indicator Opinião Pública, com base no estudo Is the future yours?, da Unesco e do Pnuma – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, aplicado em 24 países da África, Ásia, Europa, América do Norte, América Latina e Austrália, entre julho e setembro de 2000. Em todos os países, o intuito foi conhecer melhor os hábitos de consumo e a visão de mundo dos jovens.


Conclusões


Embora não estivesse entre seus objetivos fazer uma projeção acabada sobre o comportamento da juventude, a pesquisa “Os jovens e o consumo sustentável – construindo o próprio futuro?”, realizada no Brasil e no mundo, permite traçar esboços e, principalmente, fazer uma primeira sondagem de como se manifesta a consciência de nossos jovens acerca do consumo comprometido com o desenvolvimento sustentável.

Assim, ao analisar esse conjunto de respostas, devemos atentar para a multiplicidade de enfoques e interpretações possíveis, que evidencia os limites desse instrumento e não oferece condições para que seja definido um único perfil para os jovens da atualidade. Ainda assim, a pesquisa aponta resultados bastante esclarecedores do comportamento e da visão de mundo da juventude contemporânea. Eles servirão de cenário para a elaboração de ações voltadas para esse público, de modo a estimular e consolidar suas práticas de consumo consciente e sustentável.

A imagem do jovem brasileiro que pode ser traçada a partir dos dados deste relatório não é muito diferente da imagem dos jovens de outros países. Num mundo altamente competitivo, os jovens de hoje preocupam-se predominantemente com seu futuro profissional. Essa preocupação desloca o peso do binômio educação/carreira utilizado na pesquisa para o segundo termo. A questão passa a ser mais técnica do que cultural: a necessidade do diploma é maior do que a de leitura.

Assim, os jovens da pesquisa parecem caminhar sozinhos e solitários em direção a esse objetivo. A organização social e a política não são instrumentos com os quais eles contam. As saídas são individuais, compostas por pequenas ações, capazes de transformar suas vidas, mas sem a pretensão de uma transformação que vá além das questões que os atingem mais imediatamente. Não se pretende com isso afirmar que os jovens entrevistados sejam alienados ou que não tenham consciência do mundo em que vivem. O que se conclui apenas é que não se coloca, para eles, a responsabilidade por essas transformações, como já o fez a juventude de outras épocas.

Outro dado interessante diz respeito ao impacto que os jovens atribuem às suas ações no mundo. A forma como viajam, as roupas que compram, o uso dos recursos naturais, seu lazer e seu trabalho, são por eles avaliados como ações que, com exceção do lixo que jogam fora, pouco afetam o meio ambiente. Mais do que isso: é muito significativa a parcela que acredita que nenhuma dessas ações impacta o planeta. Eles reconhecem o impacto social e ambiental do uso e descarte de produtos, mas não refletem sobre o processo de produção e consumo ao escolherem os bens que consomem, assim como não pensam no desgaste ambiental ou nas implicações sociais relacionados à fabricação dos produtos que compram.

No entanto, o consumo consciente é um valor presente para esses jovens e a preocupação com o meio ambiente é apontada por 50% dos entrevistados como um critério decisivo de compra. Ainda que se possa questionar essa afirmação no momento da compra, o fato é que ela reflete uma boa dose de sensibilização para esse valor.

Ao avaliarem os principais desafios colocados para os próximos anos, a questão do emprego, juntamente com a da saúde, são as de maior importância. Em todos os países, o desemprego é questão central, e sem a melhoria da saúde não há como transformar a qualidade de vida. Mas encarar os desafios de reduzir a pobreza, a poluição, o trabalho infantil e a diferença entre ricos e pobres também é importante para aproximadamente 50% deles. Despontam aí – e esse é um resultado bastante animador – as evidências do acúmulo já alcançado nessa questão: os jovens têm consciência de que a humanidade precisa mudar e que é imprescindível a redução das desigualdades para que essas transformações resultem na preservação do planeta.

Os jovens pesquisados não avaliam que a propaganda os manipule, nem se declaram deslumbrados por ela. Acreditam que ela é um esforço necessário das empresas para que os consumidores possam ter informações suficientes sobre os produtos – e, de posse delas, consideram-se livres para escolher. Consideram-se consumidores conscientes e não acham que pratiquem um consumo desenfreado, nem que sejam influenciáveis. Mas a declaração de mais de um terço dos jovens brasileiros entrevistados de que essa é a primeira vez em que pensam sobre a forma como consomem demonstra que muito há para ser feito para que o consumo sustentável seja uma prática de fato internalizada.

A íntegra do relatório com os resultados da pesquisa está disponível aqui para download.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer