Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() ![]() ![]() ![]() ![]() Rodrigo Belchior ![]() | ![]() |
"O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra".
– Heitor Villa-Lobos
A alma desta terra se revela na música dos meninos e meninas de um projeto que homenageia o maestro Heitor Villa-Lobos e dá vazão a sons – e sonhos – bem brasileiros. Nascido de uma doação de um milhão de reais ao Viva Rio pelo banqueiro Walter Moreira Salles, que determinou a aplicação do dinheiro na formação de jovens instrumentistas de comunidades de baixa renda, o Projeto Villa-Lobinhos, em seu terceiro ano de vida, já é responsável por 26 novos talentos e cidadãos. Seu filho, o cineasta João Moreira Salles, assumiu o projeto e decidiu convidar o violonista Turíbio Santos para participar. Turíbio, que já havia iniciado um trabalho social com crianças do Morro Dona Marta, na Zona Sul do Rio de Janeiro, convocou o flautista Rodrigo Belchior para ser um dos coordenadores. Em janeiro de 2000, depois de meses de seleção em diversas comunidades da região metropolitana carioca, 120 crianças e adolescentes estiveram reunidos para o primeiro encontro organizado pelo projeto, no Museu Villa-Lobos. Nele foram selecionados nove jovens, que passaram a receber diariamente uma bolsa-auxílio de R$ 30, aulas práticas e teóricas de música, além de orientação escolar e alimentação, em uma casa anexa ao Instituto Moreira Salles, na Gávea. Nos anos seguintes, novas seleções foram feitas, até que o número de participantes chegou aos 26 atuais.
"As aulas individuais são diárias. Quem estuda à tarde vem para cá de manhã – e vice-versa. Aos sábados, fazemos uma aula coletiva. Nós ensinamos música clássica e popular, principalmente música brasileira, o choro e o resgate de sambas antigos que não se gravam mais", conta Rodrigo. Entre os professores estão músicos como o percussionista Ricardo Costa e o flautista Andrea Ernest Dias. Em geral, os meninos começam tocando violão, percussão, cavaquinho ou flauta doce. Com o tempo, passam a conhecer outros instrumentos e amadurecem a idéia de aprender a tocá-los.
Quase todos os jovens são oriundos de programas sociais em suas comunidades. Nas duas semanas de duração dos encontros, o comportamento de cada um e o interesse em viver de música são levados em conta. "O critério para a escolha é o esforço, é ser estudioso, é querer mesmo ser músico", explica o coordenador. E quem entra não estuda apenas para ser um bom instrumentista. "Nós damos orientação escolar como forma de suprir as necessidades e eventuais carências da escola. Um professor vem aqui duas vezes por semana e fica durante todo o dia, para atender os alunos no que for preciso. E também conseguimos, através de um convênio com o IBEU, quatro bolsas de estudo de inglês".
O projeto também vem procurando reunir um acervo suficiente para formar uma biblioteca para os alunos. Por isso, além de instrumentos usados e partituras, doações de livros são muito bem-vindas. "A gente quer que eles adquiram o hábito de ler e estudar", diz Rodrigo, ele próprio um morador de comunidade que descobriu um novo mundo através da música. O início foi justamente no projeto criado por Turíbio Santos no Morro Dona Marta. Da flauta doce, Rodrigo passou para a flauta transversa e conseguiu uma bolsa para estudar na Escola Brasileira de Música. Tornou-se um profissional, passou a dar aulas e vai concluir no fim do ano o curso de música da Uni-Rio. "A minha satisfação no Villa-Lobinhos é ver essa ‘galera’ tendo a mesma oportunidade que eu tive. O que falta, hoje em dia, é oportunidade. E falta muito", afirma.
As emocionantes apresentações do grupo reúnem um repertório que vai de Luiz Gonzaga a Bach, da bossa nova à música barroca, passando, naturalmente, por obras do patrono, como O Trenzinho do Caipira. Mas quem pretende conferir o talento dos meninos vai ter de esperar um pouco. No momento, a agenda está suspensa, para não comprometer o desempenho escolar. No final deste ano, os primeiros alunos – os nove pioneiros de janeiro de 2000 – deixam o grupo. Já estão todos bem encaminhados: uns fazem cursos de extensão em universidades, outros dão aulas em projetos sociais e há os que montaram grupos de choro. Uma nova seleção está marcada para janeiro de 2003.
Serviço:
Quem desejar fazer doações para o Projeto Villa-Lobinhos pode entrar em contato com Rodrigo Belchior pelos telefones (21) 2540-5890 e (21) 9956-0475.
Clique aqui para ouvir uma versão de Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) na interpretação dos Villa-Lobinhos. Para ouvi-la é necessário ter instalado em seu computador o programa Real Audio Player.
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