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Em busca de uma sociedade saudável

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Artigos de opinião

* Juliana Cesar

A tão aguardada e festejada sociedade moderna do século XXI enfim se transformou em presente, mas está bastante aquém dos ideais de igualdade, paz e justiça que lhe costumavam ser associados.

É verdade que vivemos agora a era em que os direitos individuais são os mais reafirmados e garantidos. A sociedade de hoje possui maior noção de seus direitos civis e políticos, embora o mesmo ainda não seja verdade quanto aos meios para demandá-los. O problema é que esta superficial valorização das garantias individuais serve, infelizmente, de mera máscara para o vasto desrespeito aos direitos econômicos, sociais e culturais. Estes permanecem ignorados pela ampla maioria da população, que não tem ainda consciência plena da interdependência entre todos os direitos humanos.

Deste modo, a sociedade se brutaliza, num verdadeiro retorno ao meio de vida do homem contra o homem, no qual o indivíduo é bom (ou “não-inimigo”) unicamente na medida da sua utilidade. Anula-se a singularidade do ser humano em prol do que se pode obter com ele.

Geramos, assim, uma sociedade excludente, que valoriza apenas a posse, no seu sentido mais amplo, dos bens de consumo ao conhecimento, mas que não abre oportunidades para que todos venham a possuir. Os que detêm o poder não desejam compartilhá-lo, e os excluídos não dispõem de meios de modificar sua realidade. Os resultados desta equação tão desigual se estampam diariamente nas ruas, com o aumento dos índices de concentração de renda, miséria e, conseqüentemente, criminalidade.

Chegamos a um recrudescimento tão intenso que se apresenta inevitável a necessidade de repensar o modelo social em que estamos inseridos. Por um meio ou por outro, a clamor dos excluídos se tornou tão incômodo para as classes mais favorecidas, das quais muitos já foram convertidos em vítimas da violência que antes se esforçavam em ignorar.

É premente a valorização de igualdade e da oportunidade como base de uma sociedade saudável. Mesmo que se analisem as ações tomadas nesse sentido com a ótica pessimista de que não passam de mera manobra para aliviar a tensão social e prolongar o lucrativo sistema de exclusão, não há como negar que uma mudança começa a se operar. A sociedade se organiza na busca de condições dignas de vida para todos, e reconhece no ser humano o ponto de partida para estabelecer um novo paradigma social. Ao sistema de exclusão, contrapõe-se a valorização do conceito de solidariedade social. Ao assistencialismo paternalista, opõe-se, embora timidamente, uma proposta de voluntariado consciente.

Esse movimento de reafirmação do bem-estar do ser humano como referencial para construção de uma sociedade não admite retrocesso. O povo já demonstrou diversas vezes que não admite abrir mão de suas conquistas, e essa parece ser uma de suas mais caras.

* Juliana Cesar é membro da Equipe de Monitoramento do Sistema de Justiça e Segurança do Gajop – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares





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