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Violência sexual em pauta

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

O recém-lançado "O Grito dos Inocentes" é o mais novo estudo realizado pela  Andi e pelo Instituto Ayrton Senna, com apoio da Unicef, da Fundación Arcor e do Instituo WCF-Brasil. A pesquisa analisa a cobertura da imprensa nacional acerca da exploração e do abuso sexual infantil, com base em 49 jornais monitorados, 718 textos analisados dentre 3.717 textos clipados no período entre o ano 2000 e o primeiro semestre de 2001. No balanço final, o trabalho revelou que as peças jornalísticas cobrindo a violência sexual contra crianças e adolescentes melhorou tanto quantitativa quanto qualitativamente. A pesquisa é quase uma continuação do trabalho iniciado com o estudo "Balas Perdidas", de 2001, que analisava a cobertura da imprensa quanto à violência relacionada a crianças, fossem vítimas ou agressoras. O editor-executivo da pesquisa, Rubens Amador, chama atenção para um fato inusitado: "É curioso notar que a cobertura desse tema, que é um pouco tabu, clandestino, obteve uma média maior do que a cobertura da violência em geral, analisada no ano passado".

O editor acredita que, justamente por ser clandestino, o tema chama atenção e a imprensa faz um esforço em dar visibilidade aos fatos. A análise dos textos seguiu três eixos principais: Contexto, Políticas Públicas e Exploração e Abuso Sexual como Fenômeno Social e Psicológico. Estes eixos são importantes pois, na opinião dos realizadores da pesquisa, não basta reportar o fato, pura e simplesmente. A imprensa deve dar um tratamento mais aprofundado, contextualizando o fato e, se possível, discutindo causas e propondo soluções e a discussão de políticas públicas. "A cobertura ainda está abaixo do que pode ser, tanto sob a ótica investigativa, na análise do fenômeno social, não só encarando como fato violento. É preciso ver causa, consequência e atendimento, tanto para as vítimas quanto para os agressores".

Amador toca num ponto que a maioria das pessoas, levadas pela revolta com os fatos e suas vítimas, passa por cima: a necessidade de tratar as notícias com sobriedade, abordando os temas sob os aspecos médico, social e cultural. "Nós notamos que os jornalistas têm uma tendência a julgar e fazer juízo de valor. É natural, pois a pedofilia não é aceita culturalmente. Mas é necessário lembrar que o agressor também é um ser humano, precisa ter direito à defesa e não pode ser pré-condenado pelos jornais." Para evitar erros como este, Amador considera ideal que a imprensa elabore matérias que transcendam os fatos, que envolvam todos os aspectos já citados anteriormente.

Outro ponto levantado pela pesquisa é a necessidade de diversificação das fontes acerca dos crimes enfocados. Normalmente, as matérias têm se baseado nas informações da polícia e nos boletins de ocorrência, segundo a pesquisa. Somente 6,7% delas citam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e 14,6% citam leis relativas aos crimes. "Quando os boletins de ocorrência passam a ditar a pauta, a tendência é a qualidade cair".

Como aspectos positivos, o editor menciona a progressão com que notícias relacionadas à infância e à juventude têm figurado nas revistas e jornais e atribui ao ECA um pouco do mérito desse crescimento: "O ECA, editado em 1990, foi um divisor de águas. O número de matérias tratando de um dos temas principais relativos à criança - Educação, Violência, Saúde, Direitos e Justiça e Terceiro Setor - cresceu 608% desde 1996, quando começamos a fazer o monitoramente dos veículos". Segundo ele, em 97, o crescimento foi de 16%; no ano seguinte, de 24%; em 99, o aumento foi de 48%; em 2000, o percentual foi de 64%; até que, em 2001, foram 75.797 inserções relacionadas à infância e juventude, nos veículos monitorados pela Andi. Nada mal.

Os interessados em adquirir a pesquisa, podem entrar em contato com Camila Melo, na Andi, pelo e-mail adm@andi.org.br ou pelo telefone (61) 322-6508. No site da Andi, também há mais informações sobre a pesquisa.


Maria Eduarda Mattar

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