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De agricultor para agricultor

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

A agricultura familiar pode trazer, através de práticas agroecológicas, benefícios para o ecossistema da região cultivada e para as próprias famílias. Mas ainda há muito o que ser feito para a valorização e difusão dos processos familiares de sistemas de cultivo com base na agrobiodiversidade – que é a união entre agricultura ecológica e conservação e resgate da biodiversidade.


O convênio firmado no último dia 25, entre o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) pretende aumentar a adoção das práticas voltadas para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade entre os agricultores familiares em dois biomas brasileiros - no Paraná e na Paraíba. Esse convênio é um desdobramento de um projeto do Funbio - "Sustentabilidade socioambiental e conservação da biodiversidade em agroecossistemas familiares"-, realizado em várias regiões do Brasil. "Com esse convênio, estamos ampliando a área de abrangência do projeto, envolvendo mais municípios e famílias", diz Arminda Campos, Coordenadora de Fomento do Funbio. Os recursos mobilizados pelo convênio – que somam um valor de R$ 3,3 milhões – vão beneficiar 22 municípios no centro-sul do estado do Paraná e 14 municípios no agreste do estado da Paraíba. São regiões caracterizadas pela presença significativa de unidades de produção agrícola de base familiar e com efetivos remanescentes de recursos da biodiversidade. De acordo com o convênio, nos próximos três anos - período em que o projeto será desenvolvido - haverá ampla disseminação dessas práticas de agricultura entre comunidades rurais, produtores, organizações e governos locais.


A explicação sobre a importância da agricultura familiar para a conservação da biodiversidade é muito simples: "As áreas sob propriedade de agricultores familiares possuem mata nativa muito mais conservada. As empresas agrícolas e os latifúndios realizam muito mais práticas não-ecológicas, utilizando, por exemplo, sementes industrializadas e fertilizantes", afirma Arminda. O fortalecimento desses processos familiares será feito, inclusive, através da valorização dos conhecimentos tradicionais dos agricultores, no trabalho de identificação e resgate de variedades locais de diferentes espécies de sementes mais adequadas para o cultivo, com a utilização de técnicas que também conservam a flora nativa da região. Além de garantir os recursos naturais para as próximas gerações, a diversificação de espécies nativas e cultivadas, o projeto possibilita a melhora da renda familiar, proporcionando aos pequenos agricultores condições de vida mais digna, e preparando-os para as instabilidades do mercado.


A AS-PTA, que já tem experiência nesse tipo de trabalho com os agricultores familiares desde 1993, é a responsável pela execução do projeto, enquanto o Funbio financia e acompanha o seu desenvolvimento. Entre as atividades da AS-PTA, está prevista a consultoria técnica de engenheiros agrônomos junto a sindicatos, associações de agricultores, grupos informais e prefeituras, e fomento de insumos para experimentação - como mudas, sementes, corretores de solo e material para criação de viveiros.


O programa também inclui a formação de agricultores para se tornarem capacitadores de outros agricultores. Esta é uma proposta inovadora, pois valoriza a capacidade dos agricultores de atuarem de forma organizada e autônoma no enfrentamento de seus próprios problemas, e de assumirem um papel mais ativo no processo de formulação e implementação de políticas públicas locais. A idéia é formar redes de multiplicação e de intercâmbio de conhecimentos como sistemas de armazenamento de sementes, métodos ecológicos de manejo de sistemas agrícolas e métodos de sistemas sustentáveis de manejo agroflorestal. Vídeos, cartilhas e outros materiais serão produzidos a partir da vivência das próprias famílias e com linguagem e definições peculiares a cada região. "Os agricultores terão a oportunidade de conhecer práticas de outros agricultores e trocar experiências em cursos, seminários, congressos, feiras e visitas a outras áreas que se baseiam na agrobiodiversidade", diz Arminda.


Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas através do correio eletrônico aspta@alternex.com.br ou funbio@funbio.org.br.


 


Mariana Loiola

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