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Projeto Clicar: aprendizado divertido

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Um lugar onde meninos de rua podem ter um espaço próprio, descobrir suas potencialidades e desenvolver relacionamentos construtivos. Esta é a proposta do Projeto Clicar, um programa de atividades educativas, com caráter de educação não-formal, voltado para crianças e adolescentes que vivem em situação de risco social e pessoal. Esses jovens entram espontaneamente na Estação Ciência, um centro de ciências interativo da Universidade de São Paulo (USP), situado no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo. Patrocinado pela Petrobras desde 1997, esse espaço acolhe, por mês, 300 meninos e meninas, de 6 a 17 anos, em busca de melhores condições de sobrevivência.


No Projeto Clicar, as crianças aprendem brincando. Utilizando softwares educativos, desenhando, jogando dominó, quebra-cabeça, xadrez, dama, Banco Imobiliário, entre outras atividades, as crianças exercitam seu raciocínio, sua expressão e criatividade e aprendem conceitos de matemática, português e outras áreas do conhecimento. Esses jogos também contribuem para o desenvolvimento de relações afetivas concretas e enriquecedoras. "Uma criança que tenha dificuldade de se relacionar, por exemplo, passa a interagir com outras crianças através dos jogos", conta Dirce Paranzetti, uma das coordenadoras do Projeto Clicar. Através dessas atividades, as crianças têm a possibilidade de desenvolver sua autoconfiança e aprender de fato.


O computador é a ferramenta mais utilizada nesse processo educativo, pois exerce um grande poder de atração sobre crianças e jovens. São 20 computadores PCs e três Macintosh, sendo 13 ligados à internet. Monitores e educadores orientam os jovens a elaborar e imprimir textos, navegar e construir páginas na internet, fazer pesquisas escolares, enviar e receber mensagens via correio eletrônico e organizar pastas pessoais com arquivos de imagens, textos e músicas preferidas. "Ao conseguir um espaço próprio, o jovem é estimulado a voltar e a perceber quem ele é", diz Dirce. Dessa forma, o sucesso do projeto é medido, principalmente, pelo retorno dessas crianças, que é cada vez maior.


A dinâmica de atendimento e as atividades do Projeto Clicar são todas elaboradas a partir da linguagem e do respeito aos interesses e às necessidades dos meninos e meninas. Este é, desde o início, o cerne do Projeto Clicar. Entre os visitantes do centro de ciências – constituído, em sua maioria, de escolares – havia aqueles que estavam fora do sistema formal de ensino e viviam grande parte do dia nas ruas. A Estação Ciência procurou, então, o Centro de Estudos e Pesquisa da Criança e do Adolescente (Cepeca) para fazer um levantamento e desenvolver um atendimento específico para esse público. O Cepeca identificou os desejos, anseios e expectativas de crianças e adolescentes em relação ao espaço, sua dinâmica, rotinas e histórias de vida. A partir desse levantamento, o projeto foi idealizado e implementado em 1996.


Como é uma proposta de educação não-formal, não é exigida inscrição, obrigatoriedade da freqüência ou cumprimento de uma carga horária mínima. Além das atividades com pintura, computador e jogos educativos, os meninos fazem visitas às diversas exposições da Estação Ciência, assistem a sessões semanais de vídeo, são estimulados a ler livros e histórias em quadrinhos e escrever as suas próprias histórias. "Temos um menino que está escrevendo a história da vida dele e diz que um dia irá publicá-la. Ele está descobrindo que a sua vida tem significado. O próximo passo pode ser querer voltar para escola, para casa ou simplesmente querer aprender mais coisas", diz Dirce. Um outro exemplo de orgulho para o projeto é o do adolescente Luis Eduardo, de 18 anos, que morava na rua quando entrou para o Projeto Clicar, em 1996. Hoje ele trabalha como estagiário no projeto, está na escola e quer cursar a faculdade de Astronomia.


No entanto, esse processo de ressocialização não é tão simples. “Esses meninos, que sofrem uma série de preconceitos, estão se expondo, mostrando quem são. E voltar para casa nem sempre é o melhor para eles. Mas os educadores incentivam esse retorno na medida das necessidades e possibilidades de cada um. O importante é fornecer condições para que eles saiam da marginalidade e sejam incluídos na sociedade", diz Dirce. Para ampliar o atendimento social, o Clicar realiza parceria e contato com instituições sociais e de apoio à criança e ao adolescente, incluindo abrigos, centros de defesa, conselhos tutelares, escolas e hospitais próximos ao projeto.


As histórias de sucesso são muitas. Também não são poucos os exemplos que não conseguiram alcançar as expectativas do projeto e melhorar suas condições de vida. É um espaço que a universidade oferece para crianças e adolescentes que, em sua maioria, nem vão cursar uma universidade. O fato é que o Projeto Clicar se constitui num espaço concreto, onde a criança é tratada como tal, podendo, assim, exercer os seus direitos. Um espaço que reconhece a capacidade e o direito da criança de aprender e de mudar a sua própria vida. É, com certeza, uma alternativa significativa de inclusão social e de contribuição para o exercício da cidadania.


Mais informações sobre o Projeto Clicar podem ser obtidas na página www.eciencia.usp.br/projetoclicar ou pelo correio eletrônico clicar@eciencia.usp.br.


Mariana Loiola

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