Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
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O mundo está ficando velho. Não, não são seus mais de seis bilhões de anos, mas sim a idade de sua população. Em 2050, 22% dos habitantes do globo terão mais de 60 anos. No mesmo ano, serão 2 bilhões de pessoas na terceira idade, contra os atuais 600 milhões. Essas foram algumas das conclusões a que chegaram tanto o Fórum Mundial de ONGs sobre o Envelhecimento quanto a Assembléia das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, ocorridas simultaneamente em Madri, no mês de abril.
As tendências previstas pelos encontros internacionais de Madri encontram relação no Brasil e respaldo nos dados do Censo 2000. Segundo o IBGE, passa dos 22 milhões e meio o número de pessoas com mais de 60 anos no país. Soma-se a isso o fato de a taxa de fecundidade do povo brasileiro ter caído de 6,2, em 1940, para 2,3, em 2000. É quase uma taxa de reposição – duas pessoas repondo as duas pessoas que as produziram. Paralelamente, a expectativa de vida da população brasileira ao nascer experimentou um ganho de 2,6 anos de 1991 para 2000. Estes dados podem ser resumidos no seguinte: cada vez nasce menos gente e as pessoas vivem cada vez mais tempo.
O documento final elaborado no Fórum Mundial de ONGs para o Envelhecimento diz que “apesar dessa realidade, em muitas nações, as pessoas idosas sofrem graves situações de pobreza e exclusão social, não têm condições de vida dignas e são um coletivo ‘invisível’ para os governos e instituições internacionais e, nos países mais desenvolvidos, apesar dos avanços e das melhoras sociais conseguidas, têm ainda importantes carências e não contam com o reconhecimento que seu peso populacional requer”.
O fato de existir uma população idosa mais numerosa envolve uma série de questões, como planejamento de previdências sociais, capacitação dos serviços de saúde pública para que atendam com o devido cuidado e conhecimento essa população, revisão das relações de trabalho a fim de incluir esse contingente de profissionais, entre outras preocupações. No caso específico do Brasil, a preocupação dos legisladores com a terceira idade se traduz na Política Nacional do Idoso, a Lei nº 8.842, aprovada em 1994 e regulamentada em 1996. A lei define as diretrizes, a gestão e a organização da política nacional voltada para a população da terceira idade.
No entanto, uma outra faceta, de suma importância, não pode ser esquecida: é a saúde psicológica desse exército de cabeça branca que é formado a cada ano – segundo os dados obtidos em Madri, são 70 milhões de novos idosos a cada ano – pessoas ainda com vontade e energia para viver, e bem. Algumas instituições e núcleos são especializados em oferecer uma gama de atividades e informações para esse segmento da sociedade. É o caso do Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável – Cies. A proposta da instituição é disponibilizar informações para a sociedade em geral sobre formas de enfrentar o processo de envelhecimento com saúde e autonomia. O Cies promove ainda interação entre as instituições e grupos que trabalham com o tema.
Segundo a diretora-executiva do Centro, Andrea Prates, “a educação é uma questão muito importante. É sempre melhor atuar na promoção da saúde e na prevenção. Por isso, fornecemos informações para que as pessoas tenham o poder de tomar as atitudes saudáveis para as suas vidas”. As atividades da instituição foram direcionadas para o Movimento Global para o Envelhecimento Ativo (MGEA), concebido pela OMS e lançado em 1999, Ano Internacional do Idoso. O Movimento constitui-se em uma rede integrada por todos os interessados em fomentar políticas e práticas em prol do envelhecimento ativo, oferecendo idéias para programas e projetos.
E é isso que faz o Cies, porém com uma preocupação maior no que se refere à prevenção. “Procuramos levar o conhecimento não só para o idoso, mas para todas as pessoas. Por isso tivemos a preocupação de deixar isso claro no título da instituição. É ‘para o envelhecimento saudável’, ou seja, para as pessoas que ainda vão passar por este processo se precaverem e encararem com naturalidade”, ressalta Andrea. A diretora do Centro chama atenção para um outro aspecto: “O envelhecimento é um processo muito complexo. Não podemos achar que, fornecendo uma informação para a pessoa, vai haver uma mudança brusca. Existe uma questão social muito grande. Não adianta as pessoas terem a informação sobre as alternativas se não houver uma política maior voltada para que as pessoas possam ter acesso a essas alternativas”.
O site "Mais de 50" é outro canal de informação para as pessoas que entram na fase também conhecida como a “melhor idade”. A criação do site se deu na época do boom da Internet, depois que uma pesquisa encomendada ao Ibope revelou que faltava na Grande Rede sites justamente para o público com mais de 50 anos – daí o nome. Segundo a editora do site, Maria da Luz, “os 50 anos são vistos como um ápice, uma segunda adolescência, quando muitos estão se aposentando e vão ter mais tempo para desfrutar a vida”. Maria da Luz revela ainda que um dos principais temas sugeridos e pedidos pelos leitores (que, segundo ela, estão na faixa dos "mais de 40") é um cuja preferência normalmente é atribuída aos jovens: a sexualidade. “As pessoas percebem que ainda estão vivas e que, de acordo com a expectativa de vida, ainda têm muito o que viver”, esclarece a editora.
A terceira idade surpreende em outro âmbito cujo domínio também é atribuído aos jovens: a informática. No Museu da República, localizado no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, existe um laboratório de informática com cerca 60 turmas e um número variável entre 100 e 200 alunos mensais – todos idosos. Somente uma ou duas turmas são exceção, revela um dos coordenadores do laboratório, Luís Cláudio Nunes Pereira. Os cursos de informática foram criados no final de 1996, com a proposta de serem uma atividade até mesmo lúdica para o público de terceira idade. Hoje, são referência no país. “Não esperávamos que ganhasse tanta proporção”, diz Luís Cláudio. A faixa etária dos alunos vai desde cinqüentenários até alunos com 99 anos. “Aí você me pergunta: ‘o que uma pessoa com 99 anos faz aprendendo informática?’ E eu te respondo: ‘se mantém viva’. A informática, para eles, não é um objetivo de vida, mas um fator de socialização. É um pretexto maravilhoso para que o idoso se adapte a esse mundo novo, digital e possa se descobrir novo nele também”, testemunha, emocionadamente, Luís Cláudio.
Se ter uma atividade, lúdica que seja, representa manter-se vivo, os alunos e participantes da Universidade Aberta da Terceira Idade – Unati dão banho de vida em muito menino de 18 anos. A Unati é um núcleo ligado à Sub-Reitoria de Extensão e Cultura da universidade, tendo aberto suas portas em agosto de 1994. “A Unati surgiu da constatação da importância de se ter um centro qualificado baseado no tripé assistência, ensino e pesquisa científica”, revela o diretor da unidade, Renato Peixoto Veras. A Unati oferece 125 das mais variadas atividades – gratuitas. O único pré-requisito é ter mais de 60 anos. O núcleo engloba ainda um centro de documentação, uma editora própria, atendimento ambulatorial (tanto preventivo quanto o normal, profilático), orientação jurídica, além dos cursos, que são as grandes vedetes da Unati. As oficinas são as mais diversificadas possíveis, trazendo na programação aulas de tai chi chuan, antiginástica, espanhol, violão, dança, gerontologia, canto (a Unati tem ainda um coral próprio) e nutrição, entre muitos outros.
Odelita Vasconcelos, de 73 anos, freqüenta a Unati desde sua criação, há nove anos. Já fez mais de 15 cursos na universidade, como biodança, jornalismo, percussão e promoção da saúde, e faz parte do grupo de dança de salão etc. Tanto que hoje em dia é a representante dos alunos junto à Unati. A estudante já levou diversos amigos para as aulas, inclusive seu companheiro de 50 anos de casamento. A participação na Unati operou mudanças na vida de Odelita que confirmam as mais corriqueiras suposições de que ocupar a mente e a alma com alguma atividade é uma ótima solução para se manter jovem em espírito. Atualmente, ela realiza um trabalho social voluntário em hospitais e orfanatos e junto a pessoas com neoplasia. Odelita e seus colegas de cursos aprendem não só as novas competências, mas também como lidar com a idade sem problemas ou vergonha. Perguntada sobre como a sua vida mudou depois que começou a ocupar seu tempo aprendendo coisas novas, ela revela: “Fui pra Unati deprimida, tomando Lexotan sem parar. Estava psicótica. Na minha cabeceira, tinha um saco com caixas do remédio, com medo de que acabasse o estoque na farmácia. Hoje em dia, o único medicamento que eu tomo é Unati de manhã, de tarde e, se puder, de noite”.
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