Autor original: Mariana Loiola
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Resultado das discussões ocorridas durante o Seminário Internacional sobre Demografia e Exclusão Social, o livro "Demografia da Exclusão Social" debate os fatores que contribuem para que segmentos sociais encontrem dificuldades de inserção na nova ordem social e econômica forjada pelo capitalismo globalizado. O Seminário foi promovido em 1997 pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo), com o objetivo de explorar as interfaces entre a demografia e outras ciências sociais no estudo das novas formas de exclusão social contemporâneas, associadas aos processos de re-organização e reestruturação econômicas em escala global. Lançado pela Editora Unicamp, o livro reúne as reflexões de especialistas brasileiros e estrangeiros que participaram do seminário. Maria Coleta Oliveira, coordenadora do Nepo e organizadora do livro, fala sobre o livro e as propostas dos autores. O que os estudos demográficos dizem sobre a exclusão social? Faz parte dos estudos de natureza demográfica entender o que se passa com os diferentes segmentos populacionais. As ferramentas de que dispõe a Demografia permitem identificar características relativas ao emprego, condições de moradia, alfabetização e acesso a serviços tais como escola, saúde, etc., e verificar a posição relativa dos diferentes segmentos de idade e sexo na população segundo estas características. As ferramentas da Demografia permitem avaliar de que maneira os grupos populacionais são mais ou menos vulneráveis à mortalidade, em geral ou por tipos de doenças, permitindo identificar deficiências (ou exclusão) no atendimento à saúde. Por exemplo, ainda que proporcionalmente a mortalidade de mulheres em idade reprodutiva tenha caído muito – revelando que as condições associadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto no Brasil melhoraram muito – ainda é alta se considerarmos que doenças como a eclampsia, evitável por um bom pré-natal, é responsável por boa parte das mortes neste segmento populacional. Como foi o Seminário Internacional sobre Demografia e Exclusão Social? Foi um Seminário que contou com a participação de especialistas brasileiros e do exterior, e que explorou a oportunidade de a Demografia privilegiar em seus estudos o tema da exclusão social, como forma de contribuir a minimização do sofrimento humano. De acordo com a posição defendida pela antropóloga-demógrafa Susan Greenhalgh (EUA), este seria o compromisso da Demografia enquanto ciência. Que pontos foram mais ressaltados? Um dos pontos mais discutidos foi a questão da tendência à precarização das relações de emprego, levando à ampliação de contingentes populacionais excluídos do modelo de emprego estável por toda uma vida. Foram apresentadas no Seminário uma série de reflexões com base na experiência feminina de participação no mercado de trabalho que, se de um lado, mostram a perversidade da precariedade (temporariedade, parcialidade, sazonalidade, diferenças salariais, etc.) no que diz respeito ao impacto sobre as condições de vida das mulheres, por outro lado, apontam para a necessidade de repensar o modelo de trabalho no tipo de sociedade que parece bater às nossas portas, em que o trabalho estável deixará de se constituir em norma ou padrão, talvez mesmo para os homens. Quais são as novas formas de exclusão social? A exclusão do trabalho estável parece ser a que mais preocupações traz, já que todo o nosso modelo de proteção social está apoiado no emprego. 5. Que fatores contribuem para a dificuldade de inserção na nova ordem social e econômica? Uma das maiores dificuldades é a de como pensar os direitos de cidadania em escala global, já que com a intensificação da internacionalização da vida e a conseqüente ampliação da mobilidade das pessoas (isto é, da migração internacional), não se sustentarão por muito tempo as diferenças de tratamento, do ponto de vista da garantia de direitos (e, portanto, de inclusão social) de nacionais e estrangeiros em um mesmo país. É possível pensar em uma sociedade civil em termos globais? Em que termos? Este é um grande desafio. 6. Quem são os autores do livro e que contribuições eles trazem para o debate sobre a exclusão social? Eu e Luzia Guedes Pinto iniciamos o livro situando a problemática da chamada "nova exclusão social" no contexto brasileiro. Susan Greenhalgh, antropóloga atuante nos estudos populacionais, faz uma discussão crítica sobre os estudos demográficos, tomando como base a experiência da demografia norte-americana. Ana Maria Goldani discute o que poderia ser uma agenda de pesquisa para uma demografia da exclusão. Frank Bonilla aborda o impacto das mudanças globais no que diz respeito às ameaças à cidadania e ao bem estar, explorando as possibilidades de uma "resistência popular" em nível global. As reflexões do autor têm por base a experiência dos migrantes latinos nos Estados Unidos, onde uma teia de relações articula a experiência dos imigrados e seus descendentes nos Estados Unidos e algumas iniciativas sociais cooperativas em seus locais de origem. Orlandina de Oliveira e Marina Ariza discutem os mecanismos de exclusão que incidem no trabalho feminino. As autoras exploram as implicações da experiência feminina no mercado de trabalho para uma abordagem do tema da exclusão social. Helena Hirata trata mais amplamente sobre as implicações das relações sociais de sexo/gênero nos processos de exclusão social, como assalariamento, subemprego, trabalho informal e desemprego. Teresa Bracho examina os aspectos que permitem pensar a educação como um elemento importante daquilo que vem sendo chamado de exclusão social, tendo como marco as noções de justiça social e de direitos. João Yunes apresenta um panorama epidemiológico da violência no continente americano, com especial ênfase nos países latino-americanos, focalizando as condições de desigualdade social que constituem o cenário da escalada da violência nos países da região. Por fim, Francisco Sabatini analisa as políticas urbanas como fatores que podem promover oportunidades de integração ou de exclusão, a depender de como incorporam conhecimentos acerca dos mercados e da economia urbanas. 7. O livro inclui propostas de inclusão social? Cada um dos trabalhos faz isso em alguma medida. Mariana Loiola
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