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Mobilização e participação: fundamentais para construir uma escola de todos

Uma escola em que as diferenças são valorizadas e respeitadas e que conta com a participação de toda a comunidade escolar, tanto no diagnóstico dos problemas a serem enfrentados, quanto na sua resolução. Quem não gostaria de estar em uma escola assim? Geisa Ferreira do Nascimento, assessora de projetos do Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), mostra que uma escola assim é possível.O projeto Escola de Todos desenvolvido pelo Cedaps, em parceria com o Instituto Iberoamericano de Discapacidad y Desarrollo, em sete escolas públicas, no Rio de Janeiro e na Bahia, estimula a elaboração participativa de ferramentas para criar e fortalecer uma prática escolar baseada na inclusão, promoção da saúde e participação, fortalecendo o vínculo entre escola e comunidade.Mobilizadores COEP – Quais as principais características da escola no Brasil? Na área rural, quais os principais problemas?R.: O Cedaps trabalha em comunidades de baixa renda, em territórios empobrecidos, e as maiores queixas, inclusive dos gestores, é sobre a manutenção dos professores e a participação dos pais nos assuntos da escola, já que o fato dos responsáveis trabalharem fora, principalmente as mães, acaba os afastando do ambiente escolar. Muitas vezes, as crianças também assumem o papel de responsável por irmãos menores, o que acaba as prejudicando. Na área rural, pela experiência que temos, um problema é a conexão dos estudantes com o resto do mundo, a questão da inclusão digital é citada num dos projetos desenhados pelas escolas para que as pessoas não permaneçam isoladas em suas comunidades sem saber o que está acontecendo ao seu redor.Mobilizadores COEP – O que é uma escola de todos? Que tipo de mobilização social é necessário para construí-la?R.: Uma escola construída com a participação de todos da escola: diretor, coordenador, alunos, professores, porteiros, merendeiras, pais e comunidade. Não se constrói uma escola de todos por imposição de um modelo que se acha conveniente para determinada comunidade escolar, mas a partir da mobilização e participação da própria comunidade escolar.Para ter uma escola de todos é preciso propiciar a inclusão educativa e social dos alunos que têm aprendizado diferente do padronizado e tradicionalmente esperado pela escola. É preciso considerar que todos correm risco de ser excluídos do processo escolar.A prática para uma Escola de Todos está pautada no diálogo entre todos os atores da comunidade escolar para refletirem sobre sua escola e construírem um plano de ação. A idéia central é que possa ser feito, através de dinâmicas e encontros, um diagnóstico atual do ambiente escolar e problematizar as questões que impedem o desenvolvimento de um ambiente acessível a todos e que promova a valorização das diferenças. A partir do diagnóstico, o grupo pode desenhar a sua escola do futuro, com seus desejos, melhorias e possibilidades de mudanças. A partir dessa escola “sonhada” se estrutura um plano de ação para construí-la. Esse plano  de ação deve ser compartilhado desde o início com todos da comunidade escolar e ter suas estratégias planejadas e executadas por todos, valorizando as especialidades e parcerias.Mobilizadores COEP – De que forma a escola pode contribuir para a promoção da saúde?R.: Desenvolvendo projetos que envolvam a escola como um todo ou as turmas especificamente, a partir de projetos individuais dos professores que perceberam que aquelas turmas precisam trabalhar um ou outro ponto. Em geral, os projetos que dão mais certo são os desenvolvido com parceiros, sejam unidades de saúde ou profissionais que atuem na área. São trabalhados temas como hábitos de higiene, sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, doenças, homofobia, diversidade, levando em conta o interesse dos alunos e o contexto em que vivem. O que observamos, ao fazermos as avaliações, é que as reflexões ultrapassam os muros da escola, chegando às famílias, que se tornam muito mais participativas.Mobilizadores COEP – Numa escola de todos, que papel desempenham  professores, funcionários e comunidades?R.: Neste conceito de escola, todos são peças fundamentais tanto no diagnóstico dos problemas da comunidade escolar, quanto no enfrentamento destas questões, ou seja, todos pensam juntos e se articulam para que se alcance a visão de futuro almejada por aquele grupo. Mais ou menos assim: nós temos esta escola hoje, queremos aquela. Então, o que temos de fazer para mudar esta realidade?Mobilizadores COEP – Quando começou o projeto Escola de Todos? Onde é desenvolvido?R.: Começamos a escrever e construir as ferramentas do projeto – o guia (http://www.escoladetodos.net/pt/doc/guia-escola-de-todos.doc) e o jogo “Caminhos da Inclusão” (http://www.escoladetodos.net/pt/jogo-caminhos-da-inclusao.php) – em 2006. Já, em 2007, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, começamos a desenvolver o projeto em Nova Iguaçu, no Colégio Estadual Figueira; em Bangu, no Colégio Estadual Leopoldina da Silveira; no Colégio Estadual Pandiá Calógeras, em São Gonçalo; e no Colégio Estadual Visconde de Itaboraí, em Itaboraí, todas no estado do Rio.Começamos a trabalhar também, em parceria com o Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS (Gapa), em duas escolas de Salvador (BA) – Colégio Estadual Presidente Humberto A. Castelo Branco e Colégio Estadual Renan Baleeiro – e uma de Alagoinhas – Colégio Municipal Miguel Santos Fontes–, no interior da Bahia. Participam do projeto, com o desenvolvimento de toda a metodologia, sete escolas. Mas outras participam se envolvendo em uma ou outra ações mais pontuais, como encontros específicos para desenvolverem o Jogo Caminhos da Inclusão, acompanhamento de atividades ligadas à inclusão e diversidade. As escolas se cadastram no site e solicitam apoio para alguma ação e atendemos conforme nossa possibilidade.Mobilizadores COEP – Como o projeto estimula a participação?R.: O jogo de tabuleiro, com perguntas sobre diversas temáticas (ser adolescente, participação, saúde, estar bem etc) vem se mostrando uma ótima ferramenta de participação, pois é um momento em que todos discutem sobre as perguntas propostas pelo jogo. Todos podem expor suas opiniões e refletir sobre o assunto. O jogo surgiu a partir de uma demanda dos próprios jovens que sentiam falta de algo mais prático, que os estimulasse a falar sobre os problemas que os afligem, suas expectativas etc. Foi até interessante, porque acabamos acrescentando ao jogo cartas em branco a pedido dos próprios jovens que explicaram que, algumas vezes, em determinados contextos, havia questões que não estavam contempladas no jogo e que valiam a pena ser discutidas. Isso mostra o envolvimento dos jovens. Atender às suas demandas estimula ainda mais a sua participação.Mobilizadores COEP – Dentro do projeto, que atribuições cabem ao Cedaps? E ao Instituto Iberoamericano de Discapacida Y Desarrollo (IIDI)?R.: O Instituto ficou responsável pela parte mais conceitual do projeto. Fizemos juntos todo o desenho conceitual do Guia e do site, além do glossário do Jogo.  Já o Cedaps, a partir da metodologia Construção Compartilhada, se responsabilizou por nortear a parte prática, desde o diagnóstico da escola até os indicadores de avaliação do projeto, passando por toda a parte dinâmica do Guia.  Além disso, funciona como uma ponte entre as escolas e os vários parceiros.Mobilizadores COEP – Qual o principal resultado do projeto até o momento?R.: O Escola de Todos passou a ser a lógica das escolas nas quais o projeto está em desenvolvimento, gerando uma mudança na prática destas escolas que passaram a desenvolver seus diversos projetos com base na proposta do Escola de Todos, uma escola que respeita e valoriza as diferenças.O Colégio Leopoldina da Silveira inseriu o Escola de Todos no seu Projeto Político Pedagógico e há três anos realiza o Fórum de Inclusão que é um espaço de debate entre toda a comunidade escolar. Já o Colégio Visconde de Itaboraí faz atividades rotineiras valorizando a diversidade, seja através de fóruns, gincanas, feiras e encontros. Nesses espaços, apresentou o projeto, suas perspectivas e criou ações junto com a comunidade. Esse colégio desenhou o Jogo Caminhos da Inclusão no pátio, e as peças do tabuleiro são os próprios participantes. Assim, todos têm acesso a essa ferramenta lúdica.Mobilizadores COEP – Como vem se concretizando o vínculo escola/comunidade a partir do projeto?R.: Quando a lógica do projeto é atendida, o conceito ultrapassa a escola e chega à comunidade. Um exemplo disso foi o que aconteceu na escola de Alagoinha. Rosangela Berman, do IIDI foi visitar a escola. Ela é cadeirante e na escola não havia rampa. Geralmente ela não admite a falta de acessibilidade, mas por entender a peculiaridade daquela escola e suas condições compreendeu. Então providenciaram uma tábua de madeira e ela conseguiu subir. Mas não é o ideal. Um mês depois, recebemos uma foto da escola já com uma rampa. A comunidade se articulou e comprou cimento, areia e construiu na metade da escada um complemento de cimento, criando assim uma rampa.O mais importante foi que as pessoas entenderam que o ambiente aumenta a deficiência impedindo o indivíduo de exercer seus direitos e funções. E viram que uma entrada mais acessível seria bom não só para cadeirantes mas também para senhores de idade, mães com carrinhos de bebê e outras pessoas que estivessem temporariamente  com alguma dificuldade de locomoção. Isso é a lógica do desenvolvimento inclusivo. Mobilizadores COEP – É possível replicar o projeto em outras localidades?R.: Sim. A metodologia do projeto está disponível no site do projeto (http://www.escoladetodos.net/). Independente de você estar no Rio de Janeiro ou no Amazonas, é possível aplicar a metodologia, pois ela não é uma receita de bolo. É um guia para que as escolas façam seus próprios diagnósticos, criem seu passo a passo e implementem suas ações para construírem uma escola de todos.Mobilizadores COEP – Como o COEP, rede social com atuação em todo o Brasil, pode mobilizar as pessoas para que projetos como o Escola de Todos seja uma realidade em outras partes do país?R.: Primeiramente, difundindo o desenvolvimento inclusivo, não-excludente. Mostrando que as próprias comunidade escolares devem refletir sobre o contexto que têm e se articular para atingir um modelo que atenda a todos daquele universo.Entrevista do Grupo Promoção da EducaçãoConcedida a: Renata OlivieriEditada por: Eliane Araujo 

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