Anúncios de um consumo novo

Autor original: Marcelo Medeiros

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Orientar jovens a conhecer seus direitos e deveres como consumidores. Essa é a intenção da campanha “Fique Ligado nos seus Direitos”, lançada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) e inserida no programa “Educação para o Consumo” do instituto, realizada desde 1999. Iniciada em 6 de maio em Curitiba, ela acaba de chegar ao Rio de Janeiro depois de passar por São Paulo. Além de ensinar, a campanha irá estimular e premiar a produção de veículos de comunicação informativos.

Na capital paranaense, por volta de 15 mil estudantes de escolas municipais e particulares receberam a cartilha idealizada pelo Idec, que contém informações sobre serviços públicos como água, luz e telefone. A publicação ensina, em linguagem adaptada à juventude, que “todo cidadão tem direito a pedir e receber serviços públicos sem interrupção, com eficiência, qualidade e segurança e a preços acessíveis” – mesmo após as privatizações, que não tiram o caráter essencial desses serviços. Também é explicado o papel das agências reguladoras do governo: fiscalizar a qualidade das empresas autorizadas a prestar os serviços.

O mesmo material será distribuído em colégios municipais paulistanos e estaduais fluminenses para que alunos de 13 a 16 anos possam usar as 38 páginas como fonte de informação para seus trabalhos. A expectativa dos organizadores é que 140 instituições de ensino se inscrevam e 140 mil cartilhas sejam distribuídas.

Foram feitos convênios com as secretarias municipais de educação de Curitiba e São Paulo e a secretaria estadual de educação do Rio. No Paraná, o Sindicato das Escolas Particulares também se envolveu. A participação, entretanto, não foi obrigatória. Os órgãos enviaram cartas-convite a cada escola, dando autonomia para adesão à campanha. Ainda assim, as metas do Idec foram atingidas. Em São Paulo, 70% das escolas convidadas aceitaram a proposta, no Rio, 50% e em Curitiba, 30%.

O trabalho não ficará inteiramente na mão dos alunos. Até três professores de cada escola poderão ser inscritos para participar do programa. Os educadores recebem breve treinamento em um encontro, onde são dadas palestras sobre linguagem jornalística e meios de comunicação, além de uma exposição feita por economistas e sociólogos do IDEC sobre o instituto e a situação dos serviços públicos, principalmente após as privatizações. A receptividade nos encontros já realizados foi boa, pois os professores percebem que a iniciativa é diferente no conteúdo e no formato. Dessa forma, estão aptos a orientar seus alunos na produção de anúncios educacionais televisivos, impressos, ou radiofônicos.

Cada escola deve eleger sua melhor produção ou então produzir apenas uma, que posteriormente será apresentada no encontro com outros estados. A comissão avaliadora local, formada por um representante das secretarias, do IDEC, da Imagens Educação (empresa contratada para formular a cartilha) e dois especialistas em mídia ainda não definidos, irá julgar os trabalhos. Em Curitiba, haverá ainda um repsentante do Sinep. Cada cidade escolherá os três melhores trabalhos, a serem avaliados nacionalmente. Os critérios de avaliação são a aplicação apropriada da linguagem escolhida, a correção das informações e conceitos sobre o serviço, adequação ao padrão estabelecido no regulamento, interação com a comunidade e a criatividade da idéia.

A escola vencedora ganhará um computador, doado pelo British Council. A segunda colocada receberá cinco assinaturas anuais da revista Consumidor S/A, editada pelo IDEC, enquanto a terceira ganhará publicações do instituto sobre direitos do consumidor.

A expectativa dos organizadores quanto à qualidade dos anúncios é a melhor possível, pois o trabalho realizado pelo IDEC desde 98 foi moldado para os alunos e os professores têm saído empolgados das palestras já realizadas. “É uma forma de fazer os alunos deixarem de ser passivos no aprendizado e se tornarem ativos”, diz Ana Carolina Papacosta, responsável pela campanha.

Além de estimular a produção discente, a campanha “Fique Ligado nos seus direitos” pretende atingir a comunidade onde as escolas estão localizadas. A cartilha contém um questionário a ser aplicado para embasar os trabalhos, que também faz os entrevistados refletirem sobre a qualidade dos serviços públicos. “Ela não se restringe aos muros da escola”, diz Papacosta, para quem “a mudança de hábitos de consumo é complicada. Por isso esse trabalho é de suma importância. As crianças já são mais conscientes do que os adultos no que se refere aos danos ambientais e sócio-econômicos do consumo, pois têm contato direto com as conseqüências. Mas ainda falta muito para se chegar ao ponto ideal”.

Outras campanhas podem ser inspiradas por essa, pois os jornais, vídeos e programas de rádios serão exibidos em mostras a serem feitas futuramente em escolas de todo o país. E para estimular ainda mais o consumo consciente e a educação para ele, o IDEC fornece material e capacitação para professores interessados, mesmo que não inscritos no concurso da campanha.

Marcelo Medeiros