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Brazil Foundation

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Os EUA são o país do voluntariado e das doações. De acordo com pesquisa da Universidade John Hopkins, US$ 190 bilhões são doados anualmente e em 95 (ano da pesquisa mais recente), 49% dos norte-americanos se envolveram com alguma atividade voluntária. Tentando aproveitar esse espírito para beneficiar projetos no Brasil, foi fundada em Nova Iorque, em 2000, a Brazil Foundation. A organização reúne doações de brasileiros radicados nos Estados Unidos para financiar trabalhos sociais realizados por aqui.


A idéia foi de Leona Formam, que veio para o Brasil aos 13 anos, fugindo da China. Após vinte anos de trabalho com organizações sociais na Organização das Nações Unidas, ela percebeu o potencial de doadores brasileiros presente nos EUA. Afinal, a comunidade brasileira lá é estimada em um milhão de pessoas, sendo 600 mil em Nova Iorque, muitos deles profissionais de sucesso em grandes empresas ou profissioanis liberais bem-sucedidos. Formam reuniu antigos amigos como Susane Worcman, hoje diretora do escritório brasileiro, e criou a Brazil Foundation. Foram chamadas também personalidades do terceiro setor para formar o Conselho Consultivo da entidade, composto por sete pessoas atuantes em diversas áreas, entre elas Ruth Cardoso, o historiador inglês Kenneth Maxwell e o embaixador do Brasil na ONU Gilberto Fonseca Jr.


Esse conselho dá credibilidade à entidade, que procura levantar recursos com pessoas físicas e jurídicas, de preferência brasileiras, estabelecidas nos EUA. Para tanto, são organizadas palestras mensais com representantes de organizações sociais brasileiras nomeadas "Idéias que transformam o Brasil". Em média, 60 brasileiros comparecem e ouvem pedidos de doação e de trabalho voluntário. Hoje já existem 350 voluntários cadastrados na Fundação e são muitas as doações. “É interessante, porque o brasileiro continua ligado ao seu país, mesmo quando está há muito tempo distante”, diz Worcman.


Os doadores são de dois tipos. O primeiro, mais numeroso, é composto por profissionais liberais de sucesso com idade de 30 a 40 anos; o outro é formado por empresas norte-americanas com negócios no Brasil ou brasileiras com filiais por lá. A Brazil Foundation está inserida na lei norte-americana que permite dedução dos valores doados do imposto de renda. Esse valor pode chegar a 90%, o que atrai muitos doadores. Para facilitar ainda mais esse processo, a fundação possui dois corpos jurídicos, um na capital financeira norte-americana e outro no Rio de Janeiro. Isso evita problemas legais em transferência de dinheiro.


O arrecadado é transferido para organizações brasileiras escolhidas pela Fundação, atuantes em três áreas: saúde, educação e promoção da cidadania. Em breve, serão adicionadas instituições ligadas a direitos humanos e cultura. As primeiras atividades financiadas terão à disposição US$ 30 mil durante este ano. As inscrições para seleção estavam abertas até 30 de abril, mas não foram muito divulgadas, pois não era esse o interesse. “Preferimos fazer algo menor até para poder selecionar melhor, com mais cuidado”, explica Worcman. Foram inscritos 73 projetos e os resultados devem sair no início de julho. Um projeto de cada área será selecionado.


Há também a possibilidade de brasileiros que já conhecem o trabalho de alguma organização indicarem onde querem ver seu dinheiro investido. Em casos de grande doações, a Brazil Foundation investiga a origem do dinheiro e também a organização de destino, caso não seja conhecida. “É uma orientação do departamento jurídico. Para evitar problemas, procuramos saber de onde vem e para aonde vai o dinheiro disponibilizado. Só repassamos depois de aprovado”, esclarece a diretora.


A Fundação já se organizou a médio prazo. Foi elaborado um planejamento estratégico até 2005 de 30 páginas, onde estão previstas diversas campanhas de arrecadação. Uma delas é estimular cada brasileiro residente em Nova Iorque a doar dez dólares por ano - o que significa por volta de US$ 6 milhões. Mesmo que apenas 10% desse total se interessem a doar esse valor, já seria um orçamento significativo.


Além de financiar campanhas de organizações brasileiras, a Brazil Foundation tem estimulado mudanças de atitudes. Susane Worcman conta a história da faxineira de Leona Forman, que acompanhou a fundadora quando ela se mudou para os EUA. Nas duas primeiras reuniões, era paga para cozinhar salgadinhos para os convidados. No terceiro evento, quando foram lhe pagar o serviço, ela se recusou a receber, afirmando que como não tinha muito dinheiro para doar, os petiscos seriam sua contribuição. “Tudo passa pela afetividade e preocupação com o Brasil”, finaliza Worcman.


Marcelo Medeiros

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