Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Há décadas ouvimos o povo nordestino cantar as mazelas provocadas pela seca, o que nos leva a crer que não houve vontade política suficiente para combater "tamanha judiação" - como dizia a música de Luiz Gonzaga. A seca contribui para a fome, a proliferação de doenças e outros tantos graves problemas sociais, como a mortalidade infantil. Entretanto, a sociedade civil organizada não cruza os braços e faz parcerias para combater este flagelo - um exemplo de ação que faz reacender a esperança de ver esses problemas minimizados efetivamente é a iniciativa de uma organização não-governamental sem fins lucrativos, que conta com apoio financeiro de uma empresa privada e parceria com o governo.
O projeto Água é Vida foi lançado no último dia 16 pela Visão Mundial. Com o patrocínio da empresa Swiss Re, o projeto será implantado em comunidades rurais de regiões semi-áridas de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Minas Gerais, para garantir o abastecimento de água para comunidades rurais. "Um projeto com esse enfoque apoiado por empresa privada é um fato inusitado e bastante expressivo no país", diz Serguem Jessui Silva, diretor executivo da Visão Mundial. A ONG, que tem experiência na área, inicia mais um projeto de desenvolvimento social no sertão, sendo responsável pela elaboração e execução do Água é Vida.
O principal objetivo do Água é Vida é promover o gerenciamento de águas para o consumo humano e para a produção agrícola nessas regiões, onde predomina o clima seco e o acesso à água é extremamente limitado. Através do projeto, as comunidades beneficiadas serão capacitadas para se tornarem responsáveis pela manutenção de água abundante e de qualidade durante todo o ano, incluindo os períodos de estiagem. "A falta de cuidado na administração da água não é um problema apenas da população pobre; é de todos nós. Estamos acostumados à fartura de água. Faz parte da nossa cultura fazer uso irresponsável da água. Entretanto, a água não é farta em nenhum lugar do mundo, nem no Brasil. A necessidade de racionamento de energia elétrica deu provas disso", diz Serguem. No total, serão 85 comunidades beneficiadas pelo Água é Vida.
Sabe-se que a escassez de água na região se deve à baixíssima precipitação pluviométrica e à temperatura elevada durante o dia, que provoca altas taxas de evaporação. "Existem regiões onde não chove desde o início do ano. E, mesmo na época, essa chuva não foi suficiente para acumular água nos reservatórios para o consumo humano e para as atividades agrícolas", conta Serguem. Por isso, não basta "esperar a chuva cair de novo" para possibilitar o desenvolvimento no sertão.
Para elaborar o projeto do Água é Vida, foi feita uma avaliação para identificar de forma mais precisa as necessidades da população e as condições hídricas dessas regiões. Segundo o diretor da Visão Mundial, o levantamento, que foi realizado pela Secretaria de Recursos Hídricos, apontou as comunidades que deveriam ter prioridade, os equipamentos disponíveis, os conhecimentos dessas comunidades, além de identificar leitos subterrâneos.
O projeto inclui a implantação de tecnologia para retenção e armazenamento da água; ações de conscientização para o tratamento e a conservação da água; a melhoria da produção agrícola através da irrigação e de técnicas de coleta de água; e o incentivo à participação comunitária nos comitês de bacias hidrográficas locais. "Tem que haver um trabalho organizado da comunidade para que sejam alcançados os objetivos do projeto. Através de oficinas, as pessoas poderão saber como podem participar de fóruns e conselhos, e assim, pressionar o governo para a implementação de políticas públicas para a gestão da água", afirma Serguem.
A parte tecnológica do projeto será realizada com a construção cisternas, para coleta de água das chuvas e suprimento de água potável a longo prazo, a recuperação de poços artesianos e a construção de barragens subterrâneas.
O trabalho educativo será feito através da distribuição de kits e cartilhas, encontros e pequenos seminários com as famílias, para conscientização e instrução em relação à gestão adequada da água. "Estamos fazendo um trabalho de desenvolvimento de lideranças locais para a administração e a manutenção das cisternas, que muitas vezes se degradam pela falta de cuidado", diz Serguem.
A sistemática do Água é Vida é a mesma implantada pela Visão Mundial em outro projeto, o SOS Seca, que tinha como foco de atuação apenas o estado de Alagoas. Com o Água é Vida, a mesma sistemática, que conseguiu uma redução significativa na taxa de mortalidade infantil, pode ser ampliada para outros estados.
Espera-se que, com este projeto, haja um fortalecimento da economia agrícola nessas regiões, a melhoria da saúde e de outros indicadores de qualidade de vida, além de melhores condições para que a população se sustente durante as secas prolongadas. Até janeiro de 2004, quando terminará a fase de implantação do projeto, o Água é Vida beneficiará diretamente cerca de seis mil pessoas. "O financiamento será encerrado, mas permanecerão as ações realizadas pela Visão Mundial na comunidade. Estamos sempre buscando investimentos para o sertão e já estamos buscando a mobilização de outros fundos para a continuação do Água é Vida", afirma o diretor.
Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas com a Visão Mundial, através da página eletrônica www.visaomundial.org.br ou pelo telefone (31) 3273-5944.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer