Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Desde o final de maio, a Rits é membro da APC – Associação para o Progresso das Comunicações, cujo lema é “Internet e Tecnologias de Comunicação e Informação para Justiça Social e Desenvolvimento”. Segundo Karen Higgs, Gerente de Comunicação da instituição internacional, a aceitação da Rits como membro da associação foi inquestionável: “A maioria do Conselho já estava familiarizada com o trabalho da Rits e a votação a favor acabou sendo unânime.” A APC é uma instituição que luta em prol de um mundo em que todas as pessoas tenham acesso fácil, equânime e financeiramente viável ao potencial das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a fim de desenvolverem suas vidas e criarem sociedades mais democráticas e igualitárias.
A APC que se conhece hoje – uma organização internacional baseada e administrada por seus membros – teve início em 1990, mas os fatos que levaram à sua fundação remontam a meados da década de 80, com uma história marcada pelo idealismo e pioneirismo. Em 1987, os ingleses da GreenNet (rede de ecologistas) começaram a interagir com ativistas da paz e do meio ambiente das redes PeaceNet e da EcoNet nos EUA que, juntos, estavam no processo de formação do IGC - Institute for Global Communications. Essas duas pontas, uma em cada continente, trocavam e-mails e realizavam conferências eletrônicas. Em 1989, redes na Suécia (NordNet), Canadá (Web), Nicarágua (Nicarao), Austrália (Pegasus) e Brasil (Ibase) já estava trocando mensagens. No ano seguinte, essas sete organizações fundaram a APC para coordenar o desenvolvimento daquela rede de redes que nascia então.
Foi assim que a APC nasceu e se tornou uma lenda no mundo da Internet. Hoje em dia é uma organização respeitada, tendo se tornado órgão consultivo das Nações Unidas em 1995 e conta com 28 membros em todas as regiões do mundo, dos quais o mais novo é a Rits. São os membros que governam a APC e definem - através do Conselho - as direções, políticas e agendas que a entidade vai adotar. Cada organização-membro indica um representante para o Conselho, que tem debates regulares através da Internet e, esporadicamente, em eventos presenciais. A Coordenadora da Área de Informação da Rits, Graciela Selaimen, é a pessoa que representa a Rits no Conselho e conta o que viu de mais positivo nos encontros dos quais já participou: “A troca de experiências e métodos é muito grande. Um membro aprende com o outro e, desse modo, tecnologias e conhecimento são compartilhados de maneira extraordinária, ajudando as organizações a concretizarem seu trabalho. Além disso, estar entre organizações dos mais diversos países que compartilham conosco objetivos e ideais é muito gratificante. Dá um sentido ainda mais abrangente ao nosso trabalho.”
Karen Higgs destaca o que a Rits pode levar de contribuição para as discussões da entidade: “A Rits tem experiência no trabalho em rede de ONGs, em políticas de acesso público, inclusão digital, desenvolvimento de softwares de código livre e conteúdo. Além disso, é baseada em um país com um histórico impressionante de apropriação das TICs e que, ainda assim, continua a enfrentar imensos desafios de exclusão digital. A contribuição da Rits ao debate internacional, portanto, vai ser tanto tecnicamente bem informada e sofisticada quanto enraizada nas demandas da sociedade.”
Característica importante para a associação da Rits à APC foi o alinhamento grande entre as propostas das duas instituições. Tanto uma quanto a outra defendem e lutam por questões como combate à exclusão digital, democratização e universalização do acesso à Internet, capacitação das populações menos favorecidas e menos inseridas para uso de novas tecnologias de comunicação etc. Paulo Lima, Secretário-Executivo da Rits, ressalta que a APC é uma organização identificada com questões com que a instituição brasileira atua desde que foi criada. “A entrada na APC nos dá uma chance única de difundir nossas ações e representa um movimento estratégico em direção a parceiros de importância internacional”, comentou ele.
Paulo assinala ainda a tradição, a confiança e a capilaridade que a APC carrega: “Gosto sempre de lembrar da importância da APC na ocasião do assassinato do Chico Mendes, em dezembro de 1988. Quando aconteceu o crime, quase ninguém sabia. Várias pessoas, começando na Amazônia, traduziram a notícia em diversas línguas e fizeram circular nas conferências da APC. Foi assim que o fato se tornou conhecido internacionalmente. O que poderia ser visto como apenas mais uma morte de um seringueiro se tornou um fato político de enorme repercussão ”. Ele e Graciela lembram também que o fato de a Rits ter se tornado membro da APC reinsere o Brasil na APC (o Ibase saiu em 1999) e na discussão internacional sobre a Sociedade da Informação. Esta é uma inserção fundamental, principalmente levarmos em conta a proximidade da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, prevista para acontecer ano que vem. “O Brasil estava fora da discussão, o que é incongruente - principalmente pela importância do país, o maior da América Latina, que tem fatia significativa do mercado de Internet, concentrando a maioria dos usuários (e serviços) da região”, afirmam.
"A Rits ganha muito participando da APC, que é uma instituição com tradição de doze anos, presente em 28 países e que foi pioneira em serviços de Internet para a sociedade civil, na luta pela democratização do acesso e decisiva na implantação ou estímulo à formulação de políticas públicas de democratização do acesso. Os seus membros também foram os pioneiros em oferecimento de acesso em seus países de origem e muitas vezes foram eles que incitaram o desenvolvimento desse campo nas nações em que estão estabalecidos", afirma Carlos Afonso, Diretor de Desenvolvimento da Rits e um dos fundadores da APC.
“Para a APC, enquanto organização, a entrada da Rits é estrategicamente muito importante. Regionalmente, o Brasil é um dos países com maior presença on-line e com uma sociedade civil extremamente madura e vibrante. A APC tem uma representação claramente forte na América Latina, mas não tínhamos um membro no Brasil nos últimos três anos”, diz Karen Higgs, que completa: “Quando estávamos trabalhando no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, tanto em 2001 quanto este ano, muitas pessoas vinham até nós e perguntavam quem eram nossos membros no Brasil. Ano que vem poderemos dizer: Rits!”
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer