Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
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O final do mês de junho está recheado de datas comemorativas ligadas à luta contra as drogas: na última quarta-feira, 19, foi lançada a IV Semana Nacional Antidrogas; o período entre 24 e 28 de junho marca a Semana da Luta Mundial Contra as Drogas e o Dia Internacional contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito é celebrado em 26 deste mês. Tantas datas são um reflexo da necessidade da luta contra a disseminação das drogas – luta na qual diversas ONGs estão envolvidas, com ênfase na promoção da cidadania junto aos usuários.
No Brasil, os dados mais atualizados sobre o consumo de drogas – lícitas e ilícitas – acabam de ser divulgados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), por ocasião do lançamento da Semana Nacional Antidrogas. O levantamento realizado pelo órgão - ligado ao Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – é o mais completo já feito no Brasil e se baseia em pesquisas feitas em 107 das maiores cidades brasileiras, todas com mais de 200 mil habitantes, ouvindo 8.589 pessoas.
Mais de 9 milhões de brasileiros já experimentarm alguma droga ilícita
A pesquisa revela que a maconha é a droga ilícita mais consumida, com 6,9% dos entrevistados já tenho experimentado a erva. Das drogas “lícitas”, o álcool é a de uso mais comum: 68,7% dos entrevistados já a experimentaram em algum momento da vida. Há dados que surpreendem: a segunda droga ilícita com maior índice de experimentação (ao menos uma vez na vida) foram os solventes (benzina, acetona, éter), com 5,8%. Surpreendeu também o uso de orexígenos (medicamentos utilizados para estimular o apetite): 4,3% dos entrevistados já os consumiram ao menos uma vez. Outro dado relevante trazido pela pesquisa diz respeito ao índice geral de uso de drogas ilícitas: 19,4% da população já experimentou uma dessas drogas, porcentagem que corresponde a mais de nove milhões de pessoas em todo Brasil. É importante ressaltar que esses dados dizem respeito tanto a dependentes quanto a usuários eventuais. Os principais índices de dependência apurados pela pesquisa do Cebrid apontam que 11,2% da população brasileira são dependentes de álcool; 9% de tabaco; e 1% de maconha.
A droga traz, além das conseqüências óbvias para a saúde física e psicológica do usuário, implicações sociais como o fortalecimento do narcotráfico – um problema para governos em todo o planeta.
Uma política antidrogas em um país como o Brasil deve, portanto, atacar todas estas instâncias. Nesse sentido e a fim de contribuir para transformar em algum grau essa realidade – ou parte dela – algumas ONGs desenvolvem ações diretas, seja na prevenção, no tratamento ou na discussão sobre o uso de entorpecentes. Entre estas experiências estão as da Aborda – Associação Brasileira de Redutores de Danos, do Projeto Excola e da ADQR – Associação Brasileira de Dependentes Químicos em Recuperação. Estas ONGs têm um objetivo em comum: promover a cidadania entre os usuários de drogas.
Ajuda através do entendimento
“Nosso objetivo é minimizar os possíveis danos e conseqüências do uso de drogas entre seus usuários”, afirma Cristiane Moema, psicóloga e diretora da Aborda. A Associação surgiu em 1997, como resultado da auto-organização de usuários de drogas, ex-usuários de drogas, técnicos de diversas áreas e pessoas afinadas com o propósito da prevenção da Aids e outras doenças.
Atualmente a Aborda é responsável pela articulação de cerca de 78 projetos de redução de danos causados pelo uso de drogas em todo país, que envolve uma rede de cerca de 40.000 usuários e presta consultoria e assessoria a organizações governamentais e não governamentais na área de drogas e aids.
Cristiane lembra que o principal objetivo da instituição não é necessariamente o de cessar o uso, mas sim o de reduzir os riscos associados ao uso das drogas e, dessa maneira, tirar o usuário da marginalidade social. “A abstinência não é o nosso principal alvo. O que fazemos não é tratamento. O nosso principal campo de trabalho é a busca de políticas mais democráticas relativas ao uso da droga. A política nacional oficial de combate à droga, apesar de já incluir o estímulo à redução de danos, é muito oito ou oitenta. Os usuários ficam divididos entre quem quer se tratar e quem não quer se tratar. E nós sabemos que não é bem assim. Há pessoas que não podem se tratar, não conseguem se tratar, não tem dinheiro pra tanto etc.”
O trabalho inclui não só a distribuição de seringas, mas também a capacitação de profissionais e organizações, o diálogo com o usuário. No futuro, a instituição quer estender o trabalho à produção de vídeos. No entanto, essa aceitação do uso e concessão de subsídios para que o usuário o realize não pode ser um incentivo à droga? “Não. Trata-se de tirar o usuário da marginalidade, dar menos importância à droga e mais à pessoa, dar autonomia e reflexão. A autonomia é mais verdadeira”.
De acordo com Cristiane, muitos usuários, depois de começarem a aplicar a redução de danos no seu dia-a-dia, procuram ajuda com mais facilidade e rapidez do que outros que não adotam atividades semelhantes.
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