Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
No dia 16 de junho foi inaugurada em São Paulo a mais nova loja de comércio justo do Brasil, a Mundaréu. A iniciativa é da Fundação Mundaréu, primeira organização brasileira a trabalhar com esse conceito no país, que existe há mais de 30 anos na Europa.
O comércio justo procura promover melhores condições de troca para produtores excluídos e desprivilegiados (clique no site da Federação Internacional de Comércio Alternativo, IFAT, ao lado, para saber mais ).
A experiência da Mundaréu não só estimula a produção e capacitação dos envolvidos, como fornece um canal de escoamento próprio. “Percebemos que as ações dos governos e do terceiro setor tinham foco na capacitação, mas não garantiam emprego e venda. Havia um estrangulamento da produção”, diz Lizete Prada, coordenadora geral da Mundaréu.
A Fundação Mundaréu, criada no ano passado, junta-se a outras organizações internacionais que já desenvolvem o comércio justo em território brasileiro, como a Visão Mundial (organização presente em mais de 90 países e que exporta castanhas e melão produzidos no semi-árido nordestino, conferindo aos produtores um ganho médio de 68% em relação ao que o mercado pagava em média).
Loja da Mundaréu na Vila Madalena
Voltada para a venda de produtos artesanais feitos por 11 comunidades da grande São Paulo e mais 14 de várias regiões do Brasil, a loja fica no bairro paulistano da Vila Madalena. A escolha do local foi feita após pesquisa de opinião com consumidores em potencial da cidade. O perfil dos freqüentadores da loja é de classe média, em sua maioria mulheres com bom nível de instrução.
Esse público se interessa pelo diferencial dos produtos: são feitos por pessoas excluídas do mercado, organizadas em cooperativas ou grupos de trabalho. Além disso, as mercadorias possuem um valor agregado de cunho social: há garantia de que não é utilizada mão-de-obra infantil, os processos de produção são democráticos e há uso sustentável da matéria prima (seja ela oriunda de zona rural ou urbana). Todos esses ítens fazem parte do conceito de comércio justo. Mas tudo isso não garante qualidade. Essa é a razão de haver acompanhamento da produção por parte da Fundação Mundaréu.
Esse processo é necessário para alcançar-se um perfil competitivo e um padrão mínimo de qualidade. Como são produtos artesanais, não há garantia de que todas as unidades são iguais. Por isso são realizadas atividades de acordo com as necessidades de cada cooperativa. Entre elas estão oficinas com artistas plásticos. “Muitas pessoas envolvidas não possuem instrução e, por isso, alimentar seu imaginário de referência é importante”, explica Prada, da Mudaréu.
Sucesso de vendas
O retorno do público tem sido bom. Em menos de uma semana de funcionamento, a loja já vendeu mais de 25% de seu estoque. Parte do sucesso, reconhecem os representantes da Mundaréu, se deve à novidade do empreendimento.
Para manter as vendas, atividades culturais serão organizadas na loja para atrair consumidores. Está nos planos também a venda dos produtos no atacado, em feiras e eventos. O lucro conseguido é revertido para um fundo gerenciado pela Fundação, que serve para financiar compras à vista de matéria-prima e outros materiais de trabalho. Existe ainda uma oficina de gestão financeira para os participantes calcularem preços e compras.
Para os produtores, uma das vantagens de participar de uma rede de comércio justo é o retorno da produção – muito maior do que se vendessem para comerciantes tradicionais. “Mas não é só isso”, diz Dina Broide, da Aldeia do Futuro, cooperativa que produz artesanato a partir de sobras de tecidos em São Paulo. “O projeto também possui uma parte ideológica e didática muito importante, que valoriza quem faz. Não é só porque é mais barato que se compra: há a certeza de que não há mão-de-obra infantil empregada, como é comum acontecer com outros artesanatos”, completa.
Prestação de contas e transparência
Além da ideologia, a divulgação dos trabalhos é vista como um ótimo atrativo. “Estar num bairro que concentra um determinado público consumidor, que gosta de artes, é ótimo. Atingimos pessoas que normalmente não pensam muito na parte social de um produto”, diz Graziela Bedoinan, da Agência Quixote Spray Arte, que vende na Mundaréu camisetas e artes em grafite.
A transparência é fundamental tanto para os participantes quanto para a Fundação. Está sendo desenvolvido um boletim de prestação de contas para ser distribuído aos produtores e na loja. Como não há custo operacional (o patrocínio da Fundação Telefônica serve como subsídio), os produtos podem ter preços baixos, porém sustentáveis. Em um ano de funcionamento, acreditam os organizadores, será possível manter a loja sem ajuda financeira externa.
As vendas podem aumentar ainda mais se o público consumidor for conscientizado. Para tanto, serão organizados debates, em julho, com entidades de comércio justo, de defesa do consumidor e consumo consciente.
Por ser um empreendimento recente, nem todas as parcerias estão com detalhes acertados. Ainda faltam pontos a serem negociados, como o preço final de alguns produtos. “A idéia é ir acertando o que for melhor para os dois lados”, explica Graziela Bedoinan.
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