Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Duas das maiores organizações não governamentais do mundo, a Care e o WWF, decidiram unir suas forças para ajudar a erradicar a miséria conservando a natureza. O Brasil é o primeiro país a implementar a parceria, anunciada em junho, que prevê ações de promoção de justiça ambiental e social onde as duas organizações desenvolvam projetos. Além disso, as duas entidades elaborarão em conjunto políticas que dêem à população maior controle sobre os recursos naturais de suas comunidades.
A parceria é fruto das reuniões preparatórias à Conferência Rio + 10, a ser realizada em Johanesburgo, África do Sul, no final de agosto. Durante os encontros, percebeu-se que as propostas das duas entidades coincidiam: ambas insistiam na importância de não se dissociar as questões ambiental e da pobreza. “A degradação é uma causa da pobreza, que por sua vez também gera danos ambientais”, diz Marcos Athias Neto, diretor executivo da Care Brasil.
Inicialmente, parceria é baseada em princípios
A parceria entre a Care e o WWF é inédita por se dar de maneira estratégica e coordenada. Ao mesmo tempo leva adiante uma das demandas da Organização das Nações Unidas (ONU) na Rio+10, a de “parcerias de tipo 2”, que prega acordos de colaboração entre organizações da sociedade civil preocupadas com desenvolvimento sustentável. O Brasil foi o primeiro país a tornar público os princípios do acordo entre as entidades e iniciar a identificação de ações.
A parceria, no Brasil como no resto do mundo, será, por enquanto, baseada apenas em princípios. Depois podem surgir projetos, campanhas de mobilização e de advocacy . A intenção, porém, é sempre partir da especialidade de cada uma e respeitar o que foi construído ao longo dos seus anos de existência
Projetos comuns no sul da Bahia
As duas organizações desenvolvem trabalhos em uma mesma região rural brasileira, localizada no sul da Bahia. A Care executa projetos de geração de renda a partir de agricultura sustentável próxima à Reserva Biológica do Una, uma faixa de mata atlântica de sete mil hectares em Ilhéus. Na mesma região, o WWF luta pela preservação ambiental e estimula a geração sustentável de renda. A Care também possui interesse em participar de projetos do WWF na Amazônia.
Entre as ações planejadas pelas organizações estão capacitações e campanhas de educação entre os pequenos agricultores para introduzir técnicas agrícolas que poluam menos. Também está nos planos formar guias turísticos para gerar renda de forma alternativa (sempre respeitando o tripé do desenvolvimento sustentável: ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente equilibrado).
“Estamos otimistas com a arrecadação de fundos para projetos. A Care e o WWF são organizações com grande capacidade de mobilização e de arrecadação em todo o mundo”, lembra Analuce Freitas.
A Care está há menos de um ano no Brasil - chegou em agosto do ano passado - mas existe há 55 anos em diversas partes do mundo, onde realiza ações humanitárias. Já o WWF traz na bagagem 12 anos de trabalho ecológico no Brasil, além de possuir dezenas de iniciativas espalhadas por vários estados brasileiros.
Preocupação com pequenos produtores
De acordo com as entidades, a parceria é necessária pela situação em que se encontram os pequenos produtores rurais, vítimas de políticas desfavoráveis. Segundo documentos das organizações, se por um lado os países em desenvolvimento experimentaram um grande crescimento econômico nos últimos 20 anos, por outro essa expansão dificilmente respeitou e preservou os recursos naturais, além de excluir considerável parcela da população. A contradição é ainda mais forte nas zonas rurais, que concentram as camadas mais pobres e os ecossistemas mais valiosos. “É um momento propício para o anúncio de uma ação objetiva”, diz Analuce Freitas, coordenadora de políticas públicas do WWF.
Existem duas idéias principais que perpassam os termos do acordo. A primeira é aumentar o controle da população rural sobre os recursos naturais e melhorar a capacidade das comunidades de gerir estes recursos de forma sustentável. O segundo procura “garantir que as populações rurais pobres sejam justamente compensadas por seu papel de guardiões das funções e dos serviços ambientais rurais que beneficiam seu próprio país e o planeta”.
Ambas idéias abordam um problema muito comum em áreas rurais. Muitos agricultores ficam sem local para trabalhar pois não podem mais retirar seu sustento da mata por ela estar degradada ou sob leis de proteção ambiental. A opção, portanto, é oferecer uma alternativa de renda e ainda estimula-los a conservar a natureza – afinal, são eles quem mais entendem da área em que vivem e por isso são também os mais aptos a preservá-la.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer