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Mães são freqüentemente mal tratadas em delegacias

Autor original: Rogério Pacheco Jordão

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

As mães também são cadastradas quando chegam e logo em seguida encaminhadas à delegacia, mas nunca sem antes receber orientações quanto aos procedimentos necessários para dar queixa do desaparecimento de filhos e filhas. Uma das recomendações é não esperar a polícia começar as investigações para iniciar as buscas. O caminho é reunir parentes e visitar, por mais difícil que seja, locais onde não se gostaria de encontrar o procurado como o Instituo Médico Legal. A orientação é válida, pois após 30 dias sem ser reconhecida, a vítima é enterrada como indigente.


O sofrimento das mães é ainda maior ao falar com os policiais. Freqüentemente elas são mal tratadas ao dar queixa do desaparecimento. De acordo com a organização, as autoridades mandam esperar 24 horas para confirmar o desaparecimento e só assim efetuar o boletim de ocorrência –apesar de não haver nenhuma lei que ordene essa prática. Além disso, presumem que os desaparecidos fizeram algo errado e transferem toda a responsabilidade pelo desaparecimento para os familiares. “As mães já passaram por todas as humilhações e suspeitas possíveis. Se tivesse dinheiro, já teria eu mesma ido procurar quem sumiu”, afirma Ivanize.


Outra queixa usual é a demora nas investigações para encontrar os desaparecidos. A situação, porém, parece estar melhorando. Já há uma delegacia especializada em São Paulo (a DHPP - Delegacia de Pessoas Desaparecidas) que trabalha em parceria com organizações sociais, trocando informações e denúncias. “Muitos delegados fazem pouco caso com desaparecimento, mas a situação já foi pior. Eles precisam se conscientizar que interessa o desaparecimento da criança ou jovem e não a sua causa. A causa nesse momento é secundária”, diz Vera Lúcia.


Os desaparecidos


A maioria dos casos é de fuga, resultado de conflitos familiares. A ausência das mães é uma das principais causas, pois as crianças se sentem sozinhas em casa e acabam fugindo. Essas ocorrências, entretanto, são as mais fáceis de serem resolvidas, pois as crianças desaparecidas, quando não voltam por iniciativa própria, se fazem encontrar ao freqüentar lugares movimentados e conhecidos dos parentes. O maior problema é o medo e a vergonha dos pais. Ainda assim, eles chegam até mesmo a trocar de nome e falsificar documentos. Há um caso em que uma adolescente comprou uma carteira de identidade por R$ 50 para tentar fugir do país.


A gravidade é maior quando o desaparecimento é voluntário. As crianças geralmente somem no caminho da escola para casa ou ao brincar na rua e seu destino é o tráfico de pessoas ou de órgãos, que chegam a ser enviados até para fora do país.


Não existem números oficiais ou pesquisas recentes sobre o tema, mas a ABCD estipula em 204 mil os desaparecidos em todo o país. Porém, esse número é maior, pois não leva em conta o fato de muitas famílias não se manifestarem.


Soluções


O público atendido pela ABCD é formado por pessoas de baixo poder aquisitivo e por isso as fundadoras cobram do Estado mais ação. “É difícil apontar uma solução, acho até que não há resposta, mas há meios de melhorar”, diz Vera Lúcia. Tanto Vera quanto Ivanize afirmam que medidas simples como uma polícia mais disposta e preparada e escolas em tempo integral ajudariam bastante. Mas de qualquer forma, “se o Estado não cumpre seu papel, a sociedade tem que cobrar, não pode ficar parada”, diz Ivanize.


No site é possível acessar o cadastro para buscar fotos de crianças de acordo com a cor dos cabelo, olhos e pele e idade aproximada. O banco de dados da organização possui 580 pessoas desaparecidas e 115 já foram encontradas a partir do trabalho dessas mães. O simples ato de prestar mais atenção às fotos divulgadas é uma forma de colaborar na procura das crianças. Outra é comparecer aos protestos dominicais, cuja presença é variada, mas sempre reúne pessoas –até mesmo de fora da cidade de São Paulo- em busca de solidariedade e apoio. Assim é possível ajudar um trabalho feito com muita força de vontade e pouco dinheiro. É hora de todos se encontrarem para buscar quem está desaparecido.


Contato


Contatos com a Associação Brasileira de Busca e Defesa à Criança Desaparecida podem ser feitos pelo telefone (11) 3337-3332, nos encontros na Praça da Sé, em São Paulo, sempre nas manhãs de domingo ou na própria sede, localizada na Rua Pedro Américo 32, 13o andar, Centro de São Paulo.


 


Marcelo Medeiros

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