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Violência: há luz no fim do túnel

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets






Paulo Duarte/Rits

"Falta falar menos em violência e no que ela pode produzir e mais na paz, no que ela pode promover". A frase, dita pela coordenadora do projeto Ciranda da Paz, a recifense Veridiana Gouveia, resume bem o que as organizações do terceiro setor que atuam com o tema da violência no país buscam em seus trabalhos. Em Pernambuco, o projeto de Veridiana atua nas escolas e reduziu casos de infração. No Espírito Santo, mães lutam para levar à justiça policiais ligados ao crime organizado que mataram seus filhos. No Rio de Janeiro, o Disque-Denúncia do Movimento Rio no Combate ao Crime recebe mais de seis mil denúncias por mês, ao mesmo tempo em que o Viva Rio participa da destruição de dez mil armas. Em São Paulo, o Instituto Sou da Paz promove campanhas de desarmamento. Na linha de frente de um dos temas sociais mais complexos do Brasil atual - a violência - estas organizações parecem ter um objetivo em comum: acender uma luz no fim do túnel.

"A mobilização deve ser permanente e não pontual", resume o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj. E o desafio é enorme. "A sociedade está refém". "Não tem mais jeito". "O poder paralelo manda". "Ninguém tem mais segurança". Frases como estas são comuns quando fala-se de violência no Brasil. Violência esta que, a cada fato que ganha repercussão na mídia, como a famigerada morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, ou a fracassada intervenção federal no Espírito Santo, parece ficar ainda mais insuportável - ou invencível. "A criminalidade vem crescendo e se modificando nos últimos dez anos A violência aumentou na proporção em que o estado historicamente foi ficando ausente. Se ele abandona, alguém ocupa. A criminalidade se instalou. Agora, deve-se tomar de volta", opina Roberto Podval, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), ONG fundada há 10 anos por advogados e juristas com a intenção de discutir causas, legislação e demais temas relacionados ao crime. Ele acredita que as ONGs podem ajudar na recuperação destes espaços, pois têm liberdade de atuação e pensamento.

Para Rubem César Fernandes, presidente do Viva Rio, as ONGs cumprem um papel importante ao serem produtoras de informações e, portanto, de diagnósticos e projetos. "Não somos Estado. Participamos com projetos", diz. "A qualidade da informação melhorou. É o principal avanço", afirma, ao fazer um balanço da atuação das ONGs na questão da violência. Para o antropólogo, a violência deixou de ser um assunto de "segurança nacional", como o era até o início da década de 1990, tratado exclusivamente por setores do Exército e da polícia, e passa, cada vez mais, a ser compreendido como uma questão "pública" ou da cidadania.

Eficácia

Um dos principais projetos do Viva Rio foi a recém-completada informatização dos arquivos de armas apreendidas e vendidas no Rio de Janeiro. O projeto, sem custos para o Estado, gerou um arquivo com dados de 700 mil armas (500 mil vendidas e 200 mil apreendidas). "Descobrimos, por exemplo, que havia um mito de que as armas utilizadas eram longas, tipo AR-15 e outras. De cada dez armas apreendidas e vendidas, na verdade, nove são de pistolas e revólveres.", afirma Rubem Cesar.

Além disso, o Viva Rio promoveu no ano passado, junto com o governo do Estado, a maior destruição simultânea de armas de fogo, 100 mil. Em 2002, promoveu no dia 12 de julho (em comemoração ao Dia Internacional de Destruição das Armas, celebrado em 9 de julho, desde o ano passado, por instituição da ONU) a destruição de 10 mil armas de fogo apreendidas durante o ano de 1997. A entidade também lançou o Desarme.org, site voltado para o assunto.

Em São Paulo, mais de 40 mil denúncias

O Instituto Sou da Paz também marcou a data realizando ato público no Vale do Anhangabaú, com shows, ato ecumênico, destruição de armas e uma passeata silenciosa com sapatos de vítimas de armas de fogo. O Instituto nasceu justamente da luta por menos armas nas mãos de civis, por iniciativa de estudantes de direito, que criaram em 1997 a Campanha Sou da Paz pelo Desarmamento e contra a Violência.

Outra iniciativa nascida da sociedade civil e que tem sido exemplo do que esse setor pode fazer são os serviços de disque-denúncia. No Rio, o serviço surgiu em 1995, no Viva Rio, e hoje está ligado a uma outra ONG: o Movimento Rio de Combate ao Crime. Nos seis anos de atividades, o serviço já recebeu mais de 600 mil denúncias, ajudou a prender bandidos importantes, como Marcinho VP, e a libertar vítimas de seqüestro. Segundo a gerente de análise do disque-denúncia, Adriana Nunes, o serviço recebe cerca de 6 a 7 mil denúncias por mês, sendo 35% referente ao tráfico e 13% referente a roubo e furto de veículos.

Em São Paulo, o disque-denúncia nasceu em 2000 e é operado pelo Instituto São Paulo contra a Violência. A instituição foi fundada em novembro de 1997 como resultado do Seminário São Paulo Sem Medo, com a missão de desenvolver políticas, programas e ações para reduzir a criminalidade e a violência e aumentar a segurança dos cidadãos no estado de São Paulo. O serviço telefônico, em seu primeiro ano de operação, recebeu mais de 40 mil denúncias que foram encaminhadas à polícia.

Para o secretário-executivo do Instituto, o pesquisador Paulo Mesquita, já se pode sentir o efeito da atuação das ONGs, com algumas reduções nos índices de criminalidade. "Mas, não é a atuação de uma só instituição. Isso pode ser considerado o sucesso dos grupos que trabalham com a questão".


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