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Medições da violência

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Nas grandes capitais brasileiras a violência é um tema candente: estudos apontam que ela não pára de crescer desde a década de 1980. Segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (do Ministério da Saúde), a proporção de mortes violentas, dentre todos os casos de morte no Brasil durante a década de 1980, passou de de 9% para 12%. Esta tendência não foi revertida e, cada vez mais, morre-se em função de homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes suspeitas.


Mas, para além dos dados, existe, na opinião de especialistas como o sociólogo Ignácio Cano, da UERJ, uma “percepção cíclica da violência”. Esta percepção é gerada por fatos como o assassinato do jornalista da TV Globo Tim Lopes (morto em 2 de junho, ao fazer uma matéria no complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro) ou a fracassada intervenção federal no Espírito Santo (que traz à tona a fragilidade da autoridade do Estado). “Toda essa discussão sobre um poder paralelo, que parece que foi criado do dia para a noite, é na verdade uma situação histórica. É um escândalo o que aconteceu com Tim Lopes, mas é um escândalo também o que acontece todo dia”.


À frente do Laboratório de Análises da Violência, ligado à Faculdade de Ciências Sociais, da UERJ, o sociólogo defende que, na elaboração de políticas públicas, tenham mais peso as informações objetivas do que fatos isolados. Para ajudar nisso, o Laboratório está empenhado em propor índices de criminalidade e violência, baseando-se em três fatores conjugados: crimes violentos letais (homicídios, latrocínio e mortes suspeitas), crimes violentos não letais (estupro e ameaças) e crimes violentos contra o patrimônio (roubo e furto de carros e a residências).


O também sociólogo Michel Misse, do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECCVU), da UFRJ, concorda que atos violentos “impactantes”, porém isolados, geram situações superestimadas. “Ocorrem ondas de medo que nem sempre acompanham um aumento real da violência. Criam uma sensação de insegurança que não ajuda em nada. Acho importante que a imprensa divulgue informações, denuncie. Mas, pode acabar banalizando a violência”, diz ele. Para tentar medir a violência com mais fidelidade o NECCVU acaba de realizar uma pesquisa de vitimização. Foi-se direto às casas das pessoas, perguntando quem foi vítima de crimes, quais violências sofreu, quantas vezes etc. A intenção é obter dados mais acurados dos que os oficiais, os quais muitas vezes são inferiores à realidade pelo fato de as pessoas simplesmente não prestarem queixas. O levantamento de dados já foi concluído e o resultado final sai em agosto.


 


Maria Eduarda Mattar e Rogério Pacheco Jordão.

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