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Superando obstáculos

Autor original: Rogério Pacheco Jordão

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

A sociedade contemporânea é classificada por muitos teóricos como a “sociedade da informação”. Nela, é muito importante o acesso aos meios de comunicação, por todos, sem exceção. O uso de tecnologias como programas de computadores, portanto, se faz cada vez mais necessário. Algumas pessoas, no entanto, encontram dificuldade para acessar a rede de computadores ou mesmo de escrever e ler simples textos digitalizados. É o caso dos cidadãos portadores de deficiência auditiva e visual – que dessa forma ficam excluídos do mercado de trabalho e do acesso a informações. Mas já há soluções surgindo. Uma delas é o Ceta (Centro de Tecnologia Adaptada), em funcionamento desde meados de junho na sede da Associação para a Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), em Santo André (SP),  fruto de uma parceria com a empresa de computação IBM. 

O centro, que já está aberto ao público, alia a experiência da AVAPE no trabalho de reabilitação clínica e profissional de pessoas portadoras de deficiência aos produtos do Centro de Acessibilidade da IBM, localizado nos EUA. A empresa norte-americana cedeu seis computadores e três programas voltados para pessoas com necessidades específicas. Um deles reconhece voz para que o portador possa comandar o computador oralmente (Via Voice), outro é usado para melhorar a comunicação verbal de pessoas com problemas de fala e audição (Speech Viewer) e o terceiro lê páginas de internet para portadores de deficiência visual (Home Page Reader).

Experiência será repassada para escolas e universidades

Para lidar com os novos equipamentos, a Avape está treinando 30 profissionais, da unidade de Santo André e de suas outras dez unidades espalhas pelo Estado de São Paulo e Rio de Janeiro (em Resende). A idéia é que a experiência seja, posteriormente, difundida para essas unidades e também para outras instituições, como universidade e escolas. Foram escolhidos especialistas de áreas diversas como fonoaudiologia, assistência social e medicina que já tivessem familiaridade com programas eletrônicos. Dessa forma, a capacitação é facilitada e as dificuldades de aprendizado não têm sido grandes.

Essas pessoas deverão ensinar outros funcionários da Avape e de outras instituições a utilizar a novidade e também alimentar os pesquisadores da IBM com informações sobre o uso dos softwares. A Avape foi escolhida pela multinacional por atender desde bebês em situação de risco a adultos.

Para passar a experiência e os aprendizados adquiridos adiante, está sendo montada uma estrutura de multiplicadores. “É uma jornada árdua, mas muito interessante”, afirma Eliana Acioli, gerente de reabilitação da Avape.

Utilização do equipamento dependerá do tipo de deficiência

Mas a utilização dos equipamentos dependerá do paciente e de sua patologia, pois a tecnologia não é utilizável em todos os casos. A partir do estudo de aplicação, serão sugeridas à IBM mudanças nos programas para que eles possam se tornar mais eficientes.

Esse tipo de programa pode ser classificado como TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) ou tecnologia assistiva, pois facilita a utilização de computadores pelos indivíduos com necessidades específicas. Essa tecnologia abre o leque de possibilidades de trabalho para pessoas com necessidades especiais e dessa forma ajuda a superar paradigmas ainda existentes como os que afirmam serem os portadores incapazes de trabalhar normalmente. “Essas pessoas possuem uma eficiência acima da média. Basta dar chance a elas”, lembra Eliana.

Apesar de poucas pessoas já estarem utilizando os programas, a reação está sendo positiva. Muitos ficam felizes ao saber que poderão usar computadores em breve e assim se inserir no mercado de trabalho. Outro aspecto positivo é a possibilidade que esse tipo de atendimento abre para que portadores de deficiências com baixo poder aquisitivo possam utilizar computadores. “Através de soluções tecnológicas desenvolvidas pela IBM, pessoas com necessidades especiais têm a oportunidade de adaptação e inclusão no cotidiano e no mercado de trabalho. É preciso retirar as escadas da internet”, afirma Ana Claudia Figueiredo, do departamento de relações públicas da empresa.

O impacto do uso dessas novas tecnologias, porém, só poderá ser medido dentro de um ano, no mínimo. Apenas nesse prazo é possível avaliar as metodologias utilizadas. De qualquer forma, um aspecto positivo já foi verificado: o aumento da auto-estima dos que participam das atividades, algo fundamental num trabalho de recuperação e inclusão na sociedade. Afinal, não são só eles que devem se integrar à sociedade, mas esta também tem a obrigação de abrir espaços para que seus cidadãos possam viver melhor.


 


Marcelo Medeiros

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