Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
A falta de preparo de hospitais públicos para o atendimento a pessoas portadoras de HIV motivou, em 1994, o movimento Solidaried’Aids a promover um serviço telefônico pago voltado para o esclarecimento de dúvidas sobre o vírus. Dois anos depois, foi fundada a Associação Brasileira de Assistência a Crianças com Aids, a Casa Sol, financiada por esses recursos. Surgida de um gesto de solidariedade, a Casa Sol é, atualmente, uma referência no tratamento de pessoas com Aids, prestando atendimento odontológico e psicológico a 1300 crianças e adolescentes portadores de HIV e a suas famílias em São Paulo. Muitos desses jovens chegam encaminhados por hospitais ou centros de tratamento que não possuem o equipamento necessário ao tratamento.
A saúde bucal é importante para todas as crianças, independente de serem soropositivas ou não. Porém, estas necessitam ainda mais de uma dentição saudável. Além de melhorar a qualidade de vida ao eliminar as dores, o tratamento evita que a boca seja alvo de infecções, muito perigosas para quem possui baixa capacidade de defesa imunológica. Além do mais, uma boa saúde bucal também ajuda a melhorar a alimentação das crianças, prolongando sua expectativa de vida. A idéia de fundar uma organização cujo objetivo fosse oferecer serviços odontológicos surgiu da procura por remoções feitas pela primeira aquisição vinda das ligações: uma ambulância que transportava gratuitamente soropositivos. Muitas chamadas eram relacionadas a crianças com problemas dentários que não conseguiam tratamento adequado na rede pública e por isso pediam transporte para outros hospitais até conseguirem ser atendidas.
O público atendido não se resume, contudo, às crianças e adolescentes portadores de HIV. “Não podemos desmembrar famílias”, diz a psicóloga Luciana de Mello. Por isso, irmãos e parentes próximos também sentam na cadeira dos dentistas e recebem orientações de higiene bucal e kits de escovação, com pasta de dente, escovas e flúor - material doado por uma empresa.
Parceria com o hospital Emílio Ribas
Na matriz da Casa Sol, localizada no bairro de Santa Cecília, existem dois consultórios odontológicos, gibiteca e brinquedoteca com atividades de pintura e jogos infantis. Em 2000, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas cedeu um espaço de 50 metros quadrados ao lado do hospital (na Av Dr. Arnaldo, na capital paulista) para a instituição, que fundou lá sua filial Circo Fábrica de Sorrisos Casa Sol. O nome se deve ao fato de o espaço cedido ser coberto por uma lona colorida.
Somadas, as duas unidades atendem de 1300 a 1500 crianças, sendo que cerca de 400 estão em tratamento e as restantes voltam a cada três meses apenas para aplicação de flúor, revisão e orientação de higiene bucal. Elas chegam à Casa encaminhadas por hospitais ou centros de referência no tratamento de Aids que reconhecem a qualidade do trabalho da Casa Sol e não possuem consultórios dentários especializados no atendimento infantil ou não prestam serviço odontológico. Por mês, são realizados 260 atendimentos pelos três dentistas disponíveis.
O trabalho informativo não se resume aos odontologistas. Há alguns anos foi introduzido um serviço psicológico, que realiza 40 consultas semanais, metade em cada unidade. Os motivos para esse atendimento são vários. Desde crianças com medo de dentista a adolescentes que rejeitam o tratamento dentário e anti-aids. Os jovens são os casos mais complicados. “As crianças pequenas lidam bem com a doença e a prevenção - e por não saberem que têm Aids falam apenas dos sintomas. Os adolescentes, por outro lado, muitas vezes rejeitam o tratamento anti-aids - que é pesado - e se revoltam. Não é fácil saber que sua doença não tem cura, por isso temos que ser bastante compreensivos. Nosso trabalho é convencê-los a batalhar por seus sonhos, independente da expectativa de vida”, explica Luciana.
A instituição recebe doações de produtos de higiene pessoal, alimentos, móveis e roupas, que são repassados às famílias das crianças atendidas, geralmente de poder aquisitivo muito baixo. Voluntários também são bem-vindos, apesar de hoje apenas uma pessoa trabalhar voluntariamente na organização, ainda assim na parte recreativa. Muitos profissionais alegam falta de tempo para poder prestar serviço, mesmo tendo interesse em colaborar. O combate à Aids é feito com solidariedade, por isso os interessados podem entrar em contato com a Casa Sol pelo telefone (11) 3666-9310.
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