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"Trabalho Social com Família"

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

A Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) acaba de lançar a cartilha “Trabalho Social com Família” (R$ 10,00), onde expõe seu método de trabalho a todos os interessados em desenvolver atividades de reestruturação familiar. A organização trabalha com crianças, adolescentes e seus parentes desde 1982. A ação da ABTH é voltada, prioritariamente, para a reintegração familiar de pessoas em situação de rua e também para cidadãos de menor poder aquisitivo que buscam reestruturar suas famílias. As informações e conhecimentos agregados nestas duas décadas de trabalho serão, agora, sistematizados na série “Defesa à convivência familiar”, da qual a cartilha é a primeira publicação.


Dividida em sete tópicos (Apresentação; Contextualizando a Família na História; Sistemas Familiares; Metodologia de Trabalho; Rede Social de Apoio à Família; Considerações Fianis e Referência Bibliográfica), a cartilha discorre sobre a história social das famílias, os sistemas familiares, metodologia de trabalho e redes sociais de apoio.


A idéia de família, segundo a cartilha, é construída de acordo com os contextos históricos e sociais. Isso lhe dá características diferentes em cada época. A década de 1990 viu surgir, por exemplo, novas estruturas, fazendo o modelo com apenas um dos pais presente se tornar comum e até mesmo inevitável, principalmente nas classes menos favorecidas (classificadas como “família de baixa renda”, típica das grandes cidades). Entre as peculiaridades dessa nova organização estão a sobrecarga das funções da mulher – que é, ao mesmo tempo, vista como elemento estabilizador do grupo-, além de problemas associados à alimentação, moradia e proteção às crianças. Isso traz aos assistentes sociais, psicólogos e profissionais de organizações sociais novos desafios, que devem ser entendidos dentro de contextos mais amplos e não isoladamente.


Metodologia sistêmica


Neste contexto a Terra dos Homens desenvolveu o que se chamou de “metodologia sistêmica”, que adota em seus trabalhos. A família, por ser ter mais de uma pessoa e possuir relações com outros elementos da sociedade, é entendida como um sistema. Logo, para entender um padrão de comportamento, um profissional deve explorar esses vínculos. A mudança de um núcleo desse sistema afeta todos os outros núcleos, desencadeando reações em cadeia. “Podemos considerar a família como uma entidade e ver o indivíduo como parte dessa unidade. O comportamento individual interessa enquanto interfere e sofre interferências dos outros elementos do sistema familiar”, afirma a cartilha.


A cartilha reforça que o profissional que trabalha com a assistência à família deve levar em conta aspectos mais amplos, tais como: a classe sócio-política-econômica, etnicidade, nicho ecológico, configuração familiar, ciclo vital (nascimentos, incorporações e falecimentos), organização familiar, hierarquia e fronteiras entre os membros da família (se um invade o espaço do outro). Ao levar em conta esses itens, os profissionais passam a compreender os significados mais amplos (levando-se em conta todos os fatores) de cada comportamento.


A cartilha traz também dicas práticas, por exemplo, descrevendo como deve operar o profissional no momento da entrevista com as famílias. De acordo com os teóricos da teoria geral dos sistemas, o entrevistador, antes mesmo de começar seu trabalho, deve conhecer a própria família, avaliar seus sentimentos e história familiar. Só depois deve prestar atenção aos detalhes do comportamento familiar. “Ao observar os membros de uma família, é importante que encontre parte de si próprio neles, e quando estes olharem para o técnico, é preciso que vejam uma pessoa humana à sua frente”, lembra o teórico italiano Maurizio Andolfi, citado na cartilha.


O método utilizado pela ABTH em seu trabalho compreende entrevistas, visitas domiciliares, formação de grupos de pais e articulação de redes de serviços. “Após visitarem e criarem vínculos com as famílias, nós chamamos os pais para os grupos. Na maioria dos casos, a recepção é positiva, mas há exceções. Quem nega a participação geralmente está acostumado com discursos coercitivos de assistentes tradicionais”, diz Cláudia Guimarães, coordenadora de projetos da organização. Aí a metodologia faz diferença. “Mostramos que a família não é problema, mas solução”, complementa.


Por meio de parceria com a Fundação para a Infância e Adolescência, vinculada à Secretaria de Estado de Ação Social e Cidadania do Rio de Janeiro, a Terra dos Homens atende, em todo o estado, 200 famílias carentes, que recebem uma ajuda de custo de R$ 180 a R$ 280 por mês para participarem do programa de reestruturação familiar. Outros projetos em andamento estão na cidade do Rio (projeto “Criança Acolhedora” em parceria com a Prefeitura que atende a 560 crianças em situação de rua em processo de reintegração), Maceió (AL) e Campos (núcleo de formação, voltado para o treinamento de profissionais).


A intenção é ampliar os projetos. Por isso a organização promove workshops e cursos internos com duração de um ano com custo de R$ 100 por mês voltados para profissionais. Todos eles procuram aplicar à atividade social o pensamento sistêmico e oferecer instrumentos para os estudos teóricos. A Terra dos Homens pode ser contatada pelos telefones (21) 2286-0866 e 2286-3771.


Marcelo Medeiros

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