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Campo e comunidade: um casamento que dá certo

Autor original: Rogério Pacheco Jordão

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor


Em outubro próximo, o Centro de Assessoria ao Movimento Popular (Campo) completará 15 anos, com muitos motivos para comemorar. No decorrer desta trajetória dezenas de projetos de base comunitária assessorados pela organização se desenvolveram e garantiram auto-sustentabilidade. Atualmente, são, no Rio de Janeiro, cerca de 50 projetos assessorados pelo Campo, que estão melhorando a qualidade de vida das suas comunidades e possibilitando que os menos favorecidos se tornem atores importantes de mudanças sociais. "Temos orgulho de dizer que, até hoje, nenhum projeto assessorado pelo Campo parou de funcionar", comemora Francis Bossaert, um dos coordenadores do Campo.

O Campo apóia movimentos de organização popular que queiram lutar pela conquista dos direitos básicos para os menos favorecidos das suas comunidades. Lideranças comunitárias dos bairros populares do estado do Rio de Janeiro encontram no Campo apoio para criar e desenvolver projetos que beneficiem as suas comunidades.

O Campo assessora projetos das áreas de capacitação profissional, geração de trabalho e renda, educação infantil e escolar, e educação ambiental. De acordo com essas linhas são apoiados creches, brinquedotecas, projetos de complementação escolar e de alfabetização de adultos, cursos profissionalizantes e de línguas, pré-vestibulares, projetos de preservação do meio ambiente, de saúde, esporte, cultura e de lazer, rádios comunitárias, associações de moradores, cooperativas, entre outros. O Campo está presente em comunidades da Rocinha, Cantagalo, regiões periféricas das cidades do Rio de Janeiro e de São Gonçalo, Baixada Fluminense e Nova Iguaçu.

Assessoria começa com fase de "namoro"

O trabalho do Campo visa contribuir para a formação dos cidadãos, através da valorização dos grupos locais e de suas propostas de ação. Para tanto, são princípios fundamentais o desenvolvimento da autogestão, ou seja, da gestão comunitária e participativa do projeto; e da auto-sustentação, no sentido de garantir a continuidade do projeto e a sua independência. "A idéia é que as comunidades possam crescer sem depender de projetos de fora ou do governo", diz Francis Bossaert.

O processo de assessoria do Campo começa com uma fase de "namoro" entre a organização e o grupo e a comunidade, para que se conheçam o trabalho e as propostas de cada uma das partes. "A fase de namoro é a mais importante para alcançar o sucesso do projeto. Nesta fase, podemos avaliar se o grupo é forte e tem garra para levar o projeto para frente. Além disso, ele tem que ter representatividade comunitária", diz Bossaert.

Em seguida, o namoro vira casamento. Através da assinatura de um acordo de cooperação, com os direitos e deveres de ambos os lados, é estabelecida a parceria entre o grupo e o Campo. No início, o Campo trabalha em sistema de co-gestão, buscando financiamentos e apoios para garantir uma infra-estrutura básica. Quando o grupo conquista sua auto-sustentação, de co-gestão, a relação com o Campo passa a ser apenas de consultoria e amizade, "o que não exclui de forma alguma o profissionalismo", afirma Bossaert. As formações dos assessores variam: tem profissionais de psicologia, pedagogia, administração, jornalismo, biologia, entre outros. Mas, como assessores do Campo, todos acabam tendo que desempenhar diversas funções. "O assessor tem que ser um pouco de tudo", diz.

Entre os projetos assessorados pelo Campo, destaca-se a formação de diversas redes, como a Rede de Formação Profissional, que surgiu espontaneamente com a troca de experiências entre os centros comunitários de formação profissional assessorados pela organização. Trabalhando de forma integrada, esses centros têm mais força para conquistar convênios, multiplicar os seus projetos e melhorar a sua qualidade. Do mesmo modo, formaram-se redes de educação infantil e redes cooperativistas, como a recém-constituída Rede de Centrais de Serviços, formada por uma cooperativa de trabalhadores autônomos cadastrados, que oferecem serviços de construção civil, culinária, corte e costura, entre outros.

"Tem muita gente valiosa nessas comunidades, que se tivesse mais recursos - não apenas financeiros - poderia fazer muito mais. O campo procura fazer a sua parte, fornecendo condições para que essas pessoas possam realizar os seus projetos", diz Bossaert. "O Campo assessora grupos e não pessoas. Se as idéias do líder comunitário não forem compartilhadas com as outras pessoas da sua comunidade, não nos interessa assessorá-lo", completa. Mas, em geral, quem chega até o Campo, já tem uma idéia do tipo de projeto que quer implementar. Qualquer iniciativa pode ser apoiada, desde que seja partilhada..

Quem quiser obter mais informações sobre o Campo e o seu trabalho de assessoria pode entrar em contato pelo correio eletrônico campo@campo.org.br ou pelo telefone (21) 2275-4037.

 

Mariana Loiola

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