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Avanços tecnológicos X inclusão social da pessoa com deficiência

Autor original: Rogério Pacheco Jordão

Seção original: Artigos de opinião


*Maria Isabel da Silva

Pelas dificuldades de colocação profissional e inserção social vivenciadas por quem possui deficiência, constata-se que vivemos numa sociedade excludente, muito embora o Censo 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponte para 14,5% o índice de pessoas que possuem algum tipo de deficiência, o equivalente a 24,5 milhões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 10% da sociedade brasileira possui algum tipo de deficiência. Esse percentual equivale a cerca de 17 milhões de brasileiros que vivem, em sua maioria, alijados do processo de inclusão e do exercício da cidadania.

A homogeneidade e a heterogeneidade permeiam o cotidiano da sociedade contemporânea. Graças à diversidade de interesses e de atuações, seguimos avançando rumo à construção de um mundo cada vez mais funcional, confortável, prático e saudável, a ser herdado por nossos sucessores sociais.

Os avanços tecnológicos na área da Comunicação carregam em si a promessa de se viabilizar uma sociedade mais justa e igualitária, com oportunidades que visam abranger a diversidade, inevitável e inegável.

Chegamos ao novo milênio gozando de privilégios tecnológicos comunicacionais inimagináveis para nossos antepassados. Satélites, redes internacionais de comunicação, softwares que permitem interação virtual e atendimentos eletrônicos em bancos e sistemas de transportes que diminuem as distâncias e agilizam as operações sociais e profissionais.

No entanto, se sob o ponto de vista tecnológico os avanços na área da Comunicação são inquestionáveis, sob o ponto de vista humanitário, social, inclusivo, ainda há muito a se conquistar. Definitivamente muito. E quando me refiro a comunicação, não estou me restringindo a mídia, mas estou fazendo referência a todos os aspectos que envolvem a comunicação em nossa sociedade, incluindo terminologia errônea apreendida desde a infância, em casa, na escola, ou a partir dos meios de comunicação.

O maior problema decorrente do uso de termos incorretos reside no fato de os conceitos obsoletos e as idéias equivocadas serem inadvertidamente perpetuados.

Essa perpetuação de idéias equivocadas pode ser a causa da dificuldade com que o público leigo e também os profissionais mudam seus comportamentos e raciocínio em relação à situação das pessoas com deficiência. Ouvimos e lemos constantemente termos incorretos em jornais, livros, revistas, programas de televisão, de rádio e na internet. Romeu Kazumi Sassaki (Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos. 1999) cita vários exemplos de terminologia errônea ainda utilizada no dia a dia, variando desde o uso de termos como "adulto ou adolescente normal", como referência a quem não possui deficiência, até "pessoa entrevada ou presa a uma cadeira de rodas", quando sabe-se hoje que a cadeira de rodas é instrumento de liberdade e locomoção a quem possui deficiência física, isso quando não se refere a cadeira de rodas motorizada como "cadeira elétrica". Falando em deficiência física, há quem ainda se refira a quem a possui, como "defeituoso" ou "aleijado", termos carregados de preconceito e estigma, uma vez que ressalta a deficiência e não a pessoa.

É humanamente impossível atingir um mundo melhor, tão almejado por todos, se os dois aspectos comunicacionais - tecnológico e social - não avançarem juntos num mesmo ritmo e proporção.

Por outro lado, não podemos negar o crescimento do Terceiro Setor, segmento que reúne instituições beneficentes que estão ampliando sua dedicação à promoção humana e cidadania na contramão das limitações do Governo no campo do social, mas as conquistas são tímidas e caminham a passos preguiçosos se comparadas às alcançadas pelo setor tecnológico na área da Comunicação.

No início de dezembro de 1999, uma reportagem na TV mostrou, com depoimentos e imagens, que uma comunidade inteira no Japão, preparava-se para despedir-se do planeta no dia 09 de dezembro daquele ano, não acreditando que ultrapassaria o século, o milênio. No Brasil, muitos questionaram a chegada do "distante ano 2000". Ou seja, a sociedade contemporânea chegou longe, sob vários aspectos, mas não se livrou de valores arcaicos, "velharias" que discriminam e segregam, que não fazem avançar a área social, principalmente pelo preconceito gerado pelo desconhecimento de causa. No âmago dessa questão está a falta de informação ou a desinformação, gerando valores morais e sociais intoleráveis para uma sociedade do terceiro milênio.

O que concretamente ocorre é que a desinformação e os problemas de comunicação geram conceitos equivocados ou preconceitos que se arraigaram e vêm atravessando milênios, séculos, gerações e gerações, resultando em desemprego, subemprego, injustiças, subdesenvolvimentos físico e psíquico, morte prematura, analfabetismo, semi-alfabetização, imaturidade e desequilíbrio emocionais, exclusão social e infelicidade. Adam Schaff (Linguagem e Conhecimento, 1976) atribui à linguagem a origem da hostilidade e das aversões a determinados segmentos sociais.

A comunicação se apresenta como uma das responsáveis em levar à segregação determinados segmentos sociais, mas pode se transformar em um importante instrumento de inclusão social, sendo uma das principais alternativas para reverter o desconhecimento sobre o universo da deficiência.

A comunicação inclusiva cria as condições necessárias para que a sociedade desperte para o fato de que, em se tratando de uma pessoa, o que importa é sua capacidade de realização, evolução, produção, convivência, seu potencial de criação, e não suas limitações em relação à vida.



*Maria Isabel da Silva é Jornalista em São Paulo e atua na área da promoção social e da cidadania de pessoas marginalizadas há mais de 12 anos.


 





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