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Amigos do Transplante

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Durante três meses, o marido da dentista Cláudia Tavares ficou na fila para conseguir um doador de fígado. Após conseguir o transplante, feito no início deste ano no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, no Rio de Janeiro, eles conviveram com outros transplantados durante meses. As dificuldades compartilhadas motivaram Cláudia a desenvolver um projeto que desse assistência aos pacientes após a operação. Assim surgiu o projeto “Amigos do Transplante”, que conta com apoio do Viva Rio e de médicos do Hospital Clementino Fraga Filho. O Viva Rio irá capacitar voluntários para atender tanto os transplantados quanto suas famílias. As inscrições para as oficinas de treinamento vão até 14 de setembro e podem ser feitas pelo telefone (21) 2555-3777.


“Convivemos com aquelas pessoas durante a Páscoa, que é uma época de troca, de solidariedade. Durante o tempo no hospital, você fica sabendo dos problemas de rejeição (ao órgão no organismo), da dificuldade de se conseguir remédio etc. A equipe médica também acaba sofrendo. Eles são muito solidários, mas pouco podem fazer”, lembra Cláudia. Os pacientes, em geral, não tem a renda financeira necessária para conseguir os remédios e pagar pelo transporte para buscar os medicamentos cedidos pelo hospital (que, por sua vez, não são suficientes). A secretaria estadual de saúde dá apenas remédios para rejeição, enquanto nos primeiros meses de pós-operatório são necessários também anti-virais. A situação faz com que alguns pacientes recorram à Justiça para conseguir os medicamentos, mas o acesso à Defensoria Pública é difícil.


“Tudo isso gera problemas emocionais nas famílias. Desde a ansiedade em conseguir um doador até depois da cirurgia, quando há casos de famílias desestruturadas. Se o acesso aos órgãos é democrático, o tratamento está longe de ser”, diz Alberto Almeida, do Programa de Voluntariado do Viva Rio. A organização, que possui um banco de voluntários com 3500 cadastrados, irá utilizar um processo de treinamento baseado nos potenciais de cada interessado em participar. “Como é um trabalho delicado, que demanda muito envolvimento pessoal, há gente que não quer participar diretamente. Esses também são bem vindos, basta colocar suas qualidades à disposição e dizer como gostariam de atuar”, lembra Alberto.


Apoio jurídico, psicológico e financeiro


O programa contará com atividades jurídicas, psicológicas e financeiras. Advogados, por exemplo, podem dar assessoria jurídica aos interessados em lutar por seu direito de receber os medicamentos necessários para sua recuperação. Já os psicólogos farão um trabalho de reinserção dos transplantados na sociedade. Vales-transporte serão distribuídos aos pacientes que tiverem dificuldade financeira de buscar os remédios após a alta médica.


A primeira reunião de capacitação aconteceu em 31 de agosto e teve 125 pessoas presentes – quase o dobro do esperado. Serão feitas mais cinco reuniões até 5 de outubro, sempre aos sábados, a partir de 14 de setembro. O conteúdo do treinamento será desenvolvido ao longo dos encontros por uma equipe do Clementino Fraga e do Viva Rio.


O custeio do programa vem da venda de camisetas desenhadas pelo cartunista Ziraldo. Cada uma custa R$ 15,00 e pode ser adquirida em algumas lojas do Rio de Janeiro. Já foram vendidas, em menos de um mês de campanha, cerca de mil camisas. O dinheiro será investido na compra de remédios para serem distribuídos a pacientes com dificuldades financeiras. A previsão é que até a primeira semana de outubro eles já estejam sendo entregues.


O investimento não para por aí. Muitos transplantados têm dificuldade em conseguir emprego, pois os empregadores ligam a cirurgia a problemas constantes de saúde –o que não é verdade. A recuperação é rápida e, dependendo do órgão, o paciente levará uma vida normal depois do transplante. Quando não, como em casos renais e hepáticos, é necessário apenas um controle mensal. A intenção é criar um banco de empregos, a ser disponibilizado na internet, e assim fazer um trabalho completo de reinserção do transplantado à sociedade.


Conseguir um órgão é a tarefa mais difícil na vida de quem precisa de um doador. A solução para o problema, de acordo com Cláudia Tavares, é realizar campanhas educativas e ganhar apoio da mídia. “É preciso diminuir o estigma de que o médico vai matar para pegar o órgão de quem vai ser operado. Assim como foram feitas campanhas eficientes quanto ao uso da camisinha e da importância do toque no diagnóstico do câncer de mama, uma estimulando a doação de órgão também é necessária”.


Afinal, é doando que se recebe. E amigos são para essas coisas.


 


Marcelo Medeiros

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