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Por um novo olhar

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Inaugurada em 1990, em Santos (SP), a Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN) oferece assistência jurídica e psicológica a mulheres vítimas de preconceito racial e da violência doméstica e sexual. O centro atende, anualmente, 400 mulheres, negras e brancas, de oito cidades do litoral paulista. O atendimento é feito através de aconselhamento e acompanhamento nas delegacias e audiências no Fórum, e encaminhamento a outros serviços, quando se faz necessário. Em casos de violência doméstica com risco de vida, a Casa encaminha as mulheres e seus filhos para pensões ou casas-abrigo. O centro oferece ainda oficinas de auto-ajuda para as mulheres e crianças, e cursos para que as mulheres e adolescentes possam ter alternativas de renda. Também são realizados seminários com representantes da Polícia, profissionais de saúde, lideranças comunitárias, professores da rede de ensino e estudantes, a fim de combater o preconceito e diminuir a tolerância a essas formas de violência.


O projeto da CCMN começou a nascer em 1985, durante as reuniões para um grupo de estudos na casa de Alzira Rufino, atual presidente da CCMN e uma das oito fundadoras do projeto. Formou-se, então, o Grupo Coletivo de Mulheres Negras, que passou a realizar intervenções para incluir a questão do racismo no movimento de mulheres. Durante esse trabalho, o grupo de ativistas percebeu a necessidade de se criar um espaço de atendimento e ação na comunidade. Em 1990, era inaugurada a CCMN, com os objetivos de resgatar a cultura afro-brasileira; fornecer a assistência necessária a mulheres vítimas de violência e discriminação racial; propor políticas públicas que melhorassem o atendimento a essas mulheres, e ações para promover a igualdade e oportunidades para as mulheres negras.


No início, a Casa era mantida pelo seu próprio programa de geração de renda, que inclui um restaurante de comidas típicas da culinária afro-brasileira, uma loja de roupas e adereços étnicos, uma livraria e um centro de documentação e pesquisa especializados nos temas da mulher e da raça negra. Hoje, a CCMN conta também com o apoio financeiro de instituições européias.


Com seu trabalho reconhecido, a CCMN é, atualmente, referência na região e em todo o país. Mas, foi necessário superar muitos obstáculos para se conquistar a respeitabilidade. "No início, a Casa sofreu muito com discriminações, que iam desde homens em busca de garotas de programa, até skinheads (os "carecas", de tendência neofascista) que nos ameaçavam de morte", conta Alzira. Mesmo com o crescimento do projeto, não existe tranqüilidade no trabalho. Permanecem as ameaças dos maridos agressores em busca de suas mulheres que saíram de casa. "Corremos perigo de vida 24 horas por dia."


Segundo Alzira, muitas mulheres sofrem violência durante anos sem denunciar pois, além de terem medo de seus companheiros, não têm para onde ir e não encontram facilmente oportunidades de emprego. Pesquisas indicam que no Brasil a cada 15 segundos uma mulher é espancada por seu marido ou companheiro, e que 33% das mulheres já sofreram algum tipo de violência física. "Ainda faz parte da nossa cultura achar que em briga de marido e mulher não se mete a colher", diz.


Para Alzira, todos os setores da sociedade têm um papel importante para diminuir tanto a discriminação racial quanto a violência contra a mulher. É necessário que os educadores, os meios de comunicação, instituições e governos atuem pela valorização de um novo olhar em relação às mulheres negras e pelo desenvolvimento da igualdade e de oportunidades para essas mulheres. Além disso, é necessário que as pessoas denunciem os casos de violência. "A sociedade precisa meter a colher", afirma.


Mais informações na página eletrônica da Casa de Cultura da Mulher Negra, pelo correio eletrônico ccmnegra@uol.com.br, ou pelo telefone (13) 3221-2650.


 


Mariana Loiola

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