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Música e dança

Autor original: Rogério Pacheco Jordão

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

"É muito importante o processo de lembrar, de construir um processo histórico, de preservar momentos e celebrá-los. Algumas vezes o registro é feito de forma oral, informal, nas rodas de conversa", conta Daniela Silva, assessora de comunicação da Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, em Salvador (BA). Embora não tenha um trabalho específico sobre resgate da memória, o Ilê incorpora esta preocupação às suas atividades.

A história do Curuzu, nome da rua onde o bloco nasceu em 1974, é sempre contada e recontada nas letras de música e danças. No Festival de Música Negra, organizado todos os anos, uma das categorias é a de Poesia, na qual se tem a liberdade para se falar do bairro, dos integrantes do bloco, das atividades cotidianas no Curuzu e do Carnaval, que movimenta a comunidade de forma intensa. Há também a atividade de fotografar e gravar em vídeo as principais atividades do Calendário Anual do Ilê Aiyê, como a Semana da Mãe Preta, a Noite da Beleza Negra e o Carnaval.

"A música e a dança permitem a reencenação constante de acontecimentos marcantes", diz Daniela Silva. "Todos os anos, desde sua fundação, o Ilê Aiyê canta a história, a culinária, a forma de vestir e diversos costumes de países africanos como Watutsi, Alto-Volta, Congo-Zaire, Rwanda, Camerum. Também já cantou a América Negra, grandes líderes como Malcom X, e momentos importantes da História do Brasil que tiveram expressiva participação do povo negro", observa.

As letras lembram as origens da comunidade, como esta de Lucinha Ouro Preto:

"A semente foi semeada no Barro Preto Curuzu / Germinou nasceu Ilê Aiyê / Somos filhos da terra, descendentes desta nação, amamentados pela mesma Mãe / Embalados pela mesma mão / Não vou esquecer, não / Da lição que Vovô me ensinou / Diz que a força da semente africana / É de origem Banto-nagô / Que vem do Barro Preto, Liberdade, Curuzu / Fonte de sabedoria... Ilé Axé Jitolu".

(Breve explicação: Vovô é o Presidente e Fundador da Entidade. Ilé Axé Jitolu é o terreiro de candomblé onde se iniciaram as atividades do Bloco).

Todos os anos, o tema do Carnaval é transformado em um Caderno de Educação que é usado nas atividades do Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê, que atende 950 crianças, jovens e adolescentes por ano. "O surgimento do Ilê teve repercussão na juventude negra de Salvador, contribuindo para gerar novos comportamentos e formas próprias de expressão", lembra Daniela Silva.

Expressão

O desconforto por não encontrar a história da Rocinha em nenhum livro – e quando havia menções, elas eram negativas – levou o historiador José Luis a desenvolver um trabalho de recuperação da memória social do bairro. A única publicação que contava um pouco da história era o livro "Varal de Memórias", uma pesquisa da antropóloga Lygia Segala feita em 1980 e que reúne depoimentos de moradores. Luis, que morou no bairro durante 38 anos e é membro da ONG Rocinha XXI, voltada para educação, decidiu dar seqüência ao trabalho.

"A memória mais antiga da favela da Rocinha (transformada em bairro por decreto da prefeitura nos anos 1990), é de 1927", conta ele. Na época havia muito mato, muitas fontes de água e árvores frutíferas. Os primeiros moradores – muitos nordestinos e mineiros, mas também migrantes espanhóis e portugueses – tinham criações de galinhas e mantinham hortas.

 "Perpetuou-se uma cultura rural na Rocinha, que persiste até hoje", diz.

A Rocinha XXI está constituindo um acervo e pretende expandir o projeto para as cinco escolas públicas do bairro. "O trabalho é importante para tirar o estigma de marginalidade que os próprios moradores carregam. Isto ajuda os moradores a refletir: onde moro é como as pessoas lá fora falam ou temos uma outra visão?", conta José Luis.

A Rocinha XXI está discutindo uma parceria com o Museu da Pessoa, de São Paulo, para a ampliação do trabalho de resgate da memória social do bairro. O Museu, fundado em 1992, tem por objetivo democratizar o registro da memória, permitindo que todo e qualquer indivíduo da sociedade tenha sua história de vida registrada e preservada. O museu, que é também virtual, está aberto a qualquer interessado que queira registrar sua história pessoal em seu acervo.


Vale a pena conferir (veja em links relacionados).


Para falar com a ONG Rocinha XXI : jlima@rj.sebrae.com.br


O Centro Luiz Freire pode ser contactado pelo e-mail delma@cclf.org.br


Rogério Pacheco Jordão

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