Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Breves artigos com opiniões sobre temas relacionados com o Terceiro Setor
Temístocles Marcelos Neto e Kjeld Jakobsen*
A Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, convocada pela ONU, com objetivos claros de definir metas e planos de implementação daquilo que se convencionou a ser chamado “Espírito do Rio”, recém terminou e fracassou frente a estes objetivos.
Esta é uma constatação diante da incapacidade de se avançar nos temas que compunham o centro estratégico da conferência. Foi sobre os temas como energia, mudanças nos padrões de consumo, produção e comércio internacional que os interesses das corporações multinacionais foram decididamente defendidas pelo governo norte americano, impondo ao resto do mundo a manutenção do status quo e da atual tendência hegemônica: os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e as questões ambientais servindo apenas como retórica e jogadas de “marketing”.
Entretanto, vale ressaltar que em outros temas como gênero, direitos dos trabalhadores e saneamento básico, graças a arrojadas articulações e intervenções nos espaços oficiais da conferência, sustentadas por manifestações públicas, conseguiu-se cumprir as tarefas previstas no Rio de Janeiro e introduzir na declaração política de Johanesburgo, várias referências a estes elementos importantíssimos do ponto de vista temático.
No caso dos trabalhadores, as referências aos princípios fundamentais defendidos pela Organização Internacional do Trabalho - OIT, foi uma vitória importantíssima das Centrais Sindicais, pois chegou-se a fazer fortes menções à dimensão social do desenvolvimento, embora na declaração política e não no plano de implementação de medidas concretas.
No caso das mulheres, as tentativas de retroceder foram intensas, promovidas pelos lobbies fundamentalistas. As organizações feministas sempre vigilantes, conseguiram barrá-las, bem como dar visibilidade significativa às questões de gênero durante toda a Conferência.
O resultado global do significado da Conferência, ainda merecerá um intenso debate por parte da Executiva Nacional da CUT e das demais organizações da sociedade civil, que têm como objetivos modificar os atuais padrões de consumo e produção.
Cabe avaliar também uma nova estratégia do movimento social frente às conferências sociais da ONU. Uma década atrás suas resoluções confrontavam-se com as políticas econômicas dos mesmos países que delas participavam, mas hoje elas estão cada vez mais submetidas ao receituário econômico neoliberal, o que evidentemente elimina seu caráter social e desenvolvimentista.
O Fórum Social Mundial, em Porto Alegre no próximo ano, será uma oportunidade importantíssima para discutirmos isto, ao mesmo tempo em que concluímos uma avaliação da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável. Temos que estabelecer uma plataforma comum efetivamente sustentável e que consiga, por exemplo, com outro patamar de lutas mundiais, impor um desfecho diferente para a Reunião da OMC em Cancun no México no mês de agosto de 2003, que já sabemos será uma rodada de negociações com cartas marcadas, pela era Bush e pelo famigerado efeito do ataque de 11 de Setembro.
Nos encontraremos em Porto Alegre, certos de que um outro mundo é possível.
* Temístocles Marcelos Neto é Diretor Executivo da CUT Nacional e Coordenador da Comissão Nacional do Meio Ambiente - CNMA/CUT. Kjeld Jakobsen é Secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional.
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
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