Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Gaia era a deusa grega da Terra. É também o nome de uma teoria ecológica que afirma ser o planeta um sistema vivo auto-regulado. As duas lembranças fizeram o agrônomo José Lutzemberger, falecido em maio deste ano, batizar um projeto pessoal seu de Fundação Gaia. Criada em 1987, em Porto Alegre (RS), a entidade presta serviços de educação e consultoria ambiental, além de promover a agricultura orgânica, a medicina natural, o saneamento alternativo e outras atividades ligadas ao desenvolvimento sustentável.
Lutzemberger foi um dos pioneiros do movimento ambientalista brasileiro. Em 1971 fundou a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), entidade ambientalista que reunia nomes importantes da incipiente ecologia nacional. A associação cresceu e existe até hoje, porém sem o agrônomo desde 1987. Com a mudança na composição do grupo original, o gaúcho decidiu juntar-se a outros profissionais para dar continuidade a seu trabalho. Nascia, assim, a Fundação Gaia.
Com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável, a Fundação atua em diversas frentes. De 1991 a 99, por exemplo, desenvolveu um programa de incentivo à agricultura orgânica com trabalhadores rurais do interior do Rio Grande do Sul. Cento e sessenta famílias de 12 municípios tiveram aulas sobre a importância de não utilizar agrotóxicos em suas plantações, além de aprenderem noções de ecologia. “Hoje a agricultura orgânica está avançada, o governo até incentiva esse tipo de produção. Mas há dez anos as coisas eram diferentes e é bacana pensar que participamos da alavancagem desse processo”, orgulha-se Lara Lutzemberger, vice-presidente da Fundação e filha do fundador.
Outra atividade importante é o Rincão Gaia, área de 30 hectares no município de Pântano Grande, a 120 km de Porto Alegre. Antiga pedreira de basalto, o local foi recuperado e abriga, desde 1997, a sede rural da fundação. O Rincão funciona também como espécie de laboratório de comprovação das teorias que a guiam. Lá foi criado um corredor ecológico – uma antiga área de pedras transformada em espaço para o plantio de diversos tipos de plantas. Todo alimento consumido no sítio (orgânico, é claro) é produzido ali mesmo, onde há uma horta, mas também gado, suínos e aves. O Rincão ainda possui capacidade para hospedar 40 pessoas – que em geral são participantes de cursos, oficinas ou visitantes (veja como, no final da matéria). Turmas de crianças de escolas de Porto Alegre costumam ir ao sítio com regularidade - a média de visitantes por ano é de 800 pessoas.
Piage
Os “guris”, como dizem os gaúchos, também são alvo do mais novo projeto da Fundação Gaia. O Programa de Integração Ambiental Guaíba-Escola, ou Piage (lê-se piagê, para fazer referência ao educador suíço Jean Piaget), foi lançado em 16 de setembro e dá educação ambiental a crianças de 8 a 12 anos da capital gaúcha. As turmas são levadas à Ilha da Pólvora, no Rio Guaíba e parte de uma reserva ambiental, e de lá têm uma visão privilegiada da cidade. Assim podem trabalhar a temática ambiental e perceber como o meio ambiente foi modificado pelo ser humano. “Procuramos passar uma imagem contrária à de que os homens podem conduzir o planeta a seu bem-querer. De acordo com a Hipótese de Gaia (formulada pelo pesquisador britânico James Lovelock nos anos 70), a Terra é um sistema vivo, onde tudo se complementa. Só o (presidente norte-americano) Bush pensa diferente. A maioria, quando pára e pensa, vê que isso é verdade”, diz Lara. Tudo isso por meio de palestras e teatros para prender a atenção da criançada. O passeio, que dura por volta de três horas e meia, custa até R$ 25,00 por aluno para escolas particulares. Para a rede pública, o projeto depende de patrocínio, até agora restrito a 20 turmas.
A Fundação Gaia sobrevive basicamente de doações, trabalho voluntário e serviços de consultoria ambiental. A descendência alemã de José Lutzemberger e sua experiência de trabalho no exterior abriram portas para a vinda de estrangeiros. Há estagiários de origem suíça e alemã trabalhando no Rincão, além de profissionais brasileiros. São poucas pessoas fazendo um grande trabalho, para que todos possam viver em um planeta sustentável como a natureza. A deusa grega deve estar orgulhosa.
Como ajudar e participar
Para organizar encontros no Rincão Gaia, participar de qualquer atividade da Fundação ou pedir consultorias, utilize os telefones (51) 3331-3105 e 3330-3567.
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