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Amamentação: mulheres e bebês saudáveis

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Artigos de opinião







Lourdes Perez Teixeira*

A proximidade da XI Semana Mundial de Aleitamento Materno, comemorada todos os anos na primeira semana de outubro, leva-nos a refletir sobre a importância da amamentação para a saúde da mãe e do bebê. Idealizada pela organização não governamental Waba, com o apoio do Unicef, a campanha, este ano, vem com o tema "Amamentação: mulheres e bebês saudáveis". Trata-se de uma ação que pretende promover a Iniciativa Mundial de Grupos de Apoio para Amamentação (GIMS) e reintroduzir a amamentação como parte integrante da saúde e do ciclo reprodutivo das mulheres, além de aumentar a consciência em relação aos seus direitos.

Estão entre os direitos fundamentais da mulher o acesso a melhores condições de saúde em casa e no ambiente de trabalho e receber informações completas e confiáveis, que lhe orientem na busca de práticas humanas e não abusivas de parto. Com uma orientação adequada durante o pré-natal, mesmo as mulheres que não têm condições ideais de saúde podem dar à luz e amamentar seus bebês de forma correta.

As gestantes e lactantes devem ter consciência da importância do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida. Vários são os benefícios comprovados para a criança, como a redução dos riscos de desnutrição, infecções do trato respiratório e diarréias – que hoje respondem por parcela significativa das causas de mortalidade infantil. Mesmo após o primeiro semestre de vida, quando deverá ser iniciada a complementação adequada com outros alimentos, a amamentação ainda apresenta diversas vantagens. Já foi confirmado que a continuidade do aleitamento possibilita melhor desenvolvimento do cérebro e ajuda na prevenção de doenças, como pneumonia e asma, otites e infecções urinárias. Além disso, promove a saúde bucal e estabelece mais facilmente a relação afetiva entre mãe e bebê. Para a saúde da mulher, existem ainda outras vantagens. O aleitamento logo após o parto diminui o risco de hemorragia e anemia e retarda uma nova gravidez. Reduz também a necessidade de insulina nas mães diabéticas. A longo prazo, pode ajudar a evitar câncer de mama, de ovário e osteoporose.

Num momento em que faltam recursos para o investimento na saúde pública, a prática do aleitamento materno exclusivo deve ser estimulada – sobretudo pelo poder público – por ser uma atividade gratuita de prevenção. A mãe que alimenta o bebê apenas com seu leite até o sexto mês diminui os gastos com alimentação e saúde. A criança adoece com menos freqüência, reduzindo a necessidade de recorrer ao atendimento médico, o que também é uma vantagem quando se trata de desonerar o Sistema Público de Saúde.

Amamentar é um ato natural, porém profundamente ligado à cultura. Vale ressaltar que a experiência da gestação e parto pode ter um impacto considerável na forma como o aleitamento inicia e continua. A saúde física e emocional da mulher, seu nível de educação, a ajuda que recebe de outros e sua situação econômica influem na prática da amamentação e nos cuidados com o bebê. Análises mostram que desses fatores depende a introdução antecipada de água, chás, sucos e outros alimentos na dieta do bebê. O uso de chupetas e mamadeiras também tem se mostrado como fator contribuinte para o desmame precoce.

Em 2001, o Ministério da Saúde publicou uma pesquisa – realizada com crianças menores de um ano, subdivididas em várias faixas etárias – sobre a prevalência do aleitamento materno no Brasil. Foi verificado um aumento considerável de crianças amamentadas em relação à pesquisa feita em 1989. No entanto, os resultados são bastante diferenciados nos diversos estados e regiões. Em todas as faixas de idades, a Região Norte apresenta prevalência do aleitamento materno em comparação com o restante do país. Os costumes e as tradições indígenas foram mencionados como possíveis variáveis explicativas do quadro encontrado. A mesma pesquisa revelou que, no Brasil, o aleitamento materno exclusivo – que deveria ser de seis meses – tem duração mediana de 23,4 dias, enquanto que Recife apresenta média de 6,8 dias, isto é, menos de uma semana.

Entretanto, já existem medidas que buscam melhorar esse quadro. Desde setembro de 2000, um grupo de profissionais da Unidade Neonatal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolve o Projeto de Amamentação Integrada – AMI, em parceria com o IV Distrito Sanitário da Secretaria Municipal do Recife. A proposta é promover o aleitamento materno em comunidades carentes próximas à instituição e contribuir para a diminuição da taxa de desmame precoce e da mortalidade infantil, por meio de atividades educativas integradas. Na comunidade de Brasilit, onde a equipe vem atuando, o aleitamento materno exclusivo era de 0%, em outubro de 2000, enquanto que a taxa de morbidade das crianças até seis meses era de 25%. Em dezembro de 2001, após o término da primeira fase do projeto, a taxa de aleitamento materno exclusivo aos seis meses passou para 24% e a de morbidade 13,2%, o que demonstra que mobilização e informação geram excelentes resultados.

*Lourdes Perez Teixeira é médica pediatra do Hospital das Clínicas, professora da UFPE e uma das coordenadoras do projeto AMI.





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