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Ninho de cidadania

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Apoio, acolhimento e carinho - é o que oferece o Projeto Ninho, voltado para adolescentes grávidas, entre 11 e 18 anos, da periferia do Recife (PE). Desenvolvido pelo Movimento Tortura Nunca Mais, o projeto busca incentivar o amor da mãe pelo filho antes mesmo do seu nascimento. O trabalho, realizado com um grupo de 25 gestantes, durante três meses, teve início em julho deste ano. As atividades com o próximo grupo vão começar no dia 8 de outubro.


A psicóloga e coordenadora do Projeto Ninho, Ana Lídia Camurça, diz que o principal objetivo é fortalecer o vínculo entre mãe e bebê e contribuir para que essa relação seja vivida de uma forma mais saudável e sem culpa. "Na vida adulta, reproduzimos o que recebemos no núcleo familiar. Pesquisas mostram que os que cometem violência, geralmente sofreram rejeição na infância", diz. Com o Projeto Ninho e a sua atenção voltada para o nascimento e o respeito, o Movimento Tortura Nunca Mais busca intervir nas origens das violações dos direitos humanos (que é o foco do trabalho da organização).


Há aproximadamente 5 mil gestantes entre 11 e 19 anos na capital pernambucana. Segundo Ana, além da erotização da nossa cultura e da falta de informação, existem outros fortes fatores responsáveis pelo grande número de casos de gravidez entre as adolescentes. "Muitas vezes elas permitem a gravidez, porque, para elas, a gravidez representa a conquista de um novo status e um atestado de feminilidade - elas passam a se sentir valorizadas e reconhecidas como mulher. É comum elas engravidarem de novo." Existem também casos de gestações ocasionadas por violência sexual – mas não são a maioria.


A equipe do projeto – que vai até as comunidades de baixa renda para divulgar o seu trabalho – é formada por uma psicóloga (que conversa com as adolescentes sobre sexualidade, entre outros temas), uma enfermeira (que fala sobre a importância do pré-natal, parto, amamentação e dá dicas de higiene), uma assistente social (que apresenta o Estatuto da Criança e do Adolescente, fala sobre responsabilidade social e faz o encaminhamento a serviços públicos de saúde) e uma técnica em relaxamento. Além disso, voluntários organizam oficinas de artesanato (tricô, crochê e pintura), que têm função terapêutica e ajudam a construir o vínculo entre mãe e bebê. O atendimento é feito duas vezes por semana, na parte da tarde. Após o período de três meses, quando as atividades com o grupo são encerradas, a equipe realiza visitas às casas das participantes para dar continuidade ao acompanhamento. "Ser mãe não é uma coisa que possa ser ensinada. Mas tentamos deixar a adolescente mais segura para assumir uma maior responsabilidade com a criança que ela está gerando", afirma a coordenadora.


Ana conta que, no início, as adolescentes tinham grande resistência à proposta do projeto, mas, com o tempo, foram ficando mais à vontade. "Elas tinham dificuldade de falar da vida delas e até de tocar a barriga. Agora elas não faltam a nenhuma reunião, algumas chegam até mais cedo e ligam sempre." Além disso, as jovens passam a ter um melhor contato com a gestação. "O que era apenas uma barriga virou um bebê", diz.


O Projeto Ninho é financiado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condica), do Recife. Como o financiamento é de apenas seis meses, o projeto já está buscando recursos para continuar as suas atividades e atender mais meninas. Quem quiser contribuir, também pode fazer doações de produtos de higiene, fraldas, roupas e medicação para os bebês que já nasceram.


As interessadas em participar do próximo grupo podem inscrever-se no local do Projeto Ninho - Galeria Santa Edwiges, Rua Carlos Gomes, 713 / sala 104, Prado, Recife (PE) - ou pelo telefone (81) 3227-1189.

Mariana Loiola

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