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Cooperando no combate à fome

Autor original: Marcelo Medeiros

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A Rede de Comércio, Cultura e Lazer Solidário Intercooperativa, ou somente Rede Intercooperativa, que agrega 22 cooperativas do Rio de Janeiro, lançou em setembro a campanha “ Por 1 Real de Cidadania”. A iniciativa veio se somar à campanha Natal Sem Fome, que pretende arrecadar toneladas de alimentos para famílias carentes, representando, assim, um reforço de peso. Um não, vários, agindo em conjunto. A idéia é conseguir autorização de cada cooperando da Rede Intercooperativa para descontar ao menos o valor de R$ 1 de sua folha de produção e utilizar o dinheiro para comprar alimentos até dezembro. A iniciativa, cuja meta é arrecadar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, funciona à base de cooperação e pretende se tornar mensal a partir de 2003.


Em meados deste ano, a Organização de Cooperativas do Brasil (OCB) lançou a campanha “Cooperativas Contra a Fome”, na qual cada estado tem liberdade para articular as próprias ações. No Rio, os participantes quiseram fugir da idéia tradicional de apenas recolher e distribuir alimentos. A Procoop (Cooperativa de Profissionais em Projetos, Orçamentos e obras) sugeriu, então, arrecadar R$ 1 de cada funcionário das cooperativas cariocas para comprar mantimentos. Assim, não dependeriam de doações e ainda teriam a chance de elaborar a própria cesta. Entretanto, levantou-se a questão de como articular algo tão grande sem gastar todo o dinheiro em estrutura.


A solução encontrada é simples: todas cooperarem para atingir o objetivo comum. Cada integrante da Rede Intercooperativa, então, estimulou seus cooperados a trabalharem como voluntários em suas funções habituais. “Transferimos o know-how e usamos a estrutura existente”, resume Carla Lima, uma das coordenadoras da "Por 1 Real de Cidadania" e membro da Join Consult, cooperativa de consultores em desenvolvimento empresarial. A organização elaborou uma metodologia de abordagem de presidentes e diretores de outras cooperativas para conseguir mais adesões. A Tecnocoop, que atua com informática, desenhou camisas e a Fora do Eixo, cooperativa de cineastas, produziu um vídeo para estimular as doações.


No estado do Rio existem 925 cooperativas, de acordo com dados de 2001 da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB), e já foram contatadas 428. Dessas, 42 já aceitaram fazer parte da campanha e estão mandando cartas aos funcionários pedindo autorização para descontar as doações. O número pode não parecer significativo, mas grandes cooperativas como a Tecnocoop, que possui 7 mil funcionários, já aderiram. De acordo com os organizadores, a tendência é o número de adesões aumentar. “Quando sabem da motivação, geralmente os cooperados autorizam o desconto, apesar de perguntarem se R$ 1 não é pouco”, diz Carla Lima. “Na verdade esse valor não é nada, mas num sistema desse tamanho gera muito”, lembra.


O único problema verificado até agora foi com a divulgação, que pode ser cara se a cooperativa for grande. A criatividade, entretanto, é usada para retirar as barreiras. O custo do envio de cartas, por exemplo, foi resolvido com soluções simples como manifestações dos próprios funcionários e doações de comida no próprio local de trabalho.


A meta é se comunicar com o maior número de cooperativas possível e assim conseguir entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. O dinheiro será utilizado na compra de alimentos no atacado, onde são mais baratos. A Cooprof, que atua na área de saúde, elaborou uma cesta de alimentos voltada para famílias com crianças em fase de amamentação, para diferenciar as doações da campanha das demais. Serão privilegiados mantimentos que nutram as mães e dêem mais opções de alimentação aos bebês. Num futuro próximo, a intenção é de que a campanha se torne permanente, com doações mensais. Para facilitar, os coordenadores pretendem dividir as arrecadações em ramos.


Além do dinheiro, os doadores também podem sugerir entidades ou famílias para receberem alimentos. Todos serão sugeridos para entrar no cadastro da Ação da Cidadania, a fim de que, centralizando a informação, possa se fazer um mapeamento da fome, sabendo quem precisa do quê, quanto e onde.


“O objetivo não é só trabalhar com dinheiro, mas também mobilizar as cooperativas e cooperados para participar de atividades sociais”, lembra Regina Pereira e Silva, coordenadora da campanha e representante da Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo). Só no estado do Rio de Janeiro, de acordo com a OCB, existem aproximadamente 210 mil cooperados, além de sete mil empregados. Se todos colaborarem, a campanha ultrapassará sua meta facilmente.


 


Marcelo Medeiros

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