Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Artigos de opinião
Dom Demétrio Valentini*
No continente aflora com evidência a expectativa de que a partir do novo governo brasileiro será possível fortalecer novamente a unidade política dos diversos países, fundada na consciência de uma identidade própria, que é preciso retomar com urgência, e torná-la instrumento válido para um confronto coletivo diante das pressões de submissão e de perda de soberania que o processo de globalização acelerou nos últimos anos.
O resultado das eleições no Brasil suscitou interesse no mundo inteiro. Mas é sobretudo na América Latina que a eleição do Lula despertou a convicção de que agora estão dadas as condições para desencadear uma nova postura política, capaz de reverter a tendência das últimas décadas, marcadas pelo agravamento da crise econômica. Na semana passada, a cidade de Quito, no Equador, se tornou o ponto de convergência das atenções de todo o continente americano, pelos diversos encontros que lá se realizavam, em torno da questão da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) que os Estados Unidos querem impor apressadamente a todo o continente. Tanto por parte das delegações oficiais que tentavam avançar nas negociações, como por parte dos representantes de movimentos populares que questionavam o acordo comercial, todos se davam conta que o fato novo, capaz de reverter a situação, era a eleição do Lula no Brasil.
Na América Latina, aflora com evidência a expectativa de que a partir do novo governo brasileiro será possível fortalecer novamente a unidade política dos diversos países, fundada na consciência de uma identidade própria, que é preciso retomar com urgência, e torná-la instrumento válido para um confronto coletivo diante das pressões de submissão e de perda de soberania que o processo de globalização acelerou nos últimos anos.
Com isto, a partir do resultado dessa eleição, o Brasil se tornou depositário de uma esperança que ultrapassa suas fronteiras, e reforça nossa responsabilidade de fazermos tudo o que estiver ao nosso alcance para que não seja frustrada.
Aí se coloca o desafio, que agora precisa ser olhado com realismo, e ao mesmo tempo com a força que o momento nos oferece.
É urgente o discernimento entre expectativas imediatas, difíceis de serem atendidas, e esperança de mudanças mais profundas, que levam tempo para se concretizarem. Manter a esperança, mesmo com as demoras das transformações, será a incumbência decisiva a ser garantida em conjunto pelo próximo governo e pela cidadania.
Por isto, não é só um novo governo que vamos ter. Precisamos garantir uma nova postura da cidadania diante do governo. É uma nova correlação de forças que é preciso alinhar. O novo governo precisará avalizar as esperanças apontadas pelas eleições, garantindo a coincidência dos mesmos objetivos a serem perseguidos por suas medidas administrativas.
E a cidadania precisará avalizar o esforço do governo, garantindo suporte político e força social para superar as evidentes resistências por parte de todo um pesado conjunto de heranças perversas que foram sendo acumuladas ao longo da história. Trata-se de reverter um processo. Para isto é preciso convergência de esforços. E consciência das etapas a conseguir. O fato é que vivemos a oportunidade de desencadear um tempo novo, de convergência política capaz de transformações mais profundas, longamente esperadas.
Não podemos decepcionar a esperança. É o compromisso que decorre destas eleições, tanto para os eleitos como para os eleitores.
O texto foi retirado do boletim da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
*Dom Demétrio Valentini é bispo de Jales (SP).
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