Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Na terça-feira, 19 de novembro, foi lançado o programa Iniciativa Vila Paciência, na comunidade de mesmo nome, localizada em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. Organizado pelo Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), o projeto tem como objetivo capacitar os moradores para que eles mesmos possam transformar sua comunidade por intermédio de ações locais.
A metodologia de trabalho é a Construção Compartilhada de Soluções em Saúde (PSBH, sigla em inglês), elaborada pela Fundação Dreyfus. “Usamos um conceito ampliado de saúde, que consiste não apenas na ausência de doenças, mas também no acesso a direitos e bens sociais”, diz Daniele Bittencourt, assessora de comunicação do Cedaps. Pessoas do local irão desenvolver ações com ênfase no desenvolvimento comunitário e de saúde, além de procurar soluções urbanísticas e de geração de renda.
Essa não é a primeira atividade deste tipo que o Cedaps promove. Desde 2000, existe o Iniciativa Santa Cruz, programa inspirador da novidade. Lá foram desenvolvidos projetos como o Saúde da Família, melhorias em moradias e saneamento, escola de pais (orientação familiar para parentes de crianças em situação de rua), grupo gestor, entre outros. Todos com a participação dos moradores.
Grupo Gestor
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O grupo gestor pode ser considerado o destaque do empreendimento e foi formado por pessoas que trabalham ou habitam em Santa Cruz - bairro que possui 300 mil habitantes e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do Rio de Janeiro (0,558). Dentro do grupo foram eleitos os principais problemas do local e sugeridas formas de solução. A maior parte das ações derivadas dessas sugestões foi bem sucedida. No total, 10 mil pessoas foram beneficiadas direta e indiretamente.
A novidade da metodologia é o fato de os moradores, por intermédio do grupo gestor, agendarem suas prioridades e ações. Hoje, o grupo conta com pessoas de diversas origens, entre líderes comunitários, professores, representantes da Pastoral da Criança e profissionais liberais. Foram eles que decidiram levar o programa para a comunidade de Vila Paciência, também conhecida por Favela do Aço - uma das áreas mais pobres de Santa Cruz, com oito mil pessoas morando em péssimas condições. O local sofre com problemas tradicionais de comunidades cariocas de baixa renda como falta de saneamento, educação e saúde. O desemprego é alto e agravado pela disputa de facções criminosas por pontos de venda de drogas. Os moradores da favela não podem freqüentar tranqüilamente outros locais do bairro dominados pelo grupo rival ao que controla o tráfico em Vila Paciência.
Ações
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As ações da nova iniciativa foram planejadas em três eixos. Um deles, que já começou, é o de mobilização, onde moradores foram capacitados para promover atividades recreativas e educacionais destinadas a crianças e idosos. Até agora já participaram mil crianças. “É importante primeiro se fazer presente para depois envolver a comunidade”, diz Daniel Becker, presidente do Cedaps.
O envolvimento dos moradores também já está sendo feito. Aproximadamente 200 pessoas participam da segunda etapa, o planejamento local. Estão sendo realizados fóruns comunitários com interessados e oficinas de “visão de futuro”, onde os presentes pensam nos recursos existentes em Vila Paciência que poderiam ser utilizados nas atividades - como o trabalho voluntário e dinheiro.
No terceiro eixo de ação da Iniciativa, as atividades estão sendo orientadas com base em um mapeamento e um diagnóstico do local. Foram levantados todos os tipos de informações sobre o local – desde as ruas onde o esgoto corre a céu aberto, até o comércio. Além dos dados quantitativos e geográficos, moradores de 310 domicílios deram opiniões sobre as suas prioridades.
Os problemas foram agrupados em cinco tópicos: educação e saúde; organização comunitária; moradia, saneamento e meio ambiente; atividades culturais e esportivas e geração de renda. Para cada um deles, serão capacitados moradores para levar adiante 40 pequenos projetos que eles mesmos podem desenvolver. A maioria pode ser feita a partir de recursos disponíveis na comunidade, com trabalho voluntário e dinheiro obtido entre as pessoas. Os que demandarem mais investimentos serão bancados pelo Cedaps. “O resultado será uma injeção de auto-estima na comunidade. Isso facilita a formação de lideranças e associações comunitárias que gerem mudanças”, lembra Becker.
Entre os projetos estão um programa de prevenção à Aids e a construção de uma cozinha comunitária. Está sendo negociado com o Senai um curso de formação em construção civil cuja parte prática seria feita na própria Vila Paciência.
Estão envolvidos diretamente no projeto em Vila Paciência, dez integrantes do Cedaps, dez do grupo gestor e aproximadamente cem moradores, apesar de mais de 200 já terem participado das atividades de planejamento do Iniciativa. O custo é baixo - não ultrapassa R$ 120 mil por ano - e os benefícios, grandes. Em breve, o programa de Iniciativas do Cedaps deve chegar a outras comunidades da zona oeste carioca.
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