Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Artigos de opinião
Coordenação Nacional*
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se dirige ao povo brasileiro e ao Presidente Lula para falar sobre a situação de nosso país e da luta pela Reforma Agrária. Estamos movidos pela esperança e pela confiança de que é possível um outro Brasil, onde mulheres, homens, crianças, jovens e idosos tenham todos uma vida digna e feliz.
1. O Brasil sofreu oito anos de um modelo econômico neoliberal implementado pelo governo FHC, que só aumentou o sofrimento do povo e trouxe graves prejuízos para quem vive no meio rural, com o aumento da pobreza, da desigualdade, do êxodo, da falta de trabalho e de terra.
2. O povo brasileiro disse não a este modelo econômico e agrícola. Votou maciçamente nas mudanças e elegeu o Presidente Lula. É uma vitória do povo. E uma derrota das elites e de seu projeto.
3. O MST combateu este modelo e por isso fomos perseguidos e injuriados. Pagamos um alto preço com massacres, prisões, mentiras sistemáticas e o descaso com as famílias sem terra. Nós nos engajamos em todas as campanhas eleitorais, desde 1989, para que houvesse mudança. Agora, nos sentimos orgulhosos e vitoriosos por termos elegido o Presidente Lula.
4. O latifúndio e o modelo neoliberal são a causa da fome, do desemprego, da pobreza, do analfabetismo e da falta de desenvolvimento no meio rural.
5. Temos certeza de que é possível derrotar o latifúndio, pela organização do povo e pela vontade política do novo governo. Para nós, o inimigo é o latifúndio, e o governo Lula vai desempenhar um papel fundamental para democratizar a propriedade da terra no Brasil.
6. Precisamos construir um novo modelo agrícola, que priorize o mercado interno, a produção de alimentos e a distribuição de renda. Para isso é necessário valorizar a agricultura familiar e as cooperativas, viabilizar e descentralizar as agroindústrias. O Estado deve reassumir o seu papel na agricultura e garantir o direito dos agricultores produzirem suas sementes e desenvolverem técnicas adequadas ao meio ambiente e à qualidade dos alimentos.
7. É necessário garantir a educação pública para toda população do meio rural, como forma de conquista da dignidade e do desenvolvimento.
8. Nosso papel como movimento social é continuar organizando os pobres do campo, conscientizando-os de seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Manteremos a necessária autonomia em relação ao Estado, mas contribuiremos em tudo o que for possível com o novo governo, para que haja a tão sonhada reforma agrária.
9. Temos a oportunidade, neste momento, de realizar a tarefa histórica de implementar uma verdadeira reforma agrária, para democratizar o acesso à terra e eliminar a fome, o desemprego e as injustiças sociais.
10. Conclamamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras, à sociedade brasileira em geral, para que se organizem, se mobilizem, e nos ajudem a fazer a reforma agrária. Um Brasil mais justo e igualitário é possível. A hora é esta!
*A Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra elaborou esta carta em Caruaru, agreste pernambucano, em novembro de 2002.
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
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