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Projeto Legal

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Depois de 17 anos atuando no Conselho Tutelar de Curitiba (PR), a assistente social Marli Oliveira se cansou de ver projetos sociais não obterem o sucesso prometido. Recentemente concluiu seu curso de mestrado em serviço social com uma tese sobre dinâmicas familiares e com ela descobriu duas causas do insucesso: a falta de atenção dos programas sociais em relação à família e seus valores e o assistencialismo em que muitos caíam. Seguindo sugestão de sua orientadora, decidiu criar uma organização que fizesse o contrário das iniciativas que estudou e estimulasse a auto-organização popular.


Assim nasceu a idéia da criação da Organização Família Legal, – que em 8 de dezembro será constituída oficialmente. Contando com apoio de familiares e amigos, a organização colocará em prática as idéias de Marli na comunidade do Chapinhal, localizada no bairro de Sítio Cercado, Zona Sul da capital paranaense.


A intenção é resgatar a família a partir de discussões com os moradores de Chapinhal, que possui aproximadamente 560 casas com pessoas em situação de risco social - algumas ocupando irregularmente uma área protegida por lei ambiental, o que gera conflito com a Prefeitura. A novidade da abordagem é a abrangência do conceito de família. “Ela não é mais tradicional. As relações de parentesco já não dão conta de definir a família. Devemos levar em conta toda a comunidade e suas relações pessoais”, explica Marli. A opinião da assistente social é de que quanto mais pobre o núcleo familiar, mais os valores se enfraquecem.


Projeto


O projeto, que tem o mesmo nome da organização e conta com 20 voluntários, pretende fazer campanhas contra o uso de drogas e o abandono familiar e a favor de uma cultura de paz. Para tanto já foi elaborada uma revista, que servirá de apoio ao trabalho. O primeiro número apresenta em linguagem simples valores como a importância do respeito entre os parentes e a manutenção dos vínculos na família. Cada valor é apresentado como um personagem de uma história que será contada aos poucos. As ilustrações foram feitas por um menino de Chapinhal. A publicação mostra ainda a importância da solidariedade e dos movimentos sociais na atualidade e como esses conceitos podem estimular a mudança de comportamento. “É hora de acabar com a lei de Gérson, com essa cultura de se querer levar vantagem em tudo no Brasil”, diz Marli.


Serão feitas reuniões semanais na igreja do local, onde lideranças comunitárias receberão estímulos ao trabalho comunitário e em rede. Haverá três etapas. A primeira irá apresentar o projeto aos moradores e esclarecer como ele será aplicado. A segunda consiste na preparação técnica dos multiplicadores, além de estudos sobre a comunidade. A última será o mapeamento dos recursos disponíveis no local, como mão-de-obra, meios de sobrevivência, entre outros. Uma das formas de melhoria da situação já encontrada foi sugerida por moradores nas reuniões informais já realizadas. É o uso de espaços sub-utilizados como a creche e a escola para realizar eventos e economizar recursos.


“Não queremos assistencialismo. Existem entidades que fazem um belo trabalho nessa área, mas a reestrutração familiar traz melhores resultados a longo prazo. Doações são necessárias, mas só funcionam de verdade se acompanhadas de trabalho social”, afirma Augusto Oliveira, irmão de Marli, colaborador do projeto e responsável pela revista.


Futuro


A Família Legal trabalha também com catadores de lixo de Curitiba. O nome desse projeto é Cidade Legal e dois depósitos de lixo participam. Aproximadamente 120 “carrinheiros”, como são conhecidos os catadores no Paraná, estão sendo preparados para trabalhar em rede, reutilizar o lixo e recebendo noções de higiene e saúde.


É um trabalho de conscientização dos trabalhadores para que passem a usar luvas e melhorem as condições de seus carrinhos e, desta forma, o índice de acidentes diminua. Os organizadores do projeto procuram ainda mostrar aos catadores que eles não devem levar seus filhos para catar lixo, pois isso é muito prejudicial à saúde das crianças, além de valorizar a vida e a profissão dos envolvidos.


“Juntar os dois projetos é nossa intenção, mas essa é uma tarefa bastante difícil. Lutaremos para conscientizar os carrinheiros e fazer coleta seletiva em Chapinhal”, diz Marli. “Queremos ampliar as ações para toda Curitiba e depois para o Brasil”, sonha a fundadora.


Todo o projeto é feito de forma voluntária pelos integrantes – inclusive o pagamento de despesas. A Família Legal ainda não conta com apoio, por isso pede aos interessados em colaborar para entrar em contatos pelos endereços eletrônicos oimarly@msn.com.br ou marlybo@ig.com.br.


Marcelo Medeiros


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