Autor original: Mariana Loiola
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Formado por onze artistas amadores, o Grupo Doutores da Folia está completando este mês cinco anos de trabalho voluntário nos hospitais públicos da Baixada Santista. Os integrantes visitam regularmente as crianças e os adolescentes hospitalizados, para ajudá-los na sua recuperação, através de brincadeiras, apresentações teatrais e bate-papo. Segundo o diretor geral da entidade, Marco Antônio de Jesus - ou Doutor Zé Gotinha - a vontade de levar alegria aos hospitais, surgiu da preocupação com o tratamento dispensado às crianças, que muitas vezes são abandonadas nos hospitais pelos próprios pais ou responsáveis.
Rets - Quem são os Doutores da Folia e o que fazem?Marco Antônio - É um grupo de voluntários formado por onze artistas amadores, que atua junto às alas pediátricas de hospitais públicos da Baixada Santista, mais especialmente junto à Santa Casa de Santos - onde começamos nosso trabalho com o apoio do Dr. Maurício Guedes. Procuramos levar alegria às crianças internadas, que muitas vezes são abandonadas no hospital, apresentando de forma lúdica diversos temas ligados à preservação da saúde e interagindo com pais e equipes médicas, no sentido de integrar esforços para a melhoria das condições de internação e de recuperação das crianças e adolescentes.
Rets - Como começou a história do Grupo? Vocês se basearam em alguma outra experiência?Marco Antônio – Em 1997, conheci a Dra. Jimena, a então advogada da Associação Comunidade de Mãos Dadas, que me apresentou um trabalho semelhante ao dos Doutores, junto a crianças com câncer hospitalizadas. Fiquei fascinado pelo projeto e profundamente identificado com tratamento dispensado às crianças hospitalizadas, pois na infância também passei momentos difíceis internado em um hospital. Vi então a possibilidade de transformar a minha vivência traumática em instrumento de ação humanitária. O Grupo de Voluntários Doutores da Folia surgiu em novembro de 1997, desenvolvido na Santa Casa de Misericórdia de Santos, através da colaboração da Associação Comunidade de Mãos Dadas e do empresário Ronald Luiz Monteiro.
Rets - Quais os efeitos da atuação do grupo sobre a rapidez de melhora das crianças? Vocês já conseguiram analisar isso?
Marco Antônio - Temos observado que em hospitais onde não atuam os "Doutores da Folia" em alas infantis, a evolução dos pacientes relacionada ao aspecto emocional não é tão eficiente quanto em instituições onde há este tipo de terapia, ou seja, as crianças que recebem este atendimento humanizado têm um prognóstico melhor devido à inibição da tristeza causada pela enfermidade e pelo ambiente desconhecido. Com base nessa observação, na Santa Casa de Misericórdia de Santos atuamos todos os finais de semana nas alas pediátricas. O que podemos constatar é que quando não estamos incorporados com nosso personagem e entregamos brinquedos às crianças hospitalizadas, elas não se sentem à vontade e apenas agradecem. Mas quando estamos caracterizados de Doutores da Folia, elas se sentem à vontade. Os resultados são visíveis neste projeto de humanização, cujo lema é "para curar é preciso mais que remédio, é preciso carinho", pois por onde passamos levamos descontração e entretenimento, melhorando o humor e a auto-estima de todos. Cada um com seu jeito de brincar consegue tirar pelo menos um sorriso da criança.
Rets - Conte um pouco sobre quais atividades os Doutores realizam nos hospitais?
Marco Antônio - Em relação às apresentações internas, preparamos e aperfeiçoamos performances de temas gerais ligados à saúde e à internação, utilizando mímica, música, canto, dança, representações teatrais e teatro de marionetes. Além disso, fazemos uma análise de situação – número de crianças, quartos, situações especiais. A partir daí, fazemos as abordagens por quarto e buscamos conquistar a permissão das crianças. Apresentamos o Grupo Doutores da Folia para as crianças e desenvolvemos dinâmicas e brincadeiras incluindo desde a realização de exames com atitudes atrapalhadas (examinar o coração na cabeça, dizer que não esta escutando nada, dentre outras), até dinâmicas envolvendo grupos maiores de pessoas. Também distribuímos bexigas, gibis e outros presentes para as crianças coletados junto a comunidade e enviar correspondências para as crianças após sua volta para casa. Fora dos hospitais, realizamos ainda palestras em empresas, universidades, congressos e seminários.
Rets - O que é preciso para ser um "Doutor da Folia"?Marco Antônio - Participar das atividades do Grupo de Voluntários Doutores da Folia é muito bom, porém é necessário conhecer o método de trabalho do Grupo. Nós adotamos um regulamento para que o trabalho seja sério e eficaz. O voluntário deve certificar-se do seu desejo em ajudar o próximo, crer no valor que está fazendo, ser leal, oferecer sugestões, aceitar as regras e estar sempre disposto a aprender.
Rets - Qual é a sensação de ver uma criança se recuperando e perceber que seu trabalho contribui para a melhora dela?
Marco Antônio - O Grupo atendeu desde sua fundação em 1997 mais de 30.000 crianças e adolescentes, especificamente nas ações junto a hospitais. Como resultado permanente, nas ações internas na Santa Casa de Misericórdia de Santos, o Grupo atende anualmente 480 crianças de 0 a 6 anos e 5.520 adolescentes na faixa dos 7 aos 18 anos. Do ponto de vista qualitativo há depoimentos surpreendentes como o de Jéssica, de 12 anos: "Gostei do hospital. Estou aqui há 76 dias, mas não acho ruim. O pessoal é muito legal. Eu passo o dia andando de cadeira de rodas. Para mim, estou de férias. É como se estivesse em um hotel".
Todos os dias nós acreditamos na importância do nosso papel de humanizar os hospitais públicos. Desta forma renovamos nossa missão que é valorizar a vida, buscando soluções criativas na busca por um mundo melhor. Recentemente fomos homenageados na Câmara Municipal de Santos com a Medalha de Honra ao Mérito Brás Cubas, por serviços prestados voluntariamente à comunidade. Dedicamos esta homenagem que muito nos honra a todos que acreditaram no sonho de um grupo de jovens de levar teatro, a dança, a música, o amor e esperança nos hospitais públicos.
Rets - Vocês recebem colaboração da comunidade? Como as pessoas podem ajudar no trabalho dos Doutores da Folia?
Marco Antônio - A comunidade participa diretamente da atividade. Inicialmente pode-se afirmar que as atividades do Grupo são mantidas com recursos oriundos de pequenas doações e concessões efetuadas por empresas e pessoas. Balões, bolas, gibis e outros milhares de presentes são doados pela comunidade. Há também o envolvimento de crianças no projeto. Uma menina de 11 anos faz origamis coloridos e os envia para distribuição nos hospitais públicos e em campanhas. Nos esforços mais amplos, onde há participação do poder público, com apoio dos meios de comunicação de massa, a comunidade normalmente participa de forma intensa e, muitas vezes, vibrante. O Grupo vem da comunidade e as ações são da e para a comunidade.
Hoje, um grande número de pessoas sabe sobre nossa meta e quer que se torne realidade, mas grandes sonhos levam tempo. Acreditamos que nossa meta prioritária não é apenas a criação de uma sede e de um transporte itinerante para expandir nossos trabalhos aos outros hospitais públicos, mas o compromisso maior de ter um sonho e manter-se nele. As pessoas podem ajudar através de doações ou participar como voluntário, se achar que leva jeito para brincar com crianças. Os interessados em ajudar podem entrar em contato pelos telefones (13) 9772-8947, (13) 9722-4071 e (13) 3299-4117. Mais informações em www.doutoresdafolia.org.br ou através do correio eletrônico contato@doutoresdafolia.org.br.
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