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Verão: divertimento ou preocupação?

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets








Verão significa sol, água fresca, praia, férias, descanso, certo? Não necessariamente. A estação do ano que começa em fins de dezembro traz bons pensamentos, mas também guarda o “privilégio” de ser o momento em que alguns problemas e mazelas acontecem com mais intensidade. Quem não vê notícias sobre enchentes, queda de encostas, poluição do mar, entre outros exemplos, a cada novo verão? Além disso, nos últimos dois anos o Brasil se viu particularmente confrontado com limitações e doenças que pareciam superadas – ou, no mínimo, controladas – há décadas: o cidadão também teve que se preocupar em economizar luz e acabar com todos os pontos de água parada em sua residência.

O mais interessante é que estes problemas ocorrem todos os anos, uns há mais tempo que outros. Porém, mesmo tendo conhecimento sobre eles, os órgãos competentes pouco ou nada fazem para prevenir a reincidência de fatos que poderiam ser evitados. E, nesta ocasião em que o Brasil se encaminha para encarar mais um verão, cabe perguntar: o país está preparado para os problemas que este período traz?

Na maioria das vezes, a resposta é não. A começar pelo item energia. Há dois anos, o Brasil quase ficou no escuro e a população teve que economizar energia agressivamente, para não ter que enfrentar cortes. Portanto, há dois anos os problemas já poderiam ter começado a ser solucionados. Na avaliação do professor Roberto D’Araújo, um dos diretores do Ilumina – ONG que se propõe a estudar e esclarecer para o grande público as particularidades do setor – não foi bem isso o que aconteceu. “As obras emergenciais iniciadas no período mais crítico estão paradas e, para nós que sabemos que uma obra no setor elétrico dura em média três ou quatro anos, isso é preocupante”. A preocupação se dá porque, por enquanto, não existe um risco imediato de falta de energia - pois não só choveu bastante, mas também porque o consumo da população caiu em média de 5% a 7% nas residências. No entanto, se essa situação de bonança não continuar, pode-se ter que enfrentar racionamento já no período de uns dois anos.

Para o professor Roberto, a questão crucial, portanto, não é o que pode acontecer a curto prazo, mas, sim, com o que está sendo feito agora para evitar problemas futuros neste setor. Ele ressalta, no entanto, que o racionamento foi uma maneira dolorosa de ensinar a população a poupar energia e afirma que existem maneiras mais inteligentes para isso. “Não só a produção de máquinas que consumam menos eletricidade, mas também o comprometimento do governo em exigir que isto seja praticado e, claro, o planejamento do setor”.

Tendência da temporada









Um ser pequenino também tem ensinado dolorosamente às pessoas. O mosquito aedes aegypti voltou com toda a força nos dois verões mais recentes, como uma triste “tendência da temporada”. Além de deixar uma parcela da população temporariamente doente, ele deixou larvas e a possibilidade – ou seria probabilidade? - de voltar. “A sociedade é que vai ser responsável pela eliminação dos micro-criadouros de dengue, pois a maior parte está nos domicílios”, afirma Alberto Almeida, um dos coordenadores da campanha “Comigo não tem mosquito”, realizada pela ONG Viva Rio. A iniciativa se engaja desde o ano passado do combate à dengue – ou ao dengue, como preferem alguns – com ações de voluntariado. Este ano, participou do Dia D (mobilização nacional para combater à doença, organizada pelo Ministério da Saúde), em 23 de novembro, realizando ações em bairros do Rio de Janeiro, arregimentando cerca de mil voluntários. Estes foram treinados para orientarem moradores sobre como evitar que o mosquito se reproduza. Panfletagens, palestras, atividades educativas e de conscientização também fizeram parte da programação do Dia D.

Para Alberto, o Brasil não está preparado para enfrentar não só a dengue, mas nenhuma doença epidemiológica. Segundo ele, para combater o problema, “é necessário uma grande parceria entre sociedade civil e governo. Não adianta um ficar reclamando do outro”. O coordenador da campanha diz que a Fundação Nacional de Saúde fez o que pôde, dentro da legislação vigente. “Não se pode esperar rupturas. O mais importante é ressaltar que a população está mobilizada”. Pudera: é ela quem sofre.

As águas de dezembro a março maltratando o verão

Recurso de muitas pessoas para aliviar as altas temperaturas, as águas também preocupam. As da chuva, as do mar e as dos rios. No caso das chuvas, a sua intensidade nos meses entre dezembro e março pode causar desabamento de encostas e enchentes, velhos conhecidos da população. Em áreas de montanhas, como é o caso da região serrana do Rio de Janeiro, os perigos são certos. “As quedas de barreiras são comuns não só por causa do tipo de solo nesta região – o latosolo (barro) – mas ocorrem muito em função do desmatamento e da ocupação irregular de certas áreas”, explica o analista ambiental da APA Petrópolis, Edson Machado. A APA, uma unidade de conservação, tem a função de acompanhar, monitorar e alertar ao poder público e a ONGs sobre problemas e sugerir ações na área do meio-ambiente. Para o analista, o que poderia ter sido feito – visto que o problema não é de hoje e que a cada novo verão os fatos se repetem – é o trabalho em função de prevenir o desmatamento e de encontrar soluções para o problema, grave, da ocupação indevida de encostas.

É da mesma opinião Gustavo Tavares da Silva, coordenador da Unifamp – União Federativa das Associações de Moradores de Petrópolis. A organização realiza projetos constantes na cidade e na região como plantio de mudas – que mobilizou mais de oito mil pessoas no ano passado – e o levantamento de árvores nativas, a fim de reflorestar e de promover a estabilidade dos terrenos. Porém, apesar do trabalho engajado, Gustavo ressalta que é preciso o poder público agir nos pontos em que é requisitado. “Eles até estão fazendo determinadas coisas, mas só agora, quando estamos entrando no período de chuvas. Deveriam ter feito um trabalho de contenção de encostas com mais antecedência”, afirma. Para o coordenador, devido à estrutura do relevo da cidade, às invasões irregulares e à inoperância do poder público, é certo que vão haver enchentes e queda de barreiras não só na cidade, mas em toda a região: “Petrópolis foi um exemplo disto ano passado e pode ser de novo este ano”.

Continua

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