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Inclusão na Academia

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Homem, branco, proveniente da região Sul ou Sudeste e com alto poder aquisitivo. Esse é o perfil das pessoas que têm mais possibilidades de acesso aos cursos de pós-graduação no Brasil, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para inverter esta situação, a Fundação Ford elaborou critérios com enfoque em ação afirmativa para guiarem o seu Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação no Brasil. O objetivo é mudar o perfil de quem faz a pós-graduação no país, contemplando pessoas negras, índias e militantes de movimentos populares e camponeses. As inscrições para a seleção de 2003 já estão abertas.


Através do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação, a Fundação Ford concede anualmente bolsas no Brasil e no exterior, a fim de buscar equidade e justiça social, além de estimular o desenvolvimento de lideranças que atuem nas seguintes áreas: Formação de recursos e desenvolvimento comunitário; Conhecimento, criatividade e liberdade; Paz e justiça social. O Programa existe desde 2000, em 20 países, e tem recursos reservados pela Fundação Ford até 2010. No Brasil, a iniciativa é coordenada pela Fundação Carlos Chagas e teve a primeira seleção em 2002.


Terão prioridade os candidatos com experiência em trabalho ou atividades relacionadas ao desenvolvimento de sua comunidade, grupo social, região ou país; e pertencerem a grupos que, sistematicamente, têm tido acesso restrito ao ensino superior (provenientes das regiões Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, de origem étnico-racial negra ou indígena e os que tiveram poucas oportunidades econômicas ou educacionais). Fúlvia Rosemberg, coordenadora no Brasil do programa, ressalta que esses critérios não são absolutos e que a escolha dependerá do conjunto das qualidades do candidato.


Os bolsistas serão escolhidos por uma Comissão de Seleção (formada por representantes de instituições de várias áreas relacionadas a causas sociais), com base em seu potencial acadêmico e de liderança e compromisso com a resolução de problemas concretos de sua comunidade, grupo social, região ou país.


As bolsas são integrais e têm uma duração máxima de 24 meses para mestrado e de 36 meses para doutorado. Os bolsistas poderão cursar especializações em universidade do Brasil ou do exterior, com base em estudos que visem fortalecer os valores democráticos, reduzir a pobreza e a injustiça, fomentar a cooperação internacional e promover o desenvolvimento humano.


Um outro aspecto positivo é que -  pelo fato de os critéris do Programa privilegiarem pessoas com experiências ligadas a militância, movimentos sociais e trabalhos comunitários - a iniciativa possibilitará que se leve a realidade das ONGs, da militância e das políticas públicas para dentro das universidades. Dessa forma, pode contribuir para ampliar o universo acadêmico.


Além disso, os bolsistas participarão de encontros nacionais e internacionais, para formar redes de informação e trocar experiências. Segundo Fúlvia, esse intercâmbio contribui para o fortalecimento dessas lideranças. "Quando pessoas de diferentes países e histórias de vida se dão conta das injustiças em realidades distintas, elas passam a ter mais condições de contribuir com mudanças sociais".


Este Programa no Brasil pode ser visto também como uma saída para driblar as dificuldades geradas pelos processos desiguais de desenvolvimento das regiões do país, pelo racismo e pela desigualdade socioeconômica que caracterizam a sociedade brasileira, e contribuir, ainda, para pelo menos se tentar formar uma sociedade mais igualitária e justa.


O prazo final para inscrição no Programa Internacional de Bolsas da Fundação Ford é 16 de janeiro de 2003. O caderno de instruções, o formulário para candidatura e o calendário da Seleção Brasil 2003 estão disponíveis na página www.programabolsa.org.br. Mais informações pelo correio eletrônico programabolsa@fcc.org.br.


 


Mariana Loiola

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