Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
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Desde que foi criado o primeiro programa, em 1995, a consolidação daquilo que antes, como disse a Dra. Ruth, era difícil apresentar às pessoas foi se dando com medidas concretas. Hoje, as ações do Comunidade Solidária estão presentes em todos os estados do Brasil, com concentração particular na região nordeste. Entre os números que chamam a atenção estão a soma de 135 mil alfabetizadores formados pela Alfabetização Solidária, as 2.500 ONGs capacitadas nas atividades do programa Capacitação Solidária e os 45 centros de voluntariado criados desde 2000, com impulso do Programa Voluntários. São estes resultados - que ficarão e permanecerão com suas atividades independente de estarem vinculados ou não ao Comunidade Solidária - que os membros do Conselho chama de capital humano e social. “Os programas já têm vida própria, se auto-gerenciam”, afirmou ela na coletiva de imprensa após a reunião final do Conselho da Comunidade Solidária.
O programa Universidade Solidária, o primeiro, já contabiliza 17 mil jovens envolvidos. A idéia era simples: ao mesmo tempo em que a vivência com uma realidade diferente ajudaria a formar os estudantes universitários como futuros profissionais mais conscientes de sua responsabilidade social, auxiliava moradores de localidades com carências, através da atuação destes jovens em projetos sociais. O processo contabiliza até hoje, além do grande número de universitários, 191 instituições de ensino superior, aproximadamente dois mil professores universitários em mil municípios. “Aprendemos com a prática. Por causa das avaliações freqüentes que fazíamos, adquirimos maturidade para tocar um programa que é tão plural e particular ao mesmo tempo. O sucesso se deve muito ao grande poder de articulação com a sociedade e capacidade ímpar de formar novos cidadãos”, avalia a coordenadora nacional da UniSol, Elisabeth Vargas.
Para ela, sem dúvida alguns objetivos ainda precisam ser completados. Apesar de ser sua missão desde o início, o programa só se tornou autônomo no final do governo, quando recebeu o título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. “Isto prejudicou de alguma maneira a relação com eventuais parceiros. E, ao mesmo tempo, de alguma forma pode ter inibido a participação de patrocinadores, dificultando a captação de recursos”, pondera Elisabeth.
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O Alfabetização Solidária, surgido em 1997, é talvez a mais bojuda das ações originadas pelo Comunidade Solidária. Como todas as iniciativas desta natureza, tinha o objetivo de contribuir para o combate ao analfabetismo no país. Contava com a particularidade de abarcar processos pedagógicos diferenciados, de acordo com cada região em que se inserisse e com as características locais – justamente por estabelecer parcerias com organizações locais. As atividades do programa começaram em municípios do interior dos estados - onde o acesso à Educação costuma ser mais difícil. “O projeto piloto levado a 38 municípios das regiões norte e nordeste só se tornou realidade a partir do momento em que o Alfabetização Solidária deu início a um novo tipo de parceria em programas sociais. Passamos a contar com a participação de empresas que investiram em responsabilidade social e de universidades que deram suporte ao trabalho de alfabetização”, explica Regina Esteves, superintendente executiva do programa.
Aos poucos, foi-se assumindo também o desafio de implantar núcleos do programa em grandes centros urbanos. A partir daí foi criada uma rede de parcerias que hoje inclui 100 empresas, 204 universidades, seis estados e diversos cidadãos solidários, pessoas físicas que adotam alunos do Programa e contribuem com a alfabetização. A julgar pelos números exibidos, parece realmente ter caído no gosto das comunidades: três milhões de pessoas alfabetizadas, em dois mil municípios e sete regiões metropolitanas.
“A contribuição do Alfabetização Solidária na redução do analfabetismo no país é reconhecida pelo IBGE. Mas talvez seja importante destacar que além de atender 3,6 milhões de alunos em todo o país o programa teve um retorno importantíssimo no que diz respeito à continuidade dos estudos de alunos egressos do Programa. Os dados preliminares do Censo Escolar 2002 do INEP mostram que em todo o país houve um aumento de 250,75% (em relação a 2000) de matrículas de alunos na Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, ressalta Regina.
O modelo de atuação do Alfabetização Solidária já foi exportado para São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor Leste. Angola, Cabo Verde e Guiné Bissau também se preparam para receber o programa.
O trabalho valorizado: capacitação e estímulo
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Com o objetivo de dar formação apropriada para jovens de baixa escolaridade e renda se inserirem no mercado de trabalho e socialmente surgiu o Capacitação Solidária. O público-alvo são pessoas de 16 a 21 anos. “Além de incluir estes jovens, nossa intenção é buscar que o jovem volte à escola, o que faz aumentar sua auto-estima, a valorização do conhecimentos e das relações interpessoais e que, assim, tenham outro projeto de vida”, explica a coordenadora do programa, Maria Helena Berlinck. Aos alunos participantes são oferecidos uma bolsa-auxílio de R$ 50, alimentação e vale-transporte. Nos seis anos de vida do programa, cerca de 115 mil jovens foram capacitados.
Também é meta do Capacitação Solidária fortalecer a sociedade civil. Por isso, as capacitações para os jovens são feitas em sua maioria através de organizações parceiras, que são as ‘aplicadoras' dos cursos. Elas próprias – no total de mais de 2.300, hoje em dia - também recebem treinamento por parte do programa, que desenvolve linhas de capacitação direcionadas especificamente a elas, que incluem desenvolvimento de roteiros, manuais e softwares, monitoramento tanto pedagógico quanto financeiro etc. “É importantíssima a valorização destes parceiros, pois muito da nossa efetividade depende deles, dos vínculos morais e sociais que eles mantêm com a comunidade em que se inserem”, afirma Maria Helena.
Para ela, o que poderia ser melhorado na atuação do Capacitação Solidária é busca por meios para dar continuidade às atividades com e para os jovens. “Falta aprofundar um pouco mais, ter a noção de que não mudamos a vida da pessoa só nos cinco meses dos cursos. É preciso encontrar modos de nos integrarmos a outras políticas públicas”, reconhece Berlinck.
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Já o programa Artesanato Solidário também nasceu para fomentar habilidades e desenvolver capacidades, porém direcionado a uma atividade antes pouco vista como instrumento de geração de renda e desenvolvimento pessoal e profissional. Ou melhor, se era vista assim, não era com o método e com a organização que o ArteSol procurou imprimir aos artesãos participantes do programa. Sua atuação prioritária se dá no agreste nordestino. A atividade no início era profilática e emergencial. Com a percepção de que apostar no capital cultural do artesanato popular gera renda investiu-se no projeto, que ganhou formas mais concretas incentivando a formação de capital de giro, o gerenciamento associativo da produção e o fortalecimento das relações com o mercado em 66 localidades de 13 estados.
”Costumo dizer que tecemos. Imagine um carretel. O fio é o apoio dos patrocinadores e nós, responsáveis pela coordenação dos programas, fazemos o movimento to tear, vamos tecendo parcerias, ações”, compara Helena Sampaio, coordenadora do ArteSol. Nada mais adequado vindo de alguém que encabeça justamente um programa de artesanato. Para ela, a iniciativa não realiza, promove. Reconhece que as sociedades locais só precisam de impulso para se desenvolverem. “Tudo o que precisam já está com eles”, diz. Ela exemplifica citando a Central ArteSol, criada em setembro de 2002, para facilitar a comercialização dos produtos elaborados pelos participantes do programa. Para Helena, em pouco mais de dois meses, a julgar pelos resultados favoráveis que têm obtido com a central, fica claro que existia espaço para o mercado de artesanato tradicional, o que faltava era este estímulo, “principalmente, tirando a figura do atravessador".
O Programa Voluntários, com nome auto-explicativo, nasceu em 1996 com a missão de estimular o voluntariado no país, contribuindo para mudar a imagem de assistencialismo até então bastante associada à prática e, principalmente, articulando e organizando as ações voluntárias. Para isso, a estratégia principal foi a criação de Centros de Voluntários nas cidades brasileiras. Passados seis anos, hoje são 45 núcleos. A função é promover e apoiar o voluntariado nas suas áreas de atuação. “Alguns estão se replicando: em determinadas capitais, estão criando uma série de filhotes no interior. Eu digo que, com os centros, estamos fortalecendo a infra-estrutura do voluntariado, pois eles acumulam conhecimentos, cadastram instituições, formam voluntários”, diz Miguel Darcy, coordenador do Programa Voluntários.
O programa também investiu na produção de conhecimentos e metodologias de ação visando à melhoria da qualidade e eficiência das ações voluntárias. Ou seja, seminários e publicações desempenharam a função de difundir os aspectos inerentes à prática. Outra atuação do programa tem sido, além de estimular o trabalho voluntário entre as pessoas, impulsionar também o setor privado a adotarem isto em suas instituições.
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A Rede Jovem, uma das mais recentes iniciativas concebidas pela Comunidade Solidária, nasceu para estimular o protagonismo juvenil e garantir o direito de todo cidadão e cidadã jovem de ter acesso à informação e à comunicação. “O acesso à Internet deve ser encarado como um direito assim como o acesso a um telefone público. Nos Espaços Jovens, além de exercer esse direito, a juventude tem possibilidade de mostrar e desenvolver potencialidades dispondo do aparato tecnológico para fazer isso”, explica a coordenadora da Rede Jovem, Renata Affonso.
Os Espaços Jovens são os locais onde a Rede se articula. São 18 em uma dúzia de municípios. Os Espaços se caracterizam por serem locais em que os jovens - entre 15 a 24 anos - têm acesso às novas tecnologias de informação e comunicação e a oportunidade de se expressarem e produzirem conteúdo próprio, publicando-o na Internet. Além disso, no site da iniciativa, qualquer jovem pode contribuir e publicar suas notícias, shows, projetos etc.
A implantação de novos Espaços se dá em parceria com organizações locais. Por mês, passam pelos locais cerca de 21.600 pessoas. “São as ONGs e associações que melhor conhecem a realidade com a qual lidam no dia-a-dia. São elas que nos indicam que uma atividade considerada ótima em determinado lugar não necessariamente terá o mesmo impacto ou precisará ser adaptada para outra realidade. O conhecimento do potencial existente na juventude daquela região, daquela comunidade é que fazem a parceria da Rede Jovem com estas instituições funcionar e alavanca os Espaços Jovens”, analisa Renata Affonso. Por outro lado, a Rede Jovem leva para as organizações parceiras novos conceitos e ferramentas, fazendo acompanhamento diário. “Mostramos a importância de alcançar resultados, de compartilhar soluções e elas nos mostram as dificuldades do dia-a-dia. É um mutirão, como numa construção, muito interessante”, afirma a coordenadora.
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