Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Criadas há três anos, as Escolas Pantaneiras, implementadas na área rural do município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, já começam a mostrar resultados. O nome não se deve apenas à localização, mas também ao currículo diferenciado, que valoriza a natureza, a integração da população com o meio ambiente e ainda ajuda a prevenir o êxodo rural. A iniciativa, recentemente premiada pela Fundação Getúlio Vargas, é fruto da união da prefeitura local, ONGs, escolas e moradores.
Existem hoje dez núcleos da escola, que é municipal. Cada um deles fica em uma fazenda da cidade, onde moram 40 mil pessoas em 17 mil km2. São 305 crianças matriculadas em turmas da primeira à sexta série do ensino médio. Devido às cheias da região, alguns núcleos funcionam em regime de internato ou semi-internato, pois algumas áreas ficam intransitáveis antes, durante e depois da época de chuvas – que geralmente ocorre de novembro a março - ou são muito distantes das casas dos alunos.
Cada fazenda, entretanto, tem seu próprio currículo e calendário escolar. Apesar de ficarem na mesma cidade, elas apresentam realidades diferentes, dada a complexidade do ecossistema pantaneiro. Em algumas, é mais explorado o trabalho com gado; em outras, a fauna típica da região.
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As disciplinas são a grande estrela das escolas. Além da grade curricular básica, comum a todas as escolas, há aulas práticas e teóricas sobre a cultura local. Os professores foram capacitados pelo WWF-Brasil em parceria com a Secretaria de Educação de Aquidauana para conseguirem mostrar a realidade local e se tornaram multiplicadores. Novos livros didáticos foram produzidos pelo Instituto Ecoar com mais informações sobre o Pantanal. Neles, os exemplos levam em conta as características da região, valorizam e contextualizam a cultura local. “Os livros antigos eram bons, mas traziam a realidade externa, do sudeste, da Europa e até da África. O Pantanal era pouco citado”, diz Eduardo Mongeli, biólogo do WWF que coordena as aulas práticas nas escolas.
Com novo material, o interesse das crianças cresceu, mas faltava a parte prática. Peões das fazendas foram treinados para dar aulas, assim como os professores tiveram que aprender a lidar com animais e a cultura local, bastante ligada à pecuária. Os empregados das fazendas, muitos deles pais de alunos, ajudam a mostrar como cortar couro, fazer laço e cabresto. Além disso, são ensinadas formas de fazer queijo, lingüiças, manusear ossos e chifres de gado e também cozinhar de acordo com a culinária local.
O começo
A idéia de fazer escolas diferenciadas surgiu dos próprios moradores da área rural do município. A distância das fazendas fazia as crianças terem que ir para a área urbana e ficarem afastadas da família durante longos períodos. Em alguns casos, as mães iam junto, mas não estabeleciam vínculos com a nova moradia, pois voltavam após alguns períodos. Ou seja, os moradores não se fixavam nem na parte urbana nem no campo.
Os peões começaram a reivindicar escolas mais próximas e um proprietário, o cantor Almir Sater, solicitou à prefeitura a instalação de uma unidade próxima à sua fazenda. O pedido foi atendido e em 2000 o primeiro núcleo foi inaugurado na propriedade de Sater. Em seguida se deu o trabalho de convencimento de outros fazendeiros para que cedessem alguma construção para que fossem transformadas em escolas.
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Alguns gostaram da idéia e emprestaram galpões ou ampliaram salas de aula antes usadas para cursos de alfabetização. Por outro lado, houve quem desconfiasse da qualidade e validade das aulas por causa do tempo utilizado fora de sala. As reticências logo foram superadas e hoje as escolas servem como atração extra nas fazendas - que possuem pousada, recebendo turistas curiosos sobre essa nova forma de aprendizado. Os alunos também começam a vislumbrar empregos nas fazendas, como o de guia turístico, ao invés de desejarem ir para as cidades e aumentarem o êxodo rural.
Custo
As escolas não são baratas – custam até 40% a mais do que as tradicionais. A maior despesa se deve à alimentação e à baixa relação aluno-professor. Mas o investimento, feito em conjunto pelo WWF-Brasil e Prefeitura, mostra que vale a pena, quando se observa que a evasão escolar, antes muito alta, hoje está zerada. A procura está cada vez maior e três pedidos de criação de novas unidades já estão sendo analisados. Em 2003 haverá turmas de sétima série e em 2004, de oitava – série na qual termina a obrigação da prefeitura.
As inovações não param aí. Uma coordenação especial para as escolas pantaneiras na Secretaria de Educação está em estudo, assim como a melhoria das instalações e implementação de computadores nas salas. “Não queremos uma manutenção do status quo, mas transformações na realidade das crianças, que devem se sentir mais valorizadas”, diz Cláudio Valério, secretário de educação de Aquidauana.
A valorização veio em forma de prêmio. No dia 6 de dezembro de 2002, o projeto “Escolas Pantaneiras” foi escolhido pelas fundações Getúlio Vargas e Ford como uma das cinco melhores de gestão pública e cidadania no Brasil. O prêmio rendeu R$ 20 mil, mas o dinheiro foi o que menos importou. “Ficamos felizes não pelo lado financeiro, mas pela divulgação e reconhecimento do projeto. Além disso, representamos o Centro-oeste, pouco privilegiado, e preparamos alunos para serem cidadãos e conscientes da importância do meio ambiente em que vivem”, comemora Catarina Bernardes Pereira, diretora de uma das escolas.
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