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Benjamin sem máscara

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original:

Ronilson da Silva Procópio*

Às vezes penso que o mundo é injusto, pois sempre tentamos mostrar o lado bom das coisas e camuflar o ruim. Afinal tudo que é bom tem um preço.

Muitas pessoas se encantam com a beleza do Amazonas, onde a minha cidade, Benjamin Constant, está localizada. Também é só o que interessa mostrar. Claro, faz sentido. Quem iria se interessar em mostrar o sofrimento do povo caboclo ribeirinho? Seria apenas mais um capítulo triste do nosso Brasil. Mas, se pensarmos sempre em esconder esta realidade, a miséria continuará, e quando isso se tornar um só sofrimento, talvez possamos parar para pensar para que serve nossa inteligência, se não soubermos utilizá-la.

Essa triste cena se repete no Amazonas e principalmente aqui em Benjamin Constant. Com a chegada do inverno, o majestoso rio Amazonas e seus afluentes transbordam. Então começa todo o sofrimento dos ribeirinhos benjaminenses do Amazonas, pois suas terras ficam todas inundadas, perdendo suas casas, seus bens, suas plantações e, quando eles têm aonde ir, abandonam suas palafitas, mas não podem ou às vezes não querem deixar suas moradias, aumentando ainda mais o sofrimento, pois muitos constroem pisos nas casas conforme as águas vão subindo, mostrando uma cena de sofrimento, ficando como ilha deserta, rodeada pelas águas do majestoso rio.

Infelizmente os dirigentes muitas vezes ficam de braços cruzados, assistindo a esta cena de terror, sem fornecer abrigo ou madeira para os alagados, sem fazer campanhas de conscientização de higiene e saúde.

Nessa época fica quase impossível de se viver, os peixes ficam raros, a caça é impossível, os alimentos somem e fica difícil para quem só conhecesse esse meio de vida. Muitas crianças morrem afogadas, aumenta o número de doenças ocasionadas pelo lixo que as águas vão levando dos quintais e sanitários.

Mas a parte mais revoltante dessa história é que depois de o povo passar todo tipo de sofrimento, pessoas que não fizeram nada para ajudar aparecem no final, dizendo ter feito projetos para ajudá-los. Coitado do povo sofredor, que canta pra não chorar. O caso é que para o Amazonas se tornar um paraíso está muito longe.

Muitos falam que Benjamin é um lugar bom de se viver; na verdade, todo lugar é bom de se viver para quem tem dinheiro. Essa verdade se reflete no rosto sofrido dos trabalhadores que com suor aos poucos construíram esta cidade, que esquece seu passado sofrido, e olha para essas pessoas como se elas fossem inúteis, sendo, muitas vezes, julgadas pela sua situação sócio-econômica. Então me pergunto, que futuro nós, filhos desse trabalhadores, esperamos? Pois somos julgados pelos que nós temos e não por sermos pessoas inteligentes.

Todos querem um futuro digno e justo. Afinal ninguém nasce bandido, nem mesmo professor ou até juiz, é tudo uma questão de oportunidade. Até mesmo porque hoje em dia o nosso futuro não depende grande parte de nós, mas sim da boa vontade do próximo.


*Ronilson da Silva Procópio tem 16 anos e é estudante da 5ª série, na cidade de Benjamim Constant, Amazonas. O texto foi o grande vencedor da primeira edição do Prêmio Escrevendo o Futuro, da Fundação Itaú Social.





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