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Preservativos na Hora H

Autor original: Julio Cesar Brazil

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Duas décadas depois do primeiro caso comprovado de Aids no Brasil, a proliferação da doença impulsionou no país a prática do sexo seguro, onde o uso de preservativo pelo homem é fundamental tanto para a sua saúde quanto a da sua parceira. Apesar da grande divulgação através dos meios de comunicação, muitos jovens não utilizam a famosa "camisinha" durante suas relações. Com a intenção de estimular a utilização do preservativo entre os homens jovens de baixa renda, a ONG Instituto Promundo, em parceria com a SSL International e com a John Snow Consultoria, lançou no último dia 12 de dezembro, o preservativo Hora H - que inicialmente será vendido na comunidade de Vila Aliança, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.


A novidade surgiu dentro do projeto Jovem para Jovem (que, com o lançamento da camisinha, muda de nome e também recebe o nome de Hora H) desenvolvido pelo Promundo desde 1999 na localidade de Vila Aliança. Foram os próprios jovens participantes da iniciativa - cerca de dez, hoje em dia - que escolheram o nome, o visual, a bula e a embalagem cheia de grafismos do novo produto. A média de idade dos rapazes fica entre 17 e 23 anos.


O processo de criação do preservativo passou por uma pesquisa realizada em comunidades carentes de Bangu. O estudo revelou que um dos principais motivos para não usar a camisinha é a dificuldade em encontrá-la: cerca de 25% dos entrevistados afirmaram não levarem camisinhas consigo e normalmente não encontravam pontos de venda do produto à noite, nas saídas dos bailes etc. Em Vila Aliança, além da distribuição gratuita no posto de sáude, só duas farmácias comercializavam o produto antes do lançamento da Hora H. Por isso, o preservativo será vendido em bares, locais próximos a bailes funk, padarias, lojas abertas até mais tarde, postos de gasolina, mercearias, quiosques e, claro, farmácias.


Promover o uso do preservativo é um dos pilares do projeto Hora H, que também pretende implementar ações de saúde junto aos homens jovens e promover a eqüidade de gênero. Os meninos participantes da iniciativa, além de receberem orientação sobre hábitos sexuais, também atuam como agentes multiplicadores, repassando as informações que recebem para os seus amigos e a sua parceira. "Dois anos atrás eles eram os beneficiários. Agora são agentes de mudanças na comunidade", disse Dario. O projeto contava com 17 pessoas no seu começo e atualmente dez participam das duas reuniões semanais, realizado com os moradores das comunidades da Vila Aliança e da Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte da cidade.


O estudante Norberto Silva dos Santos, de 19 anos, morador da Favela Nova Holanda, é um dos exemplos destes agentes multiplicadores. Ele entrou para o então projeto Jovem para Jovem, após assistir na comunidade onde reside a uma palestra feita pelo diretor executivo do Instituto Promundo, Gary Barker. Isto ocorreu há três anos. Norberto diz que não gostava de usar preservativo em suas relações sexuais, mas que agora este pensamento mudou. "Certa vez não usei o preservativo com uma antiga namorada e só me tranqüilizei após a minha parceira naquela ocasião realizar um exame de gravidez e eu ter feito testes para detecção de doenças sexualmente transmissíveis (DST)". Segundo ele, ficou chateado consigo mesmo devido ao fato de trabalhar com a divulgação da necessidade da utilização de preservativos durante as relações sexuais e ter agido de forma oposta às suas palavras.



Monitoramento e divulgação


Para divulgar a novidade, os pontos de venda do preservativo terão cartazes sobre o Hora H e serão realizadas palestras e oficinas em  escolas públicas. além disso, a rádio comunitária do local veiculará informações sobre o preservativo e soretará camisetas, adesivos e bonés. Inicialmente serão vendidas 30 mil unidades da Hora H. Em dezembro, janeiro, fevereiro e março, os responsáveis pelo projeto farão um monitoramento mensal da evolução do produto e da conduta de prevenção das pessoas. Isto será feito através da medição das vendas do produto e pela distribuição realizada nos postos de saúde - que pode aumentar em virtude da mudança dos hábitos da população.


Segundo Dario Cordova, um dos pontos fundamentais para continuar com a venda dos preservativos a preços subsidiados é contar com a colaboração dos comerciantes locais. "É crucial mostrar aos comerciantes a sua participação para a comercialização das camisinhas. Eles lucram menos economicamente, mas obtêm o lucro social por estarem envolvidos neste projeto". No futuro a expectativa é que os próprios jovens toquem o o projeto. "Nós estimulamos os jovens serem os gestores das próprias iniciativas, para buscarem financiamentos para tocar novos projetos que ajudem a difundir o uso de camisinha e os hábitos de saúde sexual", afirma o coordenador.


Julio Cesar Brazil. Colaborou Maria Eduarda Mattar.


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