Autor original: Mariana Loiola
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O movimento das rádios comunitárias se prepara para intensificar, a partir deste ano, a luta pela liberdade de expressão e o direito à comunicação. É o que promete a campanha nacional "Libertem nossos presos", promovida pela Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), que reivindica a devolução dos equipamentos de rádios comunitárias apreendidos pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e Polícia Federal. Atualmente, a campanha conta com a participação de representantes de 12 estados brasileiros - todos eles envolvidos com a luta pela democratização dos meios de comunicação.
A idéia e as propostas da campanha nasceram durante as atividades dos grupos de trabalho do "Seminário Nacional de Legislação e Direito à Comunicação: Regulamentando a Comunicação Social Eletrônica", organizado pela Amarc em novembro de 2002, em Brasília. Segundo Taís Ladeira, representante nacional da Amarc no Brasil, os participantes do evento se mostraram apreensivos em relação à realidade atual da radiodifusão comunitária no Brasil e apresentaram a campanha como uma das soluções para resolver alguns dos problemas nessa área.
Taís afirma que, nos últimos oito anos, marcados pela repressão, formou-se um cenário nada democrático: transmissores lacrados, equipamentos apreendidos, pedidos de concessão engavetados no Ministério das Comunicações e pessoas processadas por exercício ilegal de atividades de radiodifusão, mas que, na verdade, estavam exercendo simplesmente a liberdade de expressão.
O primeiro passo da campanha é chamar a atenção da sociedade, através de uma ampla divulgação em rádios e TVs comunitárias de todo o país e páginas eletrônicas. Cartazes da campanha serão distribuídos para envolver entidades, sindicatos, universidades, escolas, igrejas, associações de moradores e todos os interessados que se sentirem prejudicados com o fechamento de rádios comunitárias.
Realizada em parceria com a Rádio Muda (Campinas), Rádio Magnífica (da Universidade Federal de Goiás), TV Viva (Olinda) e TV Comunitária do DF, a campanha tem como principal proposta a construção de um dossiê sobre a situação das rádios comunitárias, em cada estado do país. O dossiê deverá conter um levantamento dos números de rádios fechadas pela Polícia Federal, pessoas processadas, equipamentos apreendidos e rádios que pediram autorização de concessão e ainda não tiveram resposta do Ministério das Comunicações. "Atualmente só existem números do Ministério e da Anatel. É importante fazermos um levantamento a partir da nossa própria referência, o mais próximo possível da realidade", diz Taís.
Um segundo encontro reunirá os participantes da campanha "Libertem nossos presos" durante a oficina da Rádio Muda que discutirá radiodifusão, novas tecnologias e políticas para a comunicação, no III Fórum Social Mundial, nos dias 23, 24 e 25 de janeiro, em Porto Alegre (RS). Segundo Taís, a duração da campanha dependerá da dinâmica das pessoas e entidades participantes. Por isso, é importante que, já para esta oficina, as pessoas levem informações sobre a situação nos seus estados. A ocasião servirá para fazer um diagnóstico das situações das rádios comunitárias nesses primeiros dias de mandato do novo Ministério das Comunicações, formar uma coordenação nacional da campanha, definir um calendário oficial, avaliar os recursos disponíveis e escolher coletivamente um dia simbólico para reivindicar o deslacramento dos transmissores, a fim de que as emissoras fechadas voltem a funcionar. Qualquer pessoa interessada – mesmo os que não participaram do Seminário – pode aderir à campanha e participar da oficina.
Taís afirma que, até agora, não se viu nenhuma manifestação do novo Ministério das Comunicações em relação às rádios comunitárias, mas que não se pode ficar parado esperando. "Com esta campanha, queremos criar um fato concreto, para então dialogar com o governo. Não queremos negociar e, sim, reivindicar um direito nosso."
Quem quiser participar da campanha, pode entrar em contato pelo correio eletrônico amarc_brasil@hotmail.com. Informações sobre a oficina da Rádio Muda no III Fórum Social Mundial podem ser obtidas pelo correio eletrônico juliol@osite.com.br ou radiomuda@lists.riseup.net.
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