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Gestores Sociais Comunitários

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Perceber prioridades de comunidades cariocas e ajudar líderes comunitários a elaborarem e realizarem projetos. Assim pode ser definida a missão do Projeto Gestores Sociais Comunitários, parceria do Programa Raízes Comunitárias, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, do Instituto Gênesis da PUC-Rio, do Ceris e do Centro Loyola de Fé e Cultura. Com quase um ano de vida, o projeto já viu 13 iniciativas começarem a funcionar e, assim, gerarem renda, educação, cultura e habitação em todas as zonas da cidade do Rio de Janeiro, privilegiando em sua maioria a reciclagem do lixo.


Em janeiro e fevereiro de 2002 foram capacitadas 47 pessoas, divididas em duplas e um trio, de diversas comunidades. Esses pequenos grupos faziam parte de um maior em suas comunidades de origem. A função deles era repassar os aprendizados do curso. As aulas eram divididas em três módulos: caracterização, ferramentas e plano de ação de gestão comunitária. A primeira consistia no mapeamento das necessidades de cada localidade, feito a partir de pesquisas com moradores. Estabelecidas as prioridades, era hora de planejar como realizá-las. Foram discutidas, então, na segunda etapa, formas de acionar possíveis parceiros como governos, ONGs e empresas. Os alunos aprenderam a consolidar sua proposta, elaborar um plano de marketing e de ação – a terceira etapa. Delineada a maneira de agir, era discutida a gestão do projeto, obrigatoriamente comunitária.


Cada grupo de alunos sugeriu uma ação. Entre eles estão um projeto de habitação em Ipiiba - bairro de São Gonçalo, município da zona metropolitana do Rio - e um pré-vestibular comunitário em Ricardo de Albuquerque, zona norte carioca. Em São Gonçalo, o problema era como construir as casas de uma proposta já aprovada. A solução foi fazer reuniões com os interessados e conseguir formar um mutirão. No curso pré-vestibular, o espaço para as aulas já existia, mas faltava uma metodologia de ensino, buscada em outros projetos. “Quando não há um modelo pronto, ele é construído em conjunto”, diz Odenílson Argolo, coordenador do Gestores Sociais Comunitários.


Mas a grande surpresa foi o número de iniciativas envolvendo a reciclagem do lixo. De alguma forma, todos incluíram a questão em seus planos. “Mesmo os que não apresentaram projetos nesta área, levantaram a problemática e as potencialidades de se trabalhar com lixo”, ressalta Débora Foletto, do Instituto Gênesis, da PUC-Rio. “É um problema gritante no Rio, onde muitas pessoas trabalham informalmente com isso em péssimas condições”, diz Argolo.


O primeiro projeto a engrenar não fugiu dessa regra. A Cooperativa de Jovens Empreendedores, além de fazer estampas de camisas, produzir eventos e dar aulas de informática, construiu uma mini-usina de reciclagem em Cascadura, zona norte do Rio. A partir desta semana, latas de alumínio passarão a ser transformadas em lingotes de alumínio (pequenas barras do material), aumentando assim o valor final do produto. Até agora, ela esteve em fase de testes e ajuste do equipamento, mas no final de novembro de 2002 já foi apresentado o primeiro lingote.


A previsão é que sejam produzidos diariamente entre 150 e 200 quilos de alumínio no galpão de 12 metros quadrados da mini-usina. As máquinas foram feitas pelos próprios cooperativados, de acordo com os conhecimentos adquiridos no curso. “Ganhamos visão empresarial e técnica. Daí tivemos a iniciativa”, diz Miéle Ribeiro, presidente da cooperativa. A produção deve ser alimentada pelas latas recolhidas por uma cooperativa de catadores que fez acordo com os Jovens Empreendedores.


A idéia agora é construir uma grande cooperativa carioca, a se chamar Rede de Reciclagem e Industrialização do Lixo. Ela será administrada por outra cooperativa fundada após os cursos de janeiro e fevereiro – a Raízes Comunitárias.


Assim como em todos os outros projetos, o andamento da usina da Jovens Empreendedores é acompanhado por cinco técnicos do projeto 0Gestores Sociais Comunitários. A cada dois meses acontece o Fórum de Gestores, onde as experiências são trocadas. De acordo com a demanda, os técnicos prestam assistência ao projeto. Em quase um ano de funcionamento, os Gestores Sociais Comunitários já implementaram 13 projetos no Rio. Outros dez estão ainda procurando o envolvimento com a comunidade, mas devem começar a funcionar ainda no começo de 2003.



 


Marcelo Medeiros

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